Procuramos uma análise quando descobrimos que desejamos mais qualidade de vida. E quando uso a expressão qualidade de vida, não me refiro aos clichês divulgados pelo discurso dominante. Eu me refiro à possibilidade de ter uma vida mais significativa, mais feliz, dentro da singularidade de cada um.
Quando iniciamos um processo analítico, a tendência é jogarmos a culpa de nossas tristezas em cima de diversas pessoas, principalmente dos pais e dos parceiros amorosos.
Não quero dizer que os pais não cometam muitos erros nem que parceiros amorosos não provocam muito sofrimento em nossa vida. Porém, independente de tudo o que nos acontece e de tudo que nos aconteceu, é importante perceber o nosso papel protagonista em nossa vida.
Diante de uma ofensa, de uma ironia, de uma negligência afetiva, temos a possibilidade de nos identificarmos com a posição de vítima e temos também a possibilidade de criarmos algo de interessante com aquela perda, com aquela rejeição ou sofrimento.
Se a falta de afeto do nosso primeiro amor, do parceiro atual ou até mesmo dos pais deixa rombos homéricos em nossa existência, há a possibilidade de reelaborarmos este vazio no sentido de construir no futuro relações mais felizes.
A nossa tendência é repetir padrões, é buscar um modelo de relacionamento que nos é familiar, mesmo que seja muito infeliz. Inconscientemente, escolhemos reviver o que nos foi mais doloroso. Pessoas que foram pouco amadas na infância ou que não foram amadas da forma que elas desejaram, tendem a entrar em relações fadadas ao fracasso.
Durante a análise, começamos a perceber esta repetição, esta escolha inconsciente pelo erro, pelo sofrimento, por aquilo que não dará certo apesar de nossos esforços conscientes. Começamos a perceber também que nossos pais são humanos, portanto, falhos, limitados, traumatizados pelos erros dos seus pais também.
Não digo que seja simples e indolor aceitar os pais como pessoas que erram nem quebrar círculos viciosos. Mas é possível. Não é porque alguém foi pouco amado como filho que não poderá amar muito como pai ou como mãe. Não é porque alguém viveu uma série de relações amorosas medíocres que não poderá construir um relacionamento cheio de afeto e cumplicidade.
Quebrar padrões é tarefa extremamente árdua. Exige um esforço homérico, um desejo real de fazer mudar. Mas com certeza, vale muito a pena.