(O que é mais difícil: achar a música da sua vida ou o homem certo?)
Entrei na era do confessionário. Virou mania minha catalogar manias. Essas coisas engraçadas (e às vezes assustadoras) que toda mulher faz. Que eu faço. Pelo menos uma vez na vida. Não importa. Atire a primeira pedra quem nunca pensou: “ah, essa é a música do meu casamento”.
Antigamente, as mulheres se reuniam em volta da vitrola e ouviam emocionadas a tal marcha nupcial (e composições do gênero) e imaginavam-se lindas, plenas e luxuosas em direção ao altar. Hoje muita coisa mudou. Os desejos ficaram clandestinos.
Fingimos não mais pensar na “música do casamento”, mas sonhamos sozinhas com nossos Ipods pela rua, achando que “Thank you” do Led Zepelin poderia ser (porque não?) a trilha sonora perfeita para o SIM. (Ou seria “Todo amor que houver nessa vida” do Cazuza?).
É a mais pura verdade. A marcha nupcial é um clássico. Mas o nosso humor foge de qualquer definição. Um dia queremos casar na praia. Outro, na fazenda. Talvez – quem sabe?- numa rave. Em Las Vegas. Ou na rua Álvares Cabral, de calça jeans e All Star.
Trocamos de sonho, mudamos de namorado e de faixa etária e, acumulamos, através dos tempos, uma quantidades de músicas que dariam uma coleção de CDs. (Será que alguém já pensou nisso?)
Somos mulheres independentes, inteligentes e fofas, pagamos nossos impostos, já tomamos algum remédio de tarja-preta na vida, temos uma ou outra infração de trânsito, quase não desejamos mal.
Temos a tecnologia ao nosso lado, passamos esfoliantes com microesferas, não casamos virgens, reivindicamos nossos direitos (seja lá quais forem), e, quer saber? CONTINUAMOS AS MESMAS DE SEMPRE.
Colecionamos músicas de casamento e nomes dos nossos futuros filhos, acreditamos em amores eternos (quando não estamos desiludidas) e nos emocionamos quando nossas amigas escolhem seus vestidos de noiva.
Somos românticas (e bregas) até que a realidade se instale. Talvez essa seja a maior verdade. Porque casar não é brincadeira. Vida a dois é uma montanha-russa. Quem não se segura, não chega vivo.
Parece que o famoso “até que a morte nos separe” saiu de fininho e deu lugar à outra coisa: “Até que a vontade nos separe”. Será essa a nova frase antes do beijo? Bom, se casar não é fácil, então, porque AINDA continuamos com as mesmas manias esquisitas de colecionar nomes de filhos, fotos de vestidos, músicas e sonhos? Porque acreditamos! Sem esperança e amor a vida não teria graça. Sem humor, muito menos.
Por isso, quando aquela tia ou parente distante chegar de mansinho e perguntar (antes mesmo de dizer Olá): “E aí, casou?” Responda, sem muita cerimônia: NÃO, EU AINDA NÃO ENCONTREI A MÚSICA CERTA.
Obs: para quem já encontrou a música perfeita ou o amor de sua vida (ou teve a sorte de encontrar os dois), um lembrete: agradeça ao universo por essa benção e lembre-se sempre de levar paciência e determinação à tiracolo (o amor é lindo, mas não é fácil, não)! Para quem ainda não achou a canção ideal (ou alguém real para dividir a vida), uma sugestão de quem resolveu se arriscar: quem sabe não está na hora de escutar aqueles cds antigos ou – talvez – se aventurar num novo estilo, bem diferente do seu? NA VIDA, MEU BEM, SÓ É FELIZ QUEM NÃO TEM MEDO!
(Autora: Fernanda Mello, escritora e compositora, ficou conhecida por seu blog Coração na Boca – no ar, desde 2003 –
e por suas inúmeras letras para bandas como Jota Quest, Tianastácia, Wanessa Camargo, Negra Li… )
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