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Caros Heróis, por favor, não morram de overdose!

Quando eu era mais novo, por volta dos meus 14 anos, eu admirava – como é bem comum na adolescência rebelde – as pessoas que vivem em busca do próprio descontrole e que, dentro de portas mentirosas abertas pelas drogas, procuram um alívio para o que há de assustador no mundo.

Na época do colégio, meus caros, eu não estava nem aí para o talento musical do Jim Morrison, mas aplaudia o músico, freneticamente, devido à imensurável quantidade de substâncias alucinógenas que ele consumiu antes de morrer, de overdose, dentro de uma banheira localizada em um hotel de Paris. Eu li, duas vezes, a biografia do vocalista do The Doors, e, depois de me deparar com inúmeros fatos dignos de elogios, eu preferi bater palmas para os momentos em que o Jim, de tão alucinado, não conseguiu manter-se em pé sobre o palco.

Hoje, 14 anos depois, muita coisa mudou em minha visão de mundo. Continuo a admirar muitos ídolos que morreram de overdose – como o já citado Jim Morrison, a Amy Winehouse, o Philip Seymour Hoffman, a Elis Regina e o Heath Ledger –, porém, com certeza, não os admiro pelos egos inflados à base de cocaína, pelos litros de álcool que tomaram para enfrentar o medo do palco ou pelas camisas de manga longa que usaram para esconder as marcas de agulha; admiro-os, apenas, pelo talento artístico que eles tinham e que, tristemente, acabou antes do fim programado para a turnê e do começo das exibições em salas de cinema.

Quer saber quem são os meus heróis de hoje? São os seres que vivem a lutar pelo controle dos corpos que têm, e que, por nenhuma promessa fácil de tragar, aceitarão depender de elementos externos para sorrir. Como assim? Admiro a pessoa que, quando quer encontrar a coragem necessária para um discurso público, por exemplo, ao invés de busca-la em atalhos tentadores como os copos de uísque ou as carreiras de cocaína, sabiamente, procura formas de extrair a coragem que já existe dentro dela. O uísque, apesar de ser o caminho mais fácil, é um encorajador que pode ser tirado de você; já a domínio da coragem interior, irmão, depois de atingido, não sumirá quando a garrafa acabar e não precisará ser urgentemente substituído quando o seu médico informar que mais uma gota de álcool inutilizará o seu fígado.

Não estou insistindo para que você aprenda a controlar todas as suas emoções, mas, até mesmo para lidar com o descontrole emocional, meu caro, você precisa aprender quais são os reais remédios e quais que, apesar de a curto prazo parecem anestesias perfeitas, a longo prazo terão efeitos devastadores. Entende? Condicionar a sua alegria e a superação dos seus problemas a algo que pode faltar se traficante resolver tirar férias, certamente, é o mesmo que se acorrentar por opção e que abrir mão, sem espernear, do que o ser humano possui de mais valioso: a liberdade. Ou acha só as grades são capazes de aprisionar?

Pode parecer demasiadamente careta ou a repetição de um discurso que você já ouviu de outras bocas, mas, lembre-se: o prazer inegável que as drogas produzem não vale a impotência que você, ser racional, sentirá quando descobrir que se tornou escravo de uma substância qualquer e irracional.

Aprenda a buscar dentro de você todas as ferramentas que você precisa para sobreviver na selva da vida. Para xavecar like a boss, irmão, não é preciso estar bêbado; para se sentir capaz, meu velho, não é necessário estar cheirado; para suportar a ansiedade, parceiro, você não precisa comer um quilo de açúcar por dia. O grande lance é aprender a ser feliz utilizando apenas aquilo que você já tem, pois a partir do momento em que você passa a necessitar de algo exterior – mesmo que esse algo seja o carinho da sua namorada – para achar a vida boa, você aceitará as correntes invisíveis da dependência.

Uma sutil mudança nos versos do Cazuza complementa bem o que eu quero dizer, quer ver? Ele cantou: “Meus heróis morreram de overdose / Meus inimigos estão no poder”. Eu digo: “Meus heróis morreram de overdose porque os inimigos deles estavam no poder”. Eles, os heróis do Cazuza, talvez tenham morrido antes de descobrir quem eram os verdadeiros inimigos deles. Eu sei quem são os meus inimigos e, assim como os meus heróis de hoje, não abrirei mão da minha liberdade em troca de falsas promessas e de paraísos que somem quando o efeito passa. Eu estou no controle do meu próprio navio! E você, irmão, é comandante ou escravo? Vai tomar posse do que já é seu ou vai aceitar que um cilindro cheio de tabaco determine o que fará depois de cada almoço? Quem manda no seu corpo é você!

(Autor(a): Ricardo Coiro)
(Fonte: eoh.com.br – *Texto publicado com a autorização do administrador do site.)

Fãs da Psicanálise

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