Amor

Como tirar da cabeça quem não sai do coração?

Separar-se de alguém não é fácil, tanto para quem deixou de amar, quanto para quem ainda ama.

Podemos ter nos sentido sozinhos, mas não estávamos sozinhos, ou seja, as coisas não dependiam somente de nós. Libertar-se dessa culpa solitária será o início de uma nova jornada.

Vidas que passaram juntas por tantas coisas, ao se separarem, saem machucadas e feridas, de alguma forma, na intensidade que for. Trata-se de um investimento que não vingou, não retornou, não deu certo. E a gente quer dar certo, na vida e no amor.

Quem toma a iniciativa de romper nem sempre deixou de amar o parceiro, por isso sua decisão também é amarga. Nem sempre a pessoa que decide partir é o vilão da história, pois ela apenas pode estar no limite de sua dignidade, no limite do que é capaz de suportar e não vê outra saída para sobreviver e retomar o fôlego emocional.

Nem sempre quem vai embora é covarde, muito pelo contrário, uma vez que isso pode requerer uma coragem absurda.

Por sua vez, quem não queria se separar, mas foi obrigado, aparentemente acaba por sofrer mais demoradamente, porque leva tempo, para quem se agarrava – mesmo que cegamente – à esperança, perceber que não tem mais volta. Leva tempo a aceitação de que acabou, de que tudo o que se investiu e pelo que se lutou não surtiu efeito.

E quem fica então se perde na escuridão da mágoa, da decepção, da dor por ter falhado. Parece que não haverá ar para seguir sem aquele amor, parece que a morte vem.

Embora nada mais pareça fazer sentido algum, não tem outro jeito, a não ser enfrentar o sofrimento. É preciso mergulhar na dor, para entendê-la e assim poder digerir tudo o que aconteceu e o que não. É preciso compreender que um relacionamento envolve duas pessoas e é covardia que todas as culpas recaiam sobre somente uma delas.

É preciso enterrar as lamúrias e arrependimentos, enxergando os próprios erros, mas também tendo a consciência de que muito se deve ao lado de lá. Podemos ter nos sentido sozinhos, mas não estávamos sozinhos, ou seja, as coisas não dependiam somente de nós.

Libertar-se dessa culpa solitária será o início de uma nova jornada. Caso não tenhamos traído ou ferido fundo a dignidade alheia, ambas as partes contribuíram ao fim do relacionamento.

Não será de um dia para o outro que conseguiremos esquecer e enterrar um amor que não deu certo. Haverá longas jornadas solitárias noite adentro, dentro de nossa alma machucada.

Parecerá impossível prosseguir, retomar, sobreviver, mas a gente se levanta. A gente se levanta, porque somos sobreviventes, somos incríveis, somos feitos para durar. Somos feitos para amar, para encontrar amor verdadeiro e completo, para amar o que somos e não aceitarmos menos do que merecemos.

Mesmo que demore, a gente acaba entendendo que é melhor ficar sozinho do que se relacionar com qualquer porcaria.
E não há sensação mais libertadora do que essa, porque, quando vivermos isso, ninguém mais conseguirá nos ferir.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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