Desde o início da vida, somos dependentes de alguém que nos cuide, nos alimente, nos proteja, papel exercido na maioria das vezes pela mãe ou por alguém que cumpra tal função. Esse momento materno é fundamental para a constituição do sujeito, que necessita dessa transmissão de afetos.
Inicialmente, a criança torna-se objeto de desejo da mãe, aquilo que, em certo sentido, a completa. A mãe passa a traduzir afetos e emoções vividos pelo bebê, ou seja, torna-se uma espécie de mediadora entre ele e o mundo externo. Com o tempo, o bebê percebe que não é mais o único objeto de desejo da mãe. A mãe passa a direcionar seus desejos a outras pessoas ou atividades além do bebê, permitindo que a criança possa adquirir independência e fazer suas próprias escolhas. Tal processo de separação e desvinculação com o cuidador é sempre doloroso, mas extremamente necessário.
É essa ideia de completude que nos instiga a buscar um companheiro, um amigo, enfim. Desejamos atenção, carinho e reconhecimento do outro. Assim, podemos reconhecer a dependência como inerente ao ser humano. Nos momentos de fragilidade, de conflitos, é natural que muitos voltem à fase inicial da necessidade de amparo.
O quadro torna-se patológico quando passa ser exagerado, causando sofrimento. Para esse sujeito, sua felicidade e bem estar só serão possíveis a partir do outro. Dependem integralmente da existência e cuidados alheios para que possam lidar com suas próprias questões. Muitos confundem e justificam atitudes e comportamentos de dependência emocional alegando ser amor. Na verdade, essa é uma forma de aceitar e lidar melhor com algo que está ultrapassando os limites do saudável.
É muito delicado falarmos de dependência emocional se levarmos em consideração certos padrões culturais que trazemos enraizados desde que nascemos. Somos instigados a nos relacionar, a fazer amizades, encontrar um parceiro e constituir uma família; acabamos então tendo como meta ter alguém ao nosso lado para sermos felizes.
É fato que precisamos do outro, mas até que ponto o precisar se transforma em necessitar, em condição primordial para nossa felicidade? O dependente emocional apresenta um padrão constante de necessidades emocionais insatisfeitas, que se manifestam através de relações de monopólio, tratando o outro como sua posse, seu objeto.
É uma relação de tanto desequilíbrio que se metaforiza com a dependência de um usuário de droga, que transpõe e aniquila o outro por absoluto. Infelizmente, tais relações atingem graus tão expressivos que acabam sendo trágicas.
Quem pensa que esse amor fatal só está nos versos poéticos ou em novelas, em filmes ou em obras shakesperianas engana-se. É bom ficar atento, pois uma pessoa com dependência emocional e afetiva quer ter à sua disposição, continuamente, a outra pessoa como se estivesse aprisionado a ela. Terá crises de ciúmes paranoicas, solicitará que seu parceiro renuncie a sua vida privada para que possam ter mais tempo juntos e se colocará numa posição de que a atenção recebida nunca é suficiente.
Esta pessoa precisa de ajuda! Ela precisa ser ouvida por um profissional, precisa estar no divã divagando sobre seus fantasmas e seus temores para que possa descobrir novas formas de encarar a vida, com mais autonomia e confiança em si mesmo.
(Autores: Raquel Gomes da Silva e Roberta Santos Gondim)
(Fonte: rgpsicanalise)
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