Comportamento

Crianças enraivecidas, irritadas, ressentidas, mostram rancor e ideias de vingança. Conheça o TDO

 

1. O que é Transtorno Desafiador Opositivo?

O transtorno desafiador opositivo é definido como um padrão persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e desobedientes observados nas interações sociais da criança com adultos e figuras de autoridade, como pais, tios, avós e professores.

2. Quais as características do TDO?

As principais características do transtorno desafiador opositivo são perda freqüente da paciência, discussões com adultos, desafio, recusa a obedecer solicitações ou regras, comportamento opositivo, indisciplina, perturbação e implicância com as pessoas, podendo responsabilizá-las por seus erros. Ele se aborrece com facilidade e comumente se apresenta enraivecido, irritado, ressentido, mostrando-se com rancor e com ideias de vingança.

Leia mais: Diferença entre transtorno e problema psicológico

3. Quais os sintomas?

Os sintomas aparecem em vários ambientes, entretanto é na sala de aula e em casa onde estes podem ser mais bem observados. Tais sintomas devem causar prejuízo significativo na vida social, acadêmica e ocupacional da criança ou adolescente, e é importante observar que no transtorno desafiador opositivo ainda não há sérias violações de normas sociais ou direitas alheias, como ocorre no transtorno de conduta.

4. Qual a faixa etária em que é possível diagnosticar o TDO?

Estudos internacionais identificam esse diagnóstico em 2 a 16% das crianças em idade escolar, geralmente o transtorno tem seu início por volta dos seis anos de idade, sendo mais prevalente entre os meninos do que em meninas.

5. Quais os sintomas?

Com frequência essas crianças apresentam baixa autoestima, fraca tolerância às frustrações, humor deprimido, ataques de raiva e possuem poucos amigos, pois são rejeitados pelos colegas, devido a seus comportamentos impulsivos, opositores e de desafio às regras sociais do grupo.

6. Qual o comportamento da criança com TDO na escola?

• Discute com professores e colegas.
• Recusa-se a trabalhar em grupo.
• Não aceita ordens.
• Não realiza deveres escolares.
• Manipulador.
• Não aceita crítica.
• Desafia a autoridade de professores e coordenadores.
• Deseja tudo ao seu modo.
• É o “pavio curto” ou o “esquentado” da turma.
• Perturba outros alunos.
• Responsabiliza os outros por seu comportamento hostil.

O desempenho escolar pode estar comprometido e reprovações escolares são frequentes. Esses jovens não participam de atividades em grupo, recusam-se a pedir ou a aceitar ajuda dos professores e querem sempre solucionar seus problemas sozinhos.

7. Quais são as causas?

As principais hipóteses para o surgimento do transtorno desafiador opositivo estão relacionadas com uma origem multifatorial, envolvendo componentes biológicos e ambientais. Quando falo em componentes biológicos, estou me referindo à uma possível herança genética, características herdadas pela criança que podem predispor à essa condição comportamental, como temperamento impulsivo, baixo limiar de frustração, irritabilidade e disfunções em neurotransmissores serotoninérgicos e dopaminérgicos.

Leia mais: A dinâmica familiar

Os possíveis componentes ambientais envolvidos no diagnóstico do transtorno desafiador opositivo estão relacionados com métodos de criação parental, comportamento criminoso, alcoolismo e uso de drogas pelos pais ou responsáveis, negligência, falta de afeto e suporte emocional à criança. Além disso, alterações e complicações no desenvolvimento da criança, como prematuridade, complicações da gravidez e de parto podem participar como fatores de risco para o transtorno.

Quanto à questão dos padrões familiares de criação, dois estilos parentais se destacam e podem estar relacionados com o problema. Comumente observo crianças com este diagnóstico vivendo em lares onde os pais são permissivos e não dão limite aos filhos.

Veja um exemplo onde a criança exerce controle sobre as figuras de autoridade em casa: a mãe solicita ao filho que arrume seu quarto. Neste momento o filho tem um ataque de raiva, chorando, gritando e negando-se a arrumá-lo. Assim, mãe é coagida a retirar a solicitação de arrumar o quarto e, nesse momento, ela está reforçando esse comportamento desafiador do filho. Toda vez que ela fizer uma nova solicitação que o desagrade, este realizará o comportamento desafiador e de oposição, que será sempre reforçado toda vez que a mãe se desautorizar. Desta forma a conseqüência é um efeito “bola de neve” e a tendência natural é o agravamento e piora dos sintomas a cada dia.

Leia mais: Familiares tóxicos: transtornos que podem causar

Em contrapartida, também observo lares opressores e de normas demasiadamente rígidas. Nesse caso, a crianças convive diariamente com a violência, agressividade, hostilidade e brigas dos pais, por exemplo. Essa criança pode assumir o comportamento dos pais como “normal” e levar essa conduta aprendida para o ambiente escolar. Ora, dentro de casa ela aprende que tudo deve ser resolvido “no grito”, com violência e agressividade. Assim, tentará resolver seus problemas de forma impulsiva, fazendo uso da força física, se opondo à regras e desafiando a autoridade de professores e demais funcionários da escola, por exemplo.

