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Coronavírus: por que o pânico e a corrida às compras são outro risco da epidemia

O cenário incerto diante do avanço do novo coronavírus, com 692 casos investigados e 14 confirmados em Minas, leva a uma corrida de consumidores a supermercados de cidades como Belo Horizonte.

A identificação dos primeiros pacientes com exames positivos em BH – cinco, segundo o boletim mais recente, que indica também contágio sem relação com viagens ou com pessoas que tenham viajado –, e as primeiras mortes no Brasil, em São Paulo, elevam a possibilidade de adoção de medidas como quarentena e isolamento de áreas, além do já aconselhado distanciamento social.

A preocupação quanto a um eventual desabastecimento mobiliza a população, já abala estoques e se reflete em alta de preços e sumiço de produtos específicos. Entidades do setor supermercadista asseguram que não há ameaça de escassez, a não ser localizada, provocada exatamente pela alta na demanda. E especialistas em saúde mental alertam para os riscos do pânico, representado pelo chamado “efeito manada”. Mas a mudança nos padrões de procura é nítida.

Em dois dias, a equipe do Estado de Minas esteve em estabelecimentos das regiões Centro-Sul e Oeste da capital mineira. O que se observa nesses lugares indica pessoas apreensivas com o que vem pela frente. A escassez do álcool em gel nas prateleiras é o primeiro sinal do desespero, mas não o único. E se a intenção é de se prevenir, o efeito acaba sendo o contrário: o desejo de estocar produtos leva ao desparecimento deles nas gôndolas. Diante de prateleiras vazias, os belo-horizontinos têm um motivo a mais para se preocupar com o avanço da pandemia.

Além do álcool em gel, consumidores vêm comprando grandes quantidades de produtos alimentícios, de higiene pessoal e de limpeza, muito além do habitual. A bibliotecária Rosana Matias de Souza, de 60 anos, está no grupo de risco e, por isso, foi ao supermercado fazer reserva de papel higiênico. Comprou três fardos, cada um com quatro rolos. “Para mim, que moro sozinha, é muito, mas é uma prevenção”, disse. Ela sabe que o que tem sido aconselhado é para que se fique em casa, então, pretende reduzir as idas aos supermercados e, por isso, fez o pequeno estoque do produto.

Na noite de segunda-feira, carrinhos abarrotados, principalmente de alimentos e produtos de limpeza, se enfileiravam em um supermercado de classe média alta no Bairro Serra, na Região Centro-Sul. “Estou fazendo compras para mim e para minha mãe. Ela tem 75 anos e queria sair para fazer as compras hoje. Falei: ‘Não, mãe, você fica em casa, porque está no grupo de risco. Eu faço as compras e levo para você.’ É uma compra para duas casas. Não quero que ela saia”, disse a arquiteta Adriana Paiva, de 49, que estava na fila com um carrinho lotado de mantimentos e itens de higiene.

Na visita a esse supermercado de alto padrão, foi possível perceber que alguns produtos estão disponíveis em menor quantidade. Apesar do ritmo acelerado dos repositores, itens como papel higiênico, sabão em pó, carne, amaciante de roupas, macarrão, açúcar e farinha começavam a se tornar mais raros nas prateleiras.

Em um supermercado do Bairro Prado, na Região Oeste, havia muitas filas nos caixas na manhã de ontem, com consumidores com carrinhos abarrotados e estacionamentos lotados. Compradores reclamaram que já faltavam marcas de arroz e feijão mais tradicionais.

‘Querem álcool’

Em um estabelecimento do Centro, em pouco mais de duas horas, em que houve reposição de álcool geral, foram vendidos 1,4 mil frascos do produto em gel. Às 10h, as prateleiras estavam vazias. Muita gente encheu carrinhos, enquanto outras pessoas não conseguiram comprar sequer um frasco.

A informação de que o produto foi reposto na unidade fez com que muitos consumidores se dirigissem ao supermercado. No entanto, muita gente já encontrou as gôndolas vazias. O desespero fez com que muitas pessoas levassem álcool líquido a 46%, produto que não é considerado eficiente no combate aos germes. “Não é indicado, mas as pessoas chegam em busca de álcool. Querem álcool de todo jeito”, relata o gerente de um supermercado da Avenida Paraná, Júlio César Viana Mendes

Muita gente percorreu verdadeira via-sacra em busca de álcool em gel, mas a ansiedade só aumentava com as gôndolas vazias e a resposta: “Acabou”. Foi o que ocorreu com Elizabeth Maria de Carvalho Rocha, de 70, que foi a vários estabelecimentos, mas saiu de mãos abanando. “Tenho idade de alto risco. Soube que tinha chegado o álcool em gel no supermercado, mas foi um alvoroço. As pessoas enchiam os carrinhos com 30, 40 garrafinhas. Agora, o supermercado informou que vai limitar”, disse.

Venda limitada

De fato, a disputa pelos frascos e o comportamento de quem quer estocar o produto levaram à definição de medidas de controle do consumo. O gerente Júlio César informou que em sua loja foi limitada a venda a cinco frascos de álcool em gel para cada consumidor. Outro fator que aumentou a procura é o preço do produto no supermercado: um recipiente de 500ml custava R$ 5,49, enquanto, em uma das grandes redes de farmácias da capital, a mesma quantidade era vendida a R$ 33. Thiago Rogério, também gerente de supermercado, informou que o produto chega e, em pouco tempo, desaparece das prateleiras. “Em BH, não existe mais. Pedimos mais e está para chegar”, disse.

