Não nos conhecemos mais.
Ele não sabe do meu novo sabor de bala de mascar favorito e eu não sei se ele ainda frequenta academia todos os dias. Ele não sabe que ganhei promoção no trabalho e eu não sei se ele se conseguiu comprar um carro. Ele não sabe que adotei um cachorro e eu não sei se ele mudou de casa. Ele não sabe que eu fiz a viagem dos sonhos e eu não sei qual o novo corte de cabelo dele.
A melhor parte de não saber de nada é, literalmente, não saber. Aprendi o conceito de “unilateral” enquanto estávamos juntos e aprendi o significado de “reciprocidade” quando terminamos.
Eu continuo indo dormir tarde e acordando cedo, não sei se ele ainda compra cerveja toda quarta-feira. Eu fiz novos amigos, não sei se ele fez as pazes com o pai dele. Eu fiz duas tatuagens e não sei se ele cumpriu a missão de ler um livro por mês.
Eu não precisei chorar tudo o que eu chorei, ele não mereceu todo o meu silêncio. E apesar do peso do relacionamento a dois nas costas, eu teria dito que sim, se ele quisesse tentar mais. Acontece que quando o laço vira nó, ou a gente ajuda a apertar mais ou a gente corta.
A vida é um amontoado de consequências das nossas escolhas e não saber de nada é o atalho mais fácil ao desapego. Eu escolhi não saber. Não procurar. Não questionar. Não me culpar. Escolhi voar, como um balão que procura seu destino a céu aberto.
E se eu o encontrasse na rua, não o cumprimentaria também. É loucura não cumprimentar quem já conviveu com você por anos, mas que você não conhece mais?
Não precisava ser assim… que bom que é.
(Imagem: christian koch)