Hoje quero refletir com vocês sobre assertividade. Inspiro-me sempre nos temas atuais, que são acessíveis ao maior número de pessoas da nossa sociedade – por isso o título do texto de hoje foi inspirado numa frase que foi muito usada e virou moda – coisas de personagem de novela. Acho bacana quando o público reproduz os clichês das novelas, porque isso acaba sendo material para facilitar o nosso trabalho de promover a reflexão.

Muitos talvez estejam me lendo agora porque o título lhes é familiar, isso me faz chegar mais perto de cada um de vocês. Realmente não somos obrigados a algumas coisas e a capacidade de expressar isso sem magoar e sem agredir chama-se assertividade. Ser assertivo é conseguir expressar sua posição a respeito de algo, sabendo não estar certo nem errado, apenas convicto de sua escolha.

Nós temos o direito de “não querer”. Não querer conversar, não querer ir, não querer ver ou fazer. O fato de alguém querer algo de nós não nos obriga a aceitar. É prepotente quem acha que pode insistir para que façamos algo ou mudemos nossa opinião por pressão ou obrigação.

Lembro-me de um dia no qual recebi uma visita inesperada em minha antiga casa no interior. Acredito que seja mais comum nas cidades pequenas, as pessoas aparecerem em nossas casas sem avisar, e soube que isso é hábito de alguns brasileiros. Tenho uma amiga que mora na Holanda há anos, e ela me contou que aparecer sem avisar na casa de alguém por lá é algo que não existe. Bom, voltando à minha história, no momento em que o interfone tocou, eu estava de saída para outro compromisso. Como moro em apartamento, pedi que o porteiro avisasse que não poderia recebê-la e saí em seguida. No dia seguinte, conversando e trocando ideias com a minha manicure eu contei a ela o ocorrido e disse que eu não atendi, citando as minhas razões. Então ela me pergunta:

-Mas você não ficou com medo do que ela ia pensar ou dizer sobre você? Não receber uma visita é falta de educação, Vivi!

Eu procuro não dar muito poder ao que o outro diz e pensa a meu respeito – apesar de saber que todos nós somos influenciados pelo meio social. Fiquei pensando sobre o termo “falta de educação”, então vejamos: a visita não havia me avisado que viria, o que particularmente eu acho pouco educado. Eu poderia ter deixado meu compromisso de lado e tê-la atendido, mas por que eu faria isso? Medo do que ela diria? Até onde devemos nos obrigar a fazer coisas que não queremos? Ela deixaria de gostar de mim por isso? Que afeto é esse?

Aprendi desde cedo, observando e trabalhando com comportamento humano, que a opinião que o outro tem sobre nós pode se modificar porque é influenciada pela forma como agimos: aos olhos do outro vamos do céu ao inferno, baseado no quanto o frustramos.

Quando alguém não age ou não diz o que nós queremos ouvir, muitos de nós passa então a agredir. Agressão é sempre a contramão da assertividade. Nós não somos obrigados e o outro também não é. Acho cruel obrigar e ser obrigado a qualquer coisa nessa vida – mesmo sabendo que passaremos por isso algumas vezes – e acho mais cruel ainda as relações nas quais não podemos dizer e nem agir de modo sincero e transparente. É egoísta quem quer ver sua vontade satisfeita, porque no fundo não está ligando a mínima para o outro, nem o respeitando como semelhante.

Os tempos atuais pedem tolerância e espaço para que cada um tenha e expresse a sua opinião. É preciso respeito ao outro e ao seu modo de ver o mundo. Entretanto é preciso respeitar quando não pedem e nem se interessam pela nossa visão dos fatos. O exercício da assertividade pode nos ajudar na ação e aceitação, resultando no convívio social mais sadio.

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Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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