O aposentado José Oliveira Ferreira, de 74, estava indignado com os preços abusivos. “Os supermercados e as redes de farmácia deveriam vender o álcool em gel a preço de custo”, disse. Ele pondera que, neste momento de pandemia, seria uma atitude que daria boa reputação aos estabelecimentos. “Já estou cansado. Fui a vários supermercados e nada de encontrar. Não vou andar mais, não vai adiantar”, conformava-se.

Em meio à confusão dos consumidores em um supermercado do Centro de BH, chamava a atenção a indignação de Hillary Moreira Bessa, de 7, que acompanhava a mãe, Eva Moreira de Souza, de 33. Apesar da pouca idade, a menina deu lição aos adultos, dizendo que o espírito coletivo deveria vigorar em momentos de crise. Quando o produto foi reposto, ela se assustou com o fato de alguns consumidores avançarem nas prateleiras e sair com carrinhos abarrotados dos produtos, enquanto muitos não conseguiram comprar nem um frasco sequer.

Associação garante estoques normais

Em nota divulgada no início da semana, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que representa o setor, com 27 associações estaduais, informou que monitora as lojas do país e que não identificou problemas de desabastecimento, mas sim de reposição, devido ao maior número de clientes em alguns estabelecimentos. Segundo a entidade, o setor opera com normalidade e “não há risco de falta de alimentos”. “Portanto, a população não precisa se preocupar. Os supermercados estão preparados, inclusive, para aumentar o abastecimento, caso necessário, como já acontece em datas sazonais”, acrescentou a Abras.

A médica psiquiatra e psicanalista Marília Brandão Lemos de Morais Kallas, integrante da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), reconhece que há pessoas paranoicas antes mesmo da fase crítica da doença causada pelo novo coronavírus. Há quem esteja estocando álcool em gel, máscaras, material de limpeza, mantimentos, sem se preocupar com a situação do outro, que também vai necessitar. “O termo pânico é derivado de uma figura mitológica chamada Pã, uma criatura horrível que aparecia repentinamente para as pessoas e as assustava. O pânico significa exatamente isso: um medo irracional que sentimos diante de uma ameaça que não conhecemos e nos pega de surpresa”, afirma.

Ela lembra que a sociedade está lidando com um vírus desconhecido, com alto poder de contágio e que começa a se aproximar. Mas crê que informação e avanços científicos serão antídotos para o pânico. “À medida que os novos conhecimentos científicos estão sendo desenvolvidos em relação ao coronavírus, sua genética, forma de atuar, as características da curva epidêmica, a prevenção como uma das formas de retardar sua progressão, vamos conseguindo reduzir nossa ignorância em relação à doença. O pânico diminui com a informação correta.”

Ainda nas primeiras horas do dia, um cenário atípico em Divinópolis, cidade da Região Centro-Oeste de Minas, onde foi confirmado o primeiro caso de contágio pelo coronavírus no estado. Os caixas dos supermercados já estavam cheios de filas e algumas prateleiras vazias. A epidemia do coronavírus e o decreto de emergência da saúde pública provocaram um corre-corre de consumidores, na expectativa de garantir o abastecimento.

Na seção de limpeza, o item mais procurado era papel higiênico. Consequentemente, a prateleira era a mais vazia. O aposentado Antônio José, de 72 anos, foi um dos que se levantaram cedo para fazer compras. Integrantedo grupo de risco para a COVID-19, formado por pessoas acima de 60 anos, ele disse que adota medidas de proteção, mas não quer ficar refém do medo. “Daqui a pouco a gente nem sai de casa”, afirmou.

No carrinho dele, fardos de papel higiênico, arroz, macarrão e produtos de limpeza compunham a lista, enquanto ele aguardava na fila para compra de carne. As compras, afirma, seriam suficientes para um mês. “Não quero estocar nada, para não acabar e ficar ruim para todo mundo. Vim garantir o básico, que já estava faltando em casa”, justificou ele, que vive com a esposa e dois filhos.

A auxiliar administrativa Denise Ferreira, de 53, também foi cedo a um supermercado no Bairro Bom Pastor, região onde mora. Com máscara de proteção, afirmou que está tomando cuidados básicos para evitar a proliferação do vírus. “Não faço parte do grupo de risco, mas não podemos pensar apenas na gente. Os hospitais não têm condições de atender se a situação piorar”, opinou. Denise optou por um carrinho menor. Disse que compraria apenas o necessário. “Se todo mundo resolver estocar, vamos ficar sem nada”, destacou.

Sem risco

O presidente do Sindicato dos Comércios Varejistas de Divinópolis, Gilson Amaral, afirmou que o risco de desabastecimento na cidade é “quase zero”. “A cadeia produtiva e os fornecedores estão atendendo normalmente. Se houver desabastecimento, talvez seja porque pessoas antecipando compras façam com que faltem produtos”, alertou. A suspensão de shows, eventos e a redução do movimento de bares e restaurantes, segundo o presidente da entidade, vai influenciar positivamente nos estoques das lojas.

Fonte: em.com.br

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