Talvez eu mude e retire as roupas do armário que esperam despedidas, afinal, as mudanças são assim, esperam datas especiais, mas acontecem no meio da semana.
Talvez eu retorne e recolha os abraços desperdiçados nos dias confusos, em que caminhei para lugares não agradáveis e silenciei as palavras que deveriam ser ditas. Investida de coragem, compre vasos que me contem sobre o nascimento das flores, reservando amor para os dias difíceis.
Isso feito, inundada pela amorosidade dos cheiros e cores que pedem somente água e sol, caminhe até as prateleiras da minha vida e retire os livros que não serão lidos novamente.
Tomada por esse desejo de vida, talvez eu selecione algumas músicas e tenha como compromisso apenas ouvi-las, numa compreensão clara das pausas do mundo.
Talvez eu mude e retire as roupas do armário, certa que elas não me cabem mais, mudei e elas permaneceram as mesmas, merecem outras vidas.
Me desapegarei delas, compreendendo os ciclos da vida, o que foi não é mais, nesse movimento a clareza de abrir espaços para o que deve chegar e o que deve partir.
Embalada nessa mistura de passado e presente, talvez eu consiga compreender o entardecer e as falas dele no silêncio do dia que finda, descobrindo que meus suficientes são poucos e que fui enganada pela vida que seguia sem pausas.
Talvez, após essa clareza, vista uma roupa que me cabe, passe na padaria e escolha demoradamente aquelas coisas que falam do amor, caminhando, lentamente, para um café com aquela senhora que, sem pressa, me conta da vida que segue lenta, do talvez que demora para acontecer…
(Imagem: Mariana Plozner)
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