Posso estar a dois passos do caos ou numa eterna dúvida entre entrar pela janela ou fazer uma serenata de Amor dos tempos antigos para conquistar a menina do outro lado da rua.

Estive muito doente e fazia tempos que não reparava nas pessoas, nos sorrisos e nem em mim mesmo até descobrir você. E tão perto! Minha mente tá pertinho dela, às vezes eu sonho, às vezes eu estou olhando nos olhos dela e ela falando rápido para não deixar escapar nenhuma palavra ou nenhum pensamento.

É claro que eu quero que ela sinta como se morássemos na mesma rua e no mesmo coração. Mas eu preciso da mão dela para atravessar a rua porque não quero ser atropelado ecom o coração dilacerado. Nossos olhos já se conhecem e o seu lembra um pouco as folhas do meu jardim. Seu sorriso deslumbra como as flores da minha varanda e eu pago até o aluguel em dia para te ver todos os dias. Mas não dá, porque não é todo dia que você passa em com o seu cheiro que confronta com o cheiro dessas tais rosas do meu jardim.

Minha casa é simples, mal acabada, tem um quintal, e da janela dá para ver que tudo pode ser bem difícil. Porque o outro lado pode ser o desamor, a indiferença ou a falta de carinho. Eu na verdade, não sei o que está se passando do outro lado da rua. Mas estou passando pela calçada todos os dias e sento nela esperando você chegar. Você, sempre com esse sorriso devastador que me faz não querer me mudar desse mundo nenhum minuto si quer. Até o número da casa dela reflete o tanto de vezes que eu tirei e botei a mão no bolso com a ansiedade de vê-la. Mas eu não vou mudar, não vou me mudar.

Penso nos nossos filhos brincando na nossa varanda, na nossa morada, com a gente… É tão bacana pensar que a gente pode ter um futuro com alguém, mas é muito mais angustiante pensar que não posso ter nem o presente. E o melhor presente seriavocê do meu lado e a gente se apoiando um no outro, entrelaçados num abraço.

Eu já chorei por muita gente, mas quando eu te vejo até a sala de estar fica menos vazia e o sótão fica tão cheio de pensamentos de carinho que eu só penso em rezar por teu seio e que o seu colo seja minha nova casa. Como se você fizesse uma cabana dentro de mim. Ou então podemos deixar isso para os nossos filhos. Que tal?

É logo ali, tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Longe, porque não sei se abri a porta do seu coração trancado pelas decepções do passado. Ou perto, pela minha astúcia de querer falar com você e parar sempre que te vejo para perguntar se tá tudo bem. Estou perto em oração, em canção e você? Ora você… Está do outro lado da rua.

(Autor: “Daniel Velloso, escritor, autor do livro “Avesso da alma” pela Editora Multifoco, nascido em 1985 e viciado em sonhar.”)

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É escritor, estudante de Psicologia e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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