Família

Colo de mãe é eterno. Não importa a idade.

Aos 36 anos, resolvi voltar para a casa da minha mãe. Sim, por total e livre espontânea vontade quis ter de volta o colo, a companhia e até mesmo o silêncio que se forma ao redor de tanto amor.

“Vá devagar, criança maluca. Se você é tão esperta, por que tem tanto medo? Onde está o fogo? Pra que essa pressa toda? Devagar, você está indo bem. Você não pode ser tudo o que você quer antes do seu tempo”.

Essa música, do cantor grande Billy Joel , faz parte da trilha sonora do filme De Repente 30, e é tocada quando a personagem de Jennifer Garner se sente tão sensível e perdida que volta à casa dos pais para sentir o aconchego típico.

Aos 36 anos, resolvi voltar para a casa da minha mãe. Sim, por total e livre espontânea vontade quis ter de volta o colo, a companhia e até mesmo o silêncio que se forma ao redor de tanto amor.

Não voltei para ter comida pronta quando chego do trabalho. Minha mãe detesta cozinhar. Não voltei pra ter roupa limpa e passada. Eu lavo minhas roupas (mas conto com a ajudinha dela pra dobrar, isso é fato).

Não tomei essa decisão para fugir das contas. Me viro sozinha financeiramente desde os 17 anos. Não tive essa resolução por nenhuma comodidade dessas. Voltei para a casa da minha mãe porque eu quero sentir o cheiro do café dela todas as manhãs. Porque eu abro a porta e ela está lá deitadinha no sofá me esperando para contar as novidades do dia.

Voltei porque minha extrema sensibilidade a tudo o que acontece ao meu redor me faz precisar de colo. E não preciso deitar efetivamente no colo dela pra isso. Só quero que ela esteja ali. Sem precisar enxugar as minhas lágrimas, sem nem sequer me consolar quando estou aflita. Para mim basta que ela esteja ali.

Minha mãe sabe que gerou um ser com uma sensibilidade extrema. Que vai do choro ao riso rapidamente. Que continua com um sorriso no rosto mesmo estando toda encolhida por dentro. Que precisa sim de colo, de conselhos, ser cuidada.

“Você é tão independente, vai voltar para a casa da mamãe?” “Ah, você vai perder toda sua privacidade”. “Depois de conquistar tanta coisa, vai jogar tudo fora?”

Continuo independente. Tenho minha privacidade e mantenho tudo o que conquistei. Só que me dou ao luxo e o direito de aproveitar a minha mãe enquanto eu posso. Enquanto ela puder me olhar com cara de desaprovação, ou rir das minhas histórias, eu estarei ao lado dela. Não só para que ela cuide de mim. Mas para que eu possa também cuidar dela.

Aline Rollo

Jornalista, assessora de imprensa, escritora sobre ansiedade, pânico, depressão e afins, mãe da Manu, apaixonada por bichos, pelo mar, natureza, amigos, família, pelo amor. Tentando viver um dia de cada vez ❤

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Aline Rollo
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