Eu desaprendo algo todos os dias. Assim, pouco a pouco, desaprendo, sabendo menos do que sei e do que sabia. E sem me impor ao que conheço e venho continuamente a conhecer, desaprendo pela contradição.
Eu desaprendo porque me confronto comigo e perco, porque me lanço ao fracasso e ganho; desaprendo pelo cansaço do enredo e pela liberdade a que me permito enredar-me. Eu desaprendo por desistir, ou no instante em que a vida insiste em convocar-me ao acerto e eu, insistentemente, erro.
Eu desaprendo porque desamparo, porque desapego, sem qualquer esforço ou investimento para desaprender, como se apenas nunca ouvisse falar, como se nunca soubesse, como se jamais conhecesse: rostos, lugares, livros e o amor que cotidianamente esqueço.
O que me sobra é a atual e inédita sabedoria dos ventos. O alívio das memórias que se misturam e de mim se perdem e se despedem. Eu reuni uma multidão de mim exatamente para isso, mas, não que eu tenha planejado.
Trata-se de uma perda inevitável em que me diluo. Somei todos os territórios e máscaras e cicatrizes para abandoná-los. Colecionei nomes e cidades e histórias para dissolvê-los.
Eu desaprendo para tombar-me no mistério que em mim habita e perceber que sou eu que habito meu próprio mistério. E é nesta alternância entre uma e outra onde vivo e mal percebo.
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