Tudo. É simplesmente “tudo” que uma mãe é capaz de dar, de fazer pelo seu filho. A maternidade não se encontra no gerar, parir ou aleitar, mas primordialmente na imaterialidade de transcender a si mesmo, e vestir-se do outro pela eternidade de cada segundo. Ser mãe é tentar fazer caber dentro de si a vontade de dar-se integralmente, sem conseguir questionar as consequências de não ser mais de si mesmo.
“Mãe” não é um título perpétuo por si só, mas um exercício diário de entrega. Conquista-se o “ser mãe” nos cuidados básicos, no zelo para com seu filho, mas também – e, talvez, sobretudo – nas entrelinhas de cada toque, cada cheiro, cada compasso de um relógio que caminha em um tempo diferente. E, de tudo que digo, nem perto chego de definir o que é ser mãe, afinal é impossível explicar “amor de mãe” em palavras. Talvez maternidade seja aquele tal e inexplicável sexto sentido.
E eu, sua mãe, gostaria de te preencher por inteiro. Colocar delicadamente em sua boca as palavras que às vezes lhe faltam, os amigos que lhe são raros, a compreensão de uma sociedade ainda despreparada para receber toda sua pureza. Talvez mudar o mundo, ou mudar de mundo para onde enfileirar bichinhos de brinquedo fosse o “normal”.
Eu queria poder trocar de lugar com você, para que eu é que tivesse as dificuldades que hoje são suas. Se eu pudesse, embalaria só para você, em uma linda caixa verde com um laço azul, todas as minhas palavras, meus olhares, meus amigos, meus sentidos, meu tempo, minha vida. Mas não posso! E, respondendo às minhas “mãos atadas”, está você, com seu sorriso, lutando à sua forma toda própria, mostrando-se simultaneamente forte e delicada, amando-me mesmo em minhas fragilidades.
Cada superação sua revive em mim a lembrança de seus olhos se abrindo pela primeira vez; suas mãos recém-nascidas, tão frágeis; teus pés pequeninos batendo sobre a água na banheira, espalhando-a por tudo mais; o jeitinho que você se aconchega quando dorme; o primeiro sorriso; o primeiro passo; você de costas para mim, em seu uniforme, entrando para seu primeiro dia de aula.
Mas também guardo na memória o dia de seu diagnóstico. Autismo. Guardo em mim os gritos de medo que abafei enquanto sorria lhe passando segurança. E, meu amor, entenda que, nesses momentos, não foi você que me fez sofrer, mas sim meu desconhecimento, minha impotência. Eu queria ser mais, eu queria ser tudo que você precisava, mas em vez disso eu era apenas…. Eu!
Minha vida, eu só quero lhe dizer “obrigada”. Você, fonte de minhas inseguranças e seguranças, me ensinou o valor de um sorriso. Você, que é meu sonho realizado, que me ensinou a intimidade de um olhar. Você, que ao mudar tantas e tantas vezes minha vida, me fez uma pessoa melhor. Nunca se esqueça que você é uma pessoa linda, esperta, sensível e com um futuro maravilhoso pela frente. Obrigada por me fazer tão feliz simplesmente por ser sua mãe. E, nesse segundo, enquanto te abraço e cheiro seus cabelos, penso “você é o meu parabéns de dia das mães!”.
(Fonte: gazetadopovo.com.br )