Por alguns anos eu trabalhei como corretora de imóveis. É minha profissão do coração… com ela vivenciei muitas famílias realizarem o sonho da casa própria.
Muitas vezes fui a intermediadora disso e criei laços com clientes que se tornaram amigos. Sempre fui ligada no espaço que acolhe pessoas e que denominamos “casa”.
Lembro-me com muita dor no coração e até uma certa angústia de um lindo dia de sol, quando uma mulher entrou no meu escritório para colocar sua casa em fase de acabamento à venda. Ela me acompanhou durante a avaliação do imóvel, tudo novinho, lindo, era o sonho de uma vida toda, mas eles não puderam usufruir de nada, porque aquela casa tinha se tornado somente uma casa.
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O lar daquele casal sofreu a perda do marido e a única saída que ela tinha era vender o imóvel dos sonhos.
Depois desse dia lembro-me quase que diariamente do olhar triste daquela mulher. A casa, como objetivo, não existia mais, havia sido vendida, mas o lar não.
O lar é subjetivo, o lar é o lugar onde há harmonia, onde as pessoas vivem e se sentem bem. Essa memória nunca ninguém tirará da família.
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É claro que fica a lembrança carinhosa do lugar, mas lembramos com saudades do que fazíamos lá. A casa daquela família foi vendida, mas a memória do que eles viveram não, e isso ninguém rouba de nós.
O lar é a alma da casa, é o lugar do aconchego, onde posso chegar, tirar todas as minhas máscaras que carregam a posição e o rótulo. É o refúgio, é o colo que precisamos nas horas difíceis.
É onde posso tirar minhas sandálias, jogar meu casaco, esticar a perna, abrir um vinho e falar da aventura do dia, sem julgamentos, sem preconceitos. É o lugar do amor, da reciprocidade, é onde posso chorar a vontade porque tenho amparo, é o lugar onde todos torcem para que eu seja a pessoa mais feliz do mundo.
Esse sentimento, essa lembrança, é eterna. Podemos morrer que sempre teremos um lugar no lar.
A casa passa, fica velha, vence a pintura, descasca a parede, quebra o cano, enquanto o lar é eterno. Pode até sofrer uns terremotos, mas ele permanece para sempre, porque ele é subjetivo. A casa passa, mas a sua alma nunca.
Uma casa é somente uma construção de quatro paredes, um lar é o sentimento, o coração, a pulsação.
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Então não importa a estrutura. Muitas famílias moram em casebres e testemunham o verdadeiro sentido do lar, enquanto outras moram em palácios vazios, sem alma, sem colo e sem aconchego.
Não importa onde você vive, o que fica gravado eternamente no coração, é como você vive.
(Autora: Tati Godoy)
(Fonte: tatigodoy.com.br)
*Texto publicado com a autorização da autora
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