O coronavírus está chegando até você.
Gradualmente, então, de repente.
É uma questão de dias. Semanas, no máximo.
Hospitais ao seu redor ficarão sobrecarregados.
Muitos de seus compatriotas podem ter de ser tratados em corredores.
Equipes médicas trabalharão até a exaustão. Alguns padecerão.
Terão de decidir entre quem recebe oxigênio (ou remédios) e quem morre.
A única maneira de prevenir esse cenário é o distanciamento social. Não amanhã. Hoje.
Isso significa manter as pessoas em casa, tanto quanto possível. Desde já.
Essa epidemia é um grande teste para os governantes. Fechar o país ontem por 2–3 semanas… ou daqui a um mês, por 6–10 semanas?
Todo mundo vai pegar o vírus. Você já deve ter percebido. Atores e atrizes famosas. Deputados e ministros. Colegas do escritório. Parentes, e você.
Por sorte, a essa altura, já temos exemplos práticos do que precisa ser feito para conter as piores consequências, do ponto de vista da saúde. No que tange a economia, o prognóstico não é tão claro.
Essa incerteza se traduz em volatilidade nas bolsas. Vôos comerciais internacionais ficarão vazios por 3 meses… ou por 9 meses? Um dia papeis de Azul e Gol sobem 15%, no outro, despencam -30%.
Nessa pandemia, poucos morrerão (se agirmos direito). Muitos falirão.
Já tivemos recessões antes. Também já tivemos pandemias de vírus novos. Mas quando foi a última vez que as duas coisas aconteceram juntas?
Este não é um guia sobre como desacelerar a contaminação. Se estiver atrás disso, clique aqui.
É um panorama de possíveis implicações de segunda ordem do contágio, a reclusão social e os meses seguintes.
1. O Maior Experimento Global com Trabalho Remoto
Daqui a alguns anos, reuniões “cara a cara” vão ser tão especiais quanto um passeio no shopping.
Videoconferências em um clique substituirão congregações profissionais em boa medida. Assim como o one-click-ordering suplantou rotinas de compras no mundo físico.
Você ainda sai para comprar um terno uma vez por ano, ou vai às compras com a mãe uma vez por mês — para todo o resto, uma ordem pro dia seguinte na Amazon resolve mais fácil.
Nos próximos meses, empresas de serviço serão forçadas a reinventar processos de comunicação e tomada de decisão. Online, reuniões serão mais frequentemente convertidas em atas/notas, o que pode lhes turbinar a produtividade.
Por outro lado, são vetores prováveis de queda de rendimento: menos troca de informação emocional (intuição) entre colegas; pais/mães que terão inevitavelmente de trabalhar com filhos em casa.
Em geral, aprenderemos a trabalhar menos em tempo real e mais em assincronia.
Apresentações (faladas e com horário marcado) perderão espaço para painéis (interativos e on-demand) na nuvem. Reuniões de feedback perderão espaço pra sistemas gamificados de metas sobrepostos a softwares de gestão.
Em setores específicos, a demanda por profissionais remotos vai sofrer escalada abrupta. Telemedicina e educação à distância são 2 dos mais óbvios.
2. Long Netflix, Short Casamentos
Populações inteiras ficarão em casa por mais tempo do que estão acostumadas, mais ou menos simultaneamente. Isto não é uma novidade na história da humanidade. Mas é inédito pelo menos na última década.
Indústrias da locomoção sofrem os impactos de primeira ordem. Gol e Azul vem liderando quedas na bolsa brasileira. Muita gente já anteviu a explosão de demanda por entretenimento doméstico — Netflix, videogames e sites pornô.
Algumas províncias na China relataram um aumento no número de pedidos de divórcio, conforme casais redescobrem a relação em confinamento. É esperado que a convivência exacerbada em pequenos círculos (leia-se: em casa) traga à tona tensões latentes. Mais ou menos quando dizem no Big Brother “que o confinamento deixa a cabeça diferente“. Suspeito que o efeito da clausura varie de país pra país, cultura pra cultura.
Pode ser que a reclusão de estudantes dê origem a uma onda de novos negócios (com times distribuídos), em certas regiões. Microsoft e Facebook foram fundadas durante períodos de reclusão na faculdade — justo quando as pessoas têm tempo para trabalhar em seus projetos pessoais. No Brasil, a Pagar.me foi fundada por dois estudantes que se conheciam só pela internet.
