Cotidiano

Cobre-se menos. Quase nada é tão urgente assim…

Se formos atender à todas as exigências da sociedade, não teremos tempo para nós mesmos nem para quem amamos. Tentar ser, ao mesmo tempo, um profissional exemplar e altamente produtivo, uma mãe ou pai perfeito, um parceiro afetivo ideal, sempre ardente, de bom humor e bem disposto, manter o corpo perfeito, o guarda-roupa em dia, a casa na moda, os eventos sociais em alta é tarefa inglória. Por um tempo, algumas pessoas até conseguem dar conta de tudo, mas vai chegar um momento em que vão começar a adoecer, se sentir tristes, cansados, confusos, perdidos. – Cobre-se menos. Quase nada é tão urgente assim!

As pessoas se tornam cada vez mais exigentes com elas mesmas e com os outros. Cada vez mais, esperamos e ansiamos por resultados. A vida de muitos virou uma grande planilha. Porém, a vida não se resume a números. A vida não se resume a uma extensa lista de conquistas realizadas.

Muita gente tem uma carreira bem-sucedida, conforto material, uma boa parceria afetiva e mesmo assim não se sente bem consigo mesmo, mesmo assim não se sente feliz. Por que será? Por que algumas pessoa se sentem ansiosas, angustiadas diante de uma vida cheia de realizações?

Por um lado, realizar é ótimo. Realizar nos motiva, nos impulsiona. Por outro, realizar em excesso, sacrificando o tempo de descanso, o tempo de lazer, o tempo com a família e amigos, pode ser muito prejudicial à saúde física e mental.

Amar o próprio trabalho é lindo. É mágico! Mas quando a pessoa não consegue se desligar do trabalho, quando não consegue relaxar, ela vai se tornando extremamente ansiosa e angustiada. Ela vai desenvolvendo um perigoso processo de estresse.

Se formos atender à todas as exigências da sociedade, não teremos tempo para nós mesmos nem para quem amamos. Tentar ser, ao mesmo tempo, um profissional exemplar e altamente produtivo, uma mãe ou pai perfeito, um parceiro afetivo ideal, sempre ardente, de bom humor e bem disposto, manter o corpo perfeito, o guarda-roupa em dia, a casa na moda, os eventos sociais em alta é tarefa inglória. Por um tempo, algumas pessoas até conseguem dar conta de tudo, mas vai chegar um momento em que vão começar a adoecer, a se sentir tristes, cansados, confusos, perdidos.

Sim, cobre-se menos. Quase nada é tão urgente sim. Faça o seu trabalho com amor, cuide da sua família, da sua casa, de você. Mas sem exageros. O mundo não vai cair se não formos o funcionário do mês todos os meses. O mundo não vai cair se a gente sair com a roupa amassada, se a gente disser não para um convite social, se a gente precisar esconder um rasgo do tecido do sofá com uma almofada. O mundo não vai cair se de vez em quando não der tempo de fazer o jantar e a gente comprar uma pizza. O mundo não vai cair se a gente mostrar para o parceiro afetivo e para o mundo que somos imperfeitos, que nos cansamos, que temos limites, que somos seres humanos.

Sílvia Marques

Profa. doutora , idealizadora da Pós em Cinema do Complexo FMU, escritora e psicanalista. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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