Basta dar uma olhadinha em alguma página sobre relacionamentos do Instagram para nos deparar com “N” publicações sobre a necessidade de um amor que tenha as chamas de um olhar apaixonado, e o calor do fogo aceso a cada toque.
Sem sombra de dúvida todos desejamos profundamente encontrar alguém que nos arranque o fôlego sem precisar antes tirar nossa roupa, e que nos faça suspirar a cada beijo, como se aquele instante fosse um encontro perfeito entre gotas de orvalho e a delicada pétala de uma orquídea. É constante nossa busca por algo que seja mais infinito que o número de estrelas do céu e mais inabalável que a estátua do Cristo Redentor de braços abertos sobre a cidade do Rio de Janeiro.
Queremos um amor mais profundo que qualquer oceano que ainda possa ser descoberto pelo homem, mas temos medo de nadar, e mais ainda de nos afogar. O costume do raso nos faz pensar que o fundo é um local de risco, como se realmente o amor fosse uma piscina, e nós, crianças. Proferimos palavras carregadas de sentimentos, e transformamos tudo em incontáveis publicações que ditam uma espécie de manual sobre como se relacionar, mas quando chega a nossa vez – pasme – decidimos nos fechar em nós mesmos, e de repente tudo aquilo que pregamos sobre como é lindo amar alguém se transforma em balela.
Nenhuma fogueira de São João começa com 3 metros de altura. É preciso incendiar um pequeno pavio que consequentemente incendiará as madeiras ao seu redor, e é essa pequena porção de fogo que mais tarde forma uma aglomeração alta e robusta de chamas. Mas a questão é que até esse pavio tomar forma e começar a alastrar seu pequeno fogo para o que há ao seu redor, há o vento lutando contra e tentando apagá-lo; há a chance da chuva cair e apagar aquele pequeno foguinho. Há ainda a dificuldade em se manter aquela porção de chama acesa, mas contra tudo isso há uma (ou mais) pessoa que se dispõe a atiçar o pavio até que a fogueira comece a tomar corpo.
Não conhecemos o calor de uma fogueira porque nos recusamos a observar as brasas se acendendo. Estamos tão acostumados com a ideia de que é preciso perder o fôlego para ser amor, que acabamos nos esquecendo de que é preciso antes tomar fôlego, para então perdê-lo, afinal, não há como perder aquilo que nunca se teve.
E é nessa ideia de que amor precisa ser aquela coisa que se diz por aí que perdemos pessoas incríveis na busca por detalhes que talvez nunca serão encontrados. É claro que como em toda regra, neste campo há exceções, e sim, existe quem entregue excessos e colha excessos desde o primeiro dia, mas há quem precise primeiro caminhar na orla da praia para só depois entrar no mar.
O que estou dizendo é que nem sempre estamos prontos para dar e receber toneladas de afeto, pois como qualquer protagonista de uma boa história, todos carregamos medos, inseguranças, traumas e claro, uma boa dose de decepções com os outros e com nós mesmos, e tudo isso nos faz voltar a nadar no raso, porque nem sempre o fundo é a parte mais divertida de se nadar.
Então começa o nosso pecado. A nossa falta de consciência de que aquela pessoa com quem desejamos dividir uma vida às vezes é fogueira, e às vezes é pavio, porque assim como eu e você, essa pessoa também é isso: uma junção de outras histórias que deram certo e que não deram tão certo assim, mas que foram importantes, e que agora exercem influência sobre quem esse alguém se tornou.
Quão egoístas somos com o outro ao não permitir que seu pequeno pavio se transforme numa imensa fogueira. Quão egoístas somos com nós mesmos ao não nos permitir cuidar daquele pequeno foguinho para que ele um dia seja fogaréu. Quanta coisa deixamos de viver apenas por acreditar que “não era pra ser”. Somos a geração que mais fala de amor, e a que menos o vive.
Nós precisamos nos aprofundar mais nas pessoas, e deixar de lado esse costume de seguir à risca os manuais de boa conduta no relacionamento ditados por páginas em redes sociais. Vamos voltar a viver grandes amores quando voltarmos a conhecer pessoas do modo antigo: enxergando o conjunto da obra, e não apenas as faltas e objeções.
Lute pelo que você acredita. Tente mais uma vez. É claro, saiba a hora de se retirar, e preste sempre atenção ao que está acontecendo, mas não jogue tudo para o alto assim que a primeira diferença aparecer. Nenhum casamento de 30 anos começou aos 29 anos e meio; todos começaram com 01 dia de namoro, e às vezes, nem com isso.
Você precisa e merece alguém que cuide das suas feridas e te faça mais uma vez acreditar que vale à pena entrelaçar as mãos, mas esta pessoa precisa que você também seja isso na vida dela, então, vamos nos preparar para amores que transbordam juntos, e não para buscar desesperadamente por uma pessoa que dê tudo de si para nos fazer transbordar em nós mesmos.
Lembremos: todo arranha-céu começou com o assentamento de um único e primeiro tijolo. Mas o que fez ser tão grande foram as pessoas que continuaram (juntas) assentando outros tijolinhos, andar por andar.
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