Em 1665, Cambridge fechou em meio à epidemia de plaga bubônica. Newton, que estudava lá, teve de ficar um tempo em casa — foi nesse meio tempo que desenvolveu a teoria da gravidade.
Coincidência? Os maiores polos de contágio do Coronavírus estão na latitude ~40º: França, Itália, Irã, Wuhan, Coréia do Sul, Japão, Washington, Nova Iorque
3. ? Mais Uma Chance Para a Realidade Virtual
Usar óculos de VR para visitar zonas vítimas de catástrofes naturais não faz muito sentido. Usar VR para conversar com um avô com que você não pode entrar em contato por questões de saúde tem um apelo mais palpável.
Espere uma onda de novos produtos que explorem o potencial afetivo (e não tanto lúdico) do meio. Assim como experimentos em usabilidade para idosos.
Com o cancelamento em massa de eventos, nos próximos 2 meses, produtores testarão alternativas. Conferências em VR têm ganhado tração nas últimas semanas. Durante o “confinamento”, a carência por contato social é maior que a fricção de se aprender a usar a ferramenta.
e-Sports não precisam de audiência no estádio para congregar multidões, e devem fisgar parte dos entediados com o cancelamento que parece inevitável do Brasileirão e de outras ligas “físicas”.
4. ? Devaneios Monetários e Corrida por Liquidez
Já não faltavam razões para agressividade de política monetária global.
Com a perspectiva de alguns meses de demanda severamente esfriada, governos ocidentais não têm alternativa se não adotar medidas drásticas de estímulo. Convenhamos, é difícil estimular o gasto justo no momento em que as pessoas estão com receio de sair de casa. Em 2008, Bush foi à imprensa pedir para as pessoas continuarem indo às compras.
Com juros negativos em boa parte da Europa, e minúsculos nos EUA, resta pouco espaço para manobra. A ideia da renda básica universal (um salário “do governo pra todo mundo”) têm ganho tração após a campanha de Andrew Yang nos EUA, e aflora na atual conjuntura macroeconômica:
Por que não simplesmente emprestar 1000 dólares por mês a todos americanos, pelo tempo que durar o lockdown do Corona, a juros negativos?
Hong Kong já seguiu por este caminho: anunciou pacote de 9 bilhões de dólares para seus 7 milhões de residentes.
Se 2008 trouxe tempos difíceis para as grandes empresas, em 2020, a bronca pode ser com as pequenas e médias. Uma implosão deve começar 2–4 semanas depois do cancelamento de todos eventos públicos, aulas e vôos domésticos (ainda é uma incógnita se chegaremos nesse ponto). Poucos estão preparados para aguentar 2–3 meses de disrupção no fluxo de caixa.
Se 2008 viu uma evaporação de valor financeiro, seguida pelo arrefecimento real da demanda, agora pode ser o contrário.
Fundos de venture capital como Sequoia já vêm alertando seus empreendedores para que acessem todo o crédito (barato) que puderem.
A mensagem deles é clara: durante a tormenta, cash é rei. É mais caro não se preparar do que se preparar.
Conta a lenda que a queda do Lehman Brothers em 2008 começou com um credor insignificante puxando mais liquidez do que o normal, o que foi percebido pelo resto, e deu início a uma dança das cadeiras.
Níveis de desemprego na mínima, nos EUA, costumam anteceder recessões. Não são eles, mas as políticas que os puxam a níveis tão baixos que costumam tem consequências abruptas.
5. ♟ O Tabuleiro Geopolítico
Por ora, nessa rodada de algumas semanas de caos, a China é quem mais andou casas no tabuleiro.
A crise social em Hong Kong foi silenciada. A matéria-prima barateou no planeta todo. A China é a maior detentora de dívida americana (a única coisa que se valorizou nesse mar de dias vermelhos), e tem oceanos de caixa para comprar participação em empresas agora com 30-50% de desconto em qualquer bolsa de ações. A centralização extrema do governo permitiu (o que parece ser) uma resposta surpreendentemente eficaz ao vírus. Xi Jinping não tem de lidar com obstáculos eleitorais. Deve ignorar algumas metas de desaceleração do crescimento do crédito e é até capaz de atingir o crescimento projetado do PIB.
