Talvez você conheça uma criança desse jeito: ela escolhe o que comer, o destino das férias, o programa de tv, o horário para dormir, o programa do final de semana e assim por diante. Ameaçadora, assalta psicologicamente seus pais e demonstra pouca capacidade de se colocar no lugar do outro, sentir compaixão ou culpa. É aquela criança que transforma em lei seus caprichos e ai de quem não a obedeça! As conseqüências são agressões e birras ameaçadoras.
O fenômeno é chamado de “Síndrome do Imperador”, uma referência ao tipo de relacionamento entre a criança e os encarregados de sua educação. É um padrão de interação onde as crianças aprendem a controlar o adulto, fazendo o obedecer e cumprir as suas exigências. São crianças egocêntricas, com baixa tolerância à frustração, e que não parecem ter aprendido (ou estar aprendendo) a se auto-regular e controlar suas emoções.
Enquanto alguns podem apontar causas genéticas para e “personalidade dominante”, muitos pesquisadores concordam que a explicação mais contundente para este tipo de comportamento está na família e na sociedade. Trocando em miúdos: falta disponibilidade para educar e estabelecer normas e limites. A culpa por não ter tempo suficiente para criar os próprios filhos gera nos pais uma tendência de ceder em tudo. Ser consistente na educação dos filhos não é tarefa fácil. Muitas vezes é mais fácil ceder do que se manter firme sobre o que foi combinado, sobre o que é certo e razoável.
Alguns pais até temem exercer autoridade. Foram criados com muita rigidez, e querem agora, com seus próprios filhos, construir uma relação de “camaradagem”. Mas exercer esta autoridade de pai e mãe, dar limites, estabelecer as regras da casa, não é a mesma coisa que ser autoritário. As crianças precisam de regras, elas lhes dão segurança.
Pais inseguros ensinam seus filhos, erradamente, que todos os limites são negociáveis. E assim as crianças com esta síndrome “negociam” tendo acessos de raiva, partindo para a agressão física ou usando de arma mais pesada ainda: chantageiam insinuando que seus pais não são bons o suficiente e que por isso vão deixar de amá-los. O problema se extende até às salas de aula, quando professores se veem sozinhos na tarefa de educar e são até repreendidos quando tentam colocar limites nos pequenos “donos do mundo”.
A sociedade por sua vez, legitima valores hedonistas, como se fosse possível fazermos tudo o que queremos sem assumir obrigações no caminho. Como se a vida fosse apenas prazer e diversão. Como se não fosse preciso contrair nenhum tipo de responsabilidade ou fazer esforço algum para obter conquistas e privilégios.
Psicólogos e pedagogos são unânimes: é fundamental investir em uma boa base. Para formar crianças, adolescentes e finalmente adultos equilibrados, é preciso começar cedo, na primeira infância. Pode parecer difícil agora, mas será muito mais difícil no futuro. É preciso investir tempo para dar amor e para estabelecer hábitos afetivos. E preciso colocar limites, permitir que os filhos experimentem pequenas frustrações para que eles aprendam a suportá-las, ensiná-los a se comprometer e a se esforçar pelas suas metas.
Educar não é fácil, mas os investimentos realizados nesta fase, serão, com toda certeza, colhidos no futuro.
Este texto é uma adaptação livre do texto “Hijos Mandones – Síndrome del Emperador” feita pelo blog Tudo sobre a minha mãe.
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