“Dear Sir,
O senhor pode aprender muito a respeito da psicologia nos livros, mas cedo descobrirá que esta psicologia pouca utilidade tem na vida prática. Uma pessoa que se dedica à cura de almas deveria ter uma certa sabedoria de vida que não se baseasse apenas em palavras mas também e sobretudo na experiência. A psicologia, como eu a entendo, não é apenas uma soma de conhecimentos, mas também experiência de vida. Se ela for ensinável, então o será apenas com base na própria experiência da psique humana. E esta experiência só pode ser obtida num aprendizado pessoal, isto é, individual, e não coletivo.
Na Índia é costume bem antigo que praticamente toda pessoa de certa cultura tenha um guru, um diretor espiritual que lhe ensine, e tão-somente a ele, o que ele deve saber. Nem todos precisam saber a mesma coisa, e o saber sobre alguma coisa nunca pode ser transmitido da mesma forma a todos. É isto que falta totalmente às nossas Universidades: a relação entre mestre e aluno. E é isto também que o senhor deveria ter, bem como todos os seus colegas que desejam uma formação psicológica.
Todo aquele, cuja vocação é dirigir almas, deveria primeiro deixar dirigir a sua própria alma para sentir o que significa o encontro com a alma humana. Conhecer o lado escuro de cada um é a melhor preparação para lidar com a escuridão dos outros. Só o estudo em livros não lhe será de grande valia, ainda que seja necessário. O mais útil será uma introspecção pessoal nos segredos da alma humana. Caso contrário tudo se resumirá a manobras intelectuais de palavras vazias que levam a um falatório inútil. Talvez fosse bom tentar entender o que digo em meus livros; e, se tiver um bom amigo, tente olhar por detrás de sua fachada, para que assim descubra a si mesmo. Isto seria um bom começo.
Sincerely yours,
(C.G. Jung) – 25.09.1937.”
Fonte: Carl Gustav Jung, CARTAS (Vol. 1), Vozes, p. 248-249.