No egocêntrico mundo dos que se admiram excessivamente e estão centrados apenas no próprio umbigo, é difícil conseguir delimitar onde termina a personalidade autoconfiante e onde começa o narcisismo patológico.
Conforme alguns estudos, os homens, os atletas e as celebridades são mais propensos a desenvolverem características narcisistas, mas a atual era da superexposição – facilitada pela tecnologia – tem deixado todos mais vulneráveis a essa condição.
A pessoa autoconfiante pode até ter alguns traços narcísicos – todo mundo tem e, até certo grau, é importante –, explica a professora da pós-graduação em psiquiatria da Faculdade Ipemed de Ciências Médicas Gilda Paoliello. “Isso vai te instigar, vai te fazer se sentir seguro”, diz.
Mas o limite se perde e o problema aparece quando vira realmente um traço de personalidade predominante. “Para o narcisista, o interesse maior é impressionar e seduzir. Na verdade, a maioria deles é muito insegura, mas usa isso como uma máscara”, afirma.
A noção psicológica de narcisismo foi descrita no século XIX, com base no personagem jovem e belo da mitologia grega, condenado a admirar seu reflexo nas águas de um lago.
Depois de Narciso, a teoria psicanalítica desenvolvida por Freud caracterizou como narcisismo primário uma etapa primitiva no desenvolvimento infantil em que a criança descobre seu corpo. “O narcisismo saudável é aquele que todo mundo tem, nasce com ele”, diz a psiquiatra Sofia Bauer.
Definido pela primeira vez em 1980, o transtorno de personalidade narcisista pertence hoje a uma categoria de patologias que integra o Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (sigla em inglês, DSM). A origem da falha no caráter pode estar no cérebro, conforme um estudo francês.
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A sensação de grandiosidade, a necessidade de admiração e a falta de empatia podem ser apontadas como as três principais características do problema, mas a psiquiatra complementa. “Quem tem esse distúrbio necessita o tempo inteiro de autoafirmação. Geralmente, não tem companhia, não tem relacionamentos, não enxerga o outro e, com isso, vai se isolando”, afirma Bauer.
Os narcisistas representam 1% da população, e o youtuber Guilherme Rocker, 25, já esteve entre eles. Em vídeo, ele confessou que já foi um “doentio admirador de si mesmo”.
“Me olhava no espelho antes de ir dormir, levava o acessório no bolso e, quando abraçava alguém, eu olhava meu reflexo. Essa personalidade nunca me atrapalhou, mas as manias, sim”, reconhece.
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Depois de analisar estudos publicados ao longo de 31 anos, a pesquisadora Emily Grijalva descobriu que os homens apresentam personalidade narcisista com mais frequência do que as mulheres.
O comportamento dos atletas também é uma preocupação para os psicólogos esportivos, uma vez que o meio se tornou um possível caminho para a notoriedade e a fama, segundo o presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp), Rodrigo Acioli.
Para ele, o narcisismo em atletas passa a prejudicá-los quando as atitudes que o caracterizam assim se sobressaem e são consideradas mais importantes do que seus objetivos e resultados. “O trabalho da psicologia do esporte pode ser individual ou em grupo, de acordo com as necessidades de cada um”, explica.
O poder e a notoriedade também favorecem uma tendência maior ao transtorno em políticos e famosos, conclui estudo da Universidade do Sul da Califórnia (USC). A atriz Lindsay Lohan foi diagnosticada com o transtorno de personalidade narcisista, por ser obcecada com o modo como os outros a veem.
Na mesma pesquisa, a USC identificou ainda que os participantes de reality shows têm índices de narcisismo mais elevados que atores, músicos e humoristas. Recentemente emparedada, Emilly, do “Big Brother Brasil 17”, especulou sobre o porquê de ter sido alvo dos brothers. Em conversa com seu amado Marcos, ela disparou: “Eu brilho muito, e isso incomoda as pessoas”.
Na análise de Gilda Paoliello, Donald Trump e Barack Obama são exemplos nítidos de narcisismo versus autoconfiança. “Obama é autoconfiante e nunca precisou colocar suas questões pessoais para ocupar a presidência. Trump simboliza a falta de empatia e faz referências a todo momento sobre como é um bom administrador e empresário”, explica.
Segundo a professora, “o narcisista fantasia muito e constrói castelos na areia, como o empresário Eike Batista fez”, exemplifica a psiquiatra.
Fonte: O Tempo
Autor: Litza Matos
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