Amor

As coisas que eu não disse

Hoje eu sonhei com você. E bateu uma vontade absurda de dizer todas as coisas que eu queria ter dito e não disse. Eu queria ter dito uma porção de coisas que, possivelmente, te assustaria. Eu queria ter dito que minha indiferença em afetos bonitos é só um disfarce bobo pro meu coração que cansou de apanhar. Só queria que você soubesse que eu sempre achei que o amor não deveria ter plateia.

Eu queria ter dito que eu abria um sorriso largo, de orelha a orelha, cada vez que eu te via. E que enquanto meu coração ensaiava um samba, meus joelhos perdiam a coordenação. Só queria que você soubesse que meus passos desajeitados tinham motivos. Eu queria ter dito que meu vício em registrar momentos, é por acreditar que tudo deve ser eternizado por fotografia, por texto, por música, por qualquer coisa que não nos deixe esquecer o que nos traz felicidade.

Só queria que você soubesse que eu prezo momentos bons, porque elas se tornam lembranças. E como é bom relembrar aquilo que nos faz bem. Eu queria ter dito “saudades”, todas as vezes que eu senti sua falta. Mas eu recuei sempre que surgia vontade de acelerar. Bastava minha presença, nosso calor. Só queria que você soubesse que eu senti sua falta mil vezes num dia só.

Eu queria ter dito que me lembrei de você em ocasiões inusitadas, que não deveriam ecoar sua voz. Mas lembrei. Por conversas banais que tivemos, por piadas desinteressantes que agora me trazem sorrisos tímidos. Só queria que você soubesse que sua lembrança não me dilacera, não me corta e não me machuca.

Eu queria ter dito que sua companhia me trazia paz, que com você era possível esquecer o que me tirava o sono. E que sua maturidade é proporcional ao seu bom senso, mas que não combina nada com seus trocadilhos. Só queria que você soubesse que eu senti vontade de congelar sua presença, sempre que meu queixo se encaixava no seu ombro.

Eu queria ter pedido pra ficar, quando decidiu partir. Talvez meu amor desaprendeu a ser amor. Provavelmente por medo, era uma relação precoce demais pra eu te encher com minha mania de romantizar cada gesto que me é doado. Só queria que você soubesse que eu fui 8 pra não te encher com meu 80. E que meu silêncio era em excesso, porque eu acreditava que meu sentimento presente te faria ficar.

“tem coisas que o coração só
fala pra quem sabe escutar”
Chico Xavier

Imagem: Igor Rand

Ana Carolina da Mata

Ela ama comer. Tem medo de apontar para uma estrela no céu e acordar com uma verruga no dedo. E também ama comer. Acredita que troca de olhares, às vezes, são mais bem dados que beijos de cinema. Não confia em pessoas que não gostam de animais. E ama comer. Tem medo do escuro e acha normal falar sozinha. Vive no mundo da lua e adora comer por lá também. É sagitariana, paulista, teimosa, devoradora de filmes, gulosa por livros e por comida também. Mas acha tolice tudo acabar em pizza, porque com ela, acaba em texto. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Ana Carolina da Mata

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