“Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando” (Freud, 1920/2006, p.75).
Sigmund Freud, ao criar o conceito de inconsciente, subverte a noção do sujeito cartesiano enquanto sujeito da razão.
Se em Descartes “penso, logo existo”, e com isso se define a existência do ser, este seria o ponto anômalo entre a teoria cartesiana e a teoria freudiana. Em psicanálise pensar não equivale a ser, pois, como disse Lacan, “sou também onde não penso”. O fato de pensar não me assegura que eu seja. O sujeito é uma descontinuidade e não uma linha reta objetiva.
O “Cogito Ergo Sum” (Penso logo existo) foi usado como argumento por Descartes em sua obra “Meditações” na tentativa de fundamentar sua “Teoria do Conhecimento”. Em meio de tantas questões o cogito surge como uma certeza alcançada por Descartes: “só posso estar certo de que penso, pois mesmo que duvide, ainda assim, continuarei pensando”.
O existir para Descartes tem como comprovação o ato de pensar, é uma “verdade” filosófica afirmativa que o ser é capaz de duvidar, e propõem que, para duvidar, é preciso pensar. Porém, Freud postula que “o ego não é o senhor da sua própria casa”, ou seja, o ego pensa saber o que, na realidade, não sabe. É no inconsciente que habita a “verdade” do sujeito.
Assim, Freud destrona o Eu do lugar de unidade e saber como considerado por Descartes. No discurso do sujeito da psicanálise, a consciência e a razão deixam de ser o lugar da verdade, representando o lugar do engano. Por outro lado, a subjetividade passa a ser uma realidade dividida entre os sistemas consciente e inconsciente.
Na representação do sujeito em psicanálise, a razão, ou o Ego, não pode ser definida como instrumento de acesso à verdade das coisas. É a subjetividade inconsciente que dá ao próprio sujeito um sentido repleto de significações sem que nenhuma possa ser apontada como verdadeira.
Desse modo, Freud encontrou a “verdade” no discurso de seus analisantes através dos sonhos, dos atos falhos, dos chistes e dos sintomas. Ela, a”verdade”, está lá dentro. Nas profundezas do inconsciente.