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Demônio em fuga: A conclusão

Esse foi o texto mais demorado da minha vida. Protelado. Aquilo que deveria ter sido o grande final, não foi. Não há final. Não enquanto eu lutar.

No meu último texto, que francamente ficou horrível, eu estava sob o domínio da mania. Eu desdenhei e não fui humilde em relação a doença. Além disso, quis dar a impressão de vitória, talvez uma ideia de esperança. Não estou aqui para tirar toda fé. Pelo contrário, quero que você entenda, a simples frase que já citei acima e que citarei no final.

Tive dois longos anos desde a última vez que comecei a escrever meus relatos. Escrevi algo vergonhoso que não foi digno de ser publicado e mesmo assim foi.

Veja mais textos de Pablo Murad: Demônio em Fuga

Tive novos psiquiatras, novos diagnósticos e novas descobertas.

Minha vida saltou, deu pulos altos e mergulhos profundos e contraditórios. Bem, eu desisti de encontrar uma maneira de sair desse labirinto que a genética e a filosofia me colocaram. O que eu poderia dizer é que devemos resistir.

Hoje não tenho mais tantas crises como antes, levo uma vida saudável e aprendi muito com a doença. Aprendi a evitar gatilhos como álcool, emoções, impulsos e desespero.

Vivo normalmente, sou um paciente que em breve farei eletroconvulsoterapia e que desconhece o que virá depois e espero realmente que eu possa relatar toda a experiência de forma verídica e sincera.

Hoje vivo apenas como o Escitalopram que é um antidepressivo mais fraco e o Aripiprazol, que é um excelente estabilizador de humor. Não bebo mais, mas ainda fumo muito – isso me ajuda a controlar a ansiedade.

Não tenho a vida que gostaria de ter e provavelmente nunca a terei. A depressão é um demônio em fuga, que devemos policiar sem questionar. Mantenho-me longe de tudo que seja estressor e qualquer ambiente que possa engatilhar uma crise. E sugiro que você, meu leitor, faça o mesmo.

O que me salvou? Como consegui lidar com isso? Como aprendi a viver com isso?

Bem, aceitando a doença.

E aprendendo com ela. Aprendi que endorfina é um dos bens mais preciosos que nosso corpo pode produzir através de exercícios aeróbicos e por isso sugiro a todos pacientes depressivos que façam uma forcinha, mesmo que seja praticamente impossível sair da cama… Saia!

Vá dar uma corrida, caminhe 15 minutos e prossiga até que isso se torne horas de caminhada. Seu corpo irá agradecer muito.

Eu sou muito grato por tudo, sou grato pelo tempo que tenho vivido atualmente, mesmo com nossa medicina psiquiátrica estando tão longe de solucionar problemas, talvez eu tenha nascido 50 anos antes de poder ver algum progresso significativo para nossa doença química e filosófica ao passo que sou grato por não ter nascido 50 anos atrás, onde os tratamentos eram brutais e desleais.

Faça exercícios, nossos medicamentos atuais são cheios de efeitos colaterais e o mais temido deles é engordar e possivelmente você irá passar por isso ou no último caso emagrecer demais.

Mas faça-o.

Os benefícios são incalculáveis. A endorfina liberada fará você se sentir pelo menos 80% melhor, falo por experiência própria.

Quando comecei a praticar exercícios era uma lamúria, sair de casa parecia um tormento, mas depois de mais ou menos 3 dias eu estava me encaixando e me sentia bem melhor com minha aparência e comigo mesmo.

Não desista de você. Hoje vivo bem e você também poderá viver, não se deixe aprisionar pelo ciclo vicioso da indústria farmacêutica, faça algo por você mesmo. Resista. Lute. E lute com mais força.

Há uma saída para tudo. Pratico hoje muay thai, jiu jitsu, defesa pessoal e academia convencional. Viciei-me em mim mesmo e acredite, nada melhor que isso, nada melhor do que começar a sentir um amor incondicional por si mesmo.

Não se prenda.

Não seja devorado.

E acredite, todo meu relato foi verídico e minha luta continuará. Na depressão não há cura, apenas remissão e lembro todos que temos problemas de serotonina, noradrenalina e endorfina, precisaremos sempre de acompanhamento e tratamento, seja ele exótico como a eletroconvulsoterapia ou não.

Aceite bem sua doença e a trate com o devido respeito. Lembre-se que você é doente como qualquer outra pessoa – como um diabético que tomará insulina para o resto da vida -, você terá que se medicar e procurar ajuda de profissionais para terapia. Não há outra forma. Ou se há outras formas, ainda não as descobri. Sei que daríamos tudo para sermos normais, mas lembre-se de seus atributos que foram dados só a você e a mais ninguém. Você é capaz de resistir a coisas que ninguém imagina que exista. Você luta contra fantasmas que ninguém vê. Sente dores que ninguém pode curar.

E vê o mundo com magnifica beleza – digna de um escritor ultrarromântico -, quando melhora. O mundo é sua tela, seu livro, sua arte. Você é mais sensível que os demais e nem por isso, isto lhe torna mais fraco, lhe torna um sobrevivente, um ser forte capaz de suportar pesos que nenhum outro suportaria.

Acredite na remissão. Acredite em si mesmo.

Sei que demorei para completar essa saga e não terminei ainda. Em um dia claro e menos confuso eu volto para contar sobre meus novos tratamentos, minhas novas experiências. Vocês terão mais notícias.

Aqui me despeço de todos e obrigado por terem acompanhado minha trajetória dolorida.

Abraços

Pablo Murad

Colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Pablo Murad
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