8. O TDO pode vir acompanhado de outro tipo de transtorno?

A criança pode apresentar comorbidades (outros transtornos comportamentais associados), sendo os mais prevalentes o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, os transtornos de aprendizagem, os transtornos do humor e os transtornos ansiosos.

Quando não tratado o Transtorno Desafiador Opositivo pode evoluir para o transtorno de conduta, fato que ocorre em até 75% dos casos de crianças com o diagnóstico inicial. Diante desse fato, diversos autores consideram o transtorno desafiador opositivo como um antecedente evolutivo do transtorno de conduta.

Leia mais: A autoestima das pessoas com TDAH

9. O que fazer?

Uma vez que a origem do problema é multifatorial, uma série de estratégias deve ser utilizada para se obter o sucesso terapêutico e a redução dos sintomas comportamentais.

Alguns medicamentos apresentam resultados promissores no manejo dos principais sintomas, como agressividade, impulsividade, ataques de raiva e baixo limiar de frustração. Os neurolépticos atípicos como a risperidona e a quetiapina podem ser utilizados em baixas doses. Muito importante informar que os medicamentos não são curativos, eles objetivam reduzir sintomas para facilitar o trabalho dos pais e educadores na aplicação de técnicas e estratégias comportamentais de manejo do transtorno desafiador opositivo.

Devido à alta prevalência de transtornos comportamentais associados deve ser realizada uma avaliação médica criteriosa, e esses transtornos devem ser concomitantemente tratados, se encontrados. Estudos comprovam que crianças com diagnóstico de transtorno desafiador opositivo associado ao transtorno de déficit de atenção/hiperatividade respondem positivamente ao tratamento medicamentoso com o estimulante metilfenidato.

A utilização de técnicas cognitivo-comportamentais ajudam na criação de estratégias para a solução de problemas e diminuem o negativismo observado nesses estudantes. O treinamento de habilidades sociais também é utilizado para melhorar flexibilidade, aumentar o limiar de tolerância à frustração e estimular a socialização e a empatia nesses pacientes. Métodos de reforço positivo, como a utilização de elogios, estratégias de “economia de fichas” e o uso de contratos de comportamento podem auxiliar na organização de rotinas e criação de limites essenciais para a melhoria, adaptação e adequação social dessas crianças.

O aconselhamento e treinamento de pais e professores acerca do manejo dos sintomas de desafio e oposição em casa e no ambiente escolar são de extrema importância para o sucesso do tratamento. Essa orientação aos pais funciona como um mecanismo para ensiná-los a desencorajar comportamentos desafiadores no filho e encorajar comportamentos adequados, ajudando na melhoria da relação pais-filhos e na diminuição dos sintomas do transtorno.

A terapia familiar também pode ser associada em situações especiais quando o ambiente doméstico está comprometido. Nesses casos o acompanhamento familiar objetiva melhorar a comunicação e interação entre os membros da família, ajudar na resolução de conflitos conjugais e familiares que comumente estão presentes. Essa relação familiar positiva facilita o diálogo, tornando mais fácil o manejo de comportamentos inapropriados e pode ajudar a criança a controlar suas próprias emoções.

Leia mais:Dificuldades de comunicação – a família disfuncional

O estímulo à prática esportiva pode ser muito importante para fortalecer a auto-estima da criança, estimular sua socialização e interação positiva com outras crianças. Esportes coletivos e esportes de luta como judô, caratê e capoeira poderem ensinar conceitos importantes à criança como disciplina, respeito às regras, hierarquia, trabalho em equipe e controle emocional.

Devo dizer que o transtorno desafiador opositivo pode ter uma evolução muito positiva com o tratamento, entretanto depende da participação, engajamento e motivação dos pais na mudança de seus hábitos e comportamentos, estabelecimento de regras, limites e conduta assertiva. Muitas vezes a dificuldade dos pais na aceitação das intervenções e das estratégias comportamentais ensinadas inviabiliza o sucesso terapêutico.

10. Você poderia dar algumas dicas aos pais?

• Dedique um tempo ao seu filho diariamente.
• Converse com ele e realize atividades esportivas ou de lazer.
• Estimule a prática de esportes coletivos.
• Explique claramente regras e instruções.
• Explique sobre as possíveis conseqüências em caso de indisciplina.
• Utilize técnicas comportamentais de manejo de sintomas opositivos e desafiadores.
• Proponha acordos e privilégios em caso de atitudes assertivas.
• Elogie atitudes positivas.
• Evite punições físicas (bater na criança reforçará comportamentos agressivos).
• Retire privilégios em casos de mau comportamento.
• Comunique-se com professores e coordenadores sempre que necessário.
• Realize passeios para promover a integração familiar.

Respostas dadas por Dr. Gustavo Teixeira, médico especialista em psiquiatria da infância e da adolescência e autor de vários livros sobre Transtorno Desafiador Opositivo (TDO)

(Fonte: transtornos.org)

Fãs da Psicanálise

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  • Olá! Por conta do nome do blog, acreditei que se falaria do tratamento na abordagem psicanalítica.
    Realmente só é possível dentro da abordagem TCC?

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