No momento, é ele quem dá as cartas. A visita recente ao marco-zero da pandemia, devidamente publicizada, sinalizar sua confiança de que o pior já passou. E dá um parâmetro de tempo para os lockdowns que estão começando agora no ocidente (6 semanas, no melhor dos casos).
Depois de subestimar o vírus, Trump está lutando pela sua vida política. O Homer Simpson já está alerta agora que o espetáculo dos homens enterrando bolas em cestas foi cancelado. Trump em breve anunciará alguma bazuca fiscal na tentativa de resgatar o SPX às máximas históricas — às custas de inflação real.
Mas medidas fiscais são mais penosas de se implementar. Até lá, o governo monetizará débito sem o menor pudor. Afinal de contas, o mundo está sedento por títulos de dívida soberana.
O jogo termina em inflação. Depois, jubileu.
O jubileu do débito é uma admissão de que o moto-perpétuo dos bancos centrais falhou, e toma muitas formas, sendo a mais comum o cancelamento das dívidas de um regime prévio por uma nova administração. Crédito que não pode ser pago devido ao crescimento ou produtividade insuficiente é extinto de algum jeito caótico. Não é algo que acontecerá esse ano.
Na Itália, o jubileu já demostra sintomas. Pagamentos de hipoteca estão suspensos. Enquanto soa incrível para os beneficiários, é preciso lembrar que o débito de alguém é ativo de outro alguém.
Credores não terão escolha senão reconsiderar a saúde de seus balanços. Alavancagem, em tempos de vacas gordas, é uma maravilha. Em tempos de vacas magras, significa não ter à mão todo o dinheiro com que se conta.
Efeitos exponenciais e feedback loops desafiam a lógica ordinária do cotidiano. A maioria das pessoas não acredita até ver com os próprios olhos.
“Controle não deve ser confundido com ordem” Margaret J. Wheatley
? E agora…?
Adoraria que este texto marcasse o fundo do declínio nas bolsas, depois de uma semana trágica. Queria eu que a turbulência dos próximos meses já estivesse, nesse ponto, inteiramente precificada.
Não se pode ter certeza de nada.
Não duvido nem que Bolsonaro tenha pego o vírus, Eduardo vazado pra imprensa, e então Trump ligado para ele ordenando que desmentisse. O presidente americano entrou em coletiva ao vivo logo depois, se apoiando no argumento de que Bolsonaro testara negativo para justificar sua parcimônia (e a sua negação em se auto-quarentenar).
Não tenho ideia do nível de sobrecarga que atingirá o sistema de saúde brasileiro. Se a nossa curva será mais agressiva ou controlada que a da Itália. Se nossas parcerias público-privadas serão mais ou menos eficientes que as dos EUA.
Note: a Itália, que está 14 dias à frente dos EUA, ainda não chegou à fase de desaceleração na curva de infectados. Sua taxa de letalidade é bem mais alta que a de outros países cuja resposta foi mais imediata. Até que atinja seu pico, ainda não temos benchmark de “duração da quarentena” para o caso de economias ocidentais despreparadas e atingidas em cheio.
Qualquer modelo que projeta os próximos meses se apoia em parâmetros imprevisivelmente escorregadios.
No longo prazo, as coisas ainda parecem promissoras. Acharam que o mundo ia acabar em 2008.
Hoje, olhe ao redor. Mesmo quarentenados, podemos pedir qualquer comida na porta de casa em 20 minutos. Podemos chamar carros para nos levar aonde quisermos. Podemos nos exercitar em esteiras imersivas que simulam uma corrida nos Alpes. Podemos falar de graça com qualquer familiar, em qualquer canto do mundo, com vídeo e áudio de alta qualidade.
Mantenha a cabeça nutrida e o senso crítico afiado. Os próximos meses podem ser duros. Vai ser difícil manter a independência intelectual em meio à enxurrada de áudios e fake news, exacerbada pelo distanciamento social. Não é porque você está “preso em casa” que vão deixar seus olhos e instintos descansarem. Abasteça-se de empatia e paciência. A batalha pela sua mente, pelo seu bolso, pelo seu voto e pelo seu like vai acelerar de marcha.
(Fonte: www.updateordie.com)
(Autor: Felipe Gaúcho Pereira)
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