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Alzheimer: Cuidando dos cuidadores

Há algum tempo me propus a escrever sobre as experiências vividas pelo paciente acometido pelo Mal de Alzheimer assim como as possíveis situações experimentadas por sua família. No presente ensaio gostaria de dissertar um pouco sobre o cuidado necessário para com aquele que cuida de pacientes assim diagnosticados.

Uma mãe devotada deve naturalmente renunciar de si mesma quando dedicada aos cuidados de seu bebê. Inúmeras possibilidades devem ser renunciadas temporariamente, sendo que algumas definitivamente, por conta da chegada do bebê.

Pensadores da psicanálise como Melanie Klein, Wilfred Bion e Donald Winnicott, buscaram inspiração no modelo de maternagem para a estruturação da prática clínica da psicanálise.

Também cabe a aquele que cuida de idosos, essa mesma inspiração, já que o envelhecimento é uma etapa do desenvolvimento da vida onde o sujeito apresenta um gradual processo que o torna cada dia mais frágil, levando-o a uma condição semelhante aquela vivida na primeira infância.

O idoso, assim como o bebê, carece de atenções peculiares, no que se refere à alimentação, à higiene, assim como na proteção. O idoso deve gradativamente resgatar configurações peculiares do verdadeiro eu, que é desprovido das defesas próprias da parte falsa do eu, desenvolvida para a vida social.

Dessa maneira revive uma forma primitiva de funcionamento físico e emocional. “O ego primitivo sendo frágil, lábil e variante em sua integração, depende da mãe para proporcionar noções de contenção, como as de amparo, constância e equilíbrio.” (Martino, em PRIMEIROS PASSOS RUMO À PSICANÁLISE, 2012).

Da mesma forma, o cuidador dedicado do idoso deve cumprir semelhante função. Revela-se então a necessidade de abdicação de desejos e adiamento de vontades, enquanto cuida desse que se vê incapaz de cuidar de si mesmo, parcial ou mesmo totalmente. Outra característica que se assemelha com a do bebê é o medo da solidão.

“O medo do abandono é vivido pelo bebê como sensação de destruição iminente, já que o bebê só sobrevive através da mãe.” (Martino, 2012). Por mais que esteja cercado de pessoas, naturalmente o idoso padece com intensidade com a ansiedade da solidão.

O cuidador dedicado, impreterivelmente será contagiado por esse medo, assim como por outras formas de ansiedades, que são experimentadas pelo idoso dependente. Assim como na maternagem e na prática psicoterapêutica, também o cuidador de idosos naturalmente experimenta uma enorme carga de estresse gerado pela grande exigência desse exercício.

Leia Mais: Será que o Alzheimer é hereditário?

No caso do idoso acometido pelo Mal de Alzheimer essa carga é ampliada, pois a dependência emocional que se instala é muito grande. Por conta disso, se faz necessário certo procedimento de cuidados especiais, sobre tudo no âmbito emocional, com o sujeito que ora se coloca na função de cuidador de pacientes nessa situação.

Diferente da mãe com seu bebê e do analista com seu paciente, que mesmo sendo no tempo próprio de cada um, devem experimentar de um progresso no que se refere ao que se pode perceber de maneira sensorial, o cuidador de idosos viverá uma difícil experiência onde dia a dia seu paciente deve apresentar maiores dificuldades. Quando se trata do paciente com Alzheimer a situação é mais difícil ainda, pois até na questão emocional-afetiva existe uma degradação. Sendo assim, até a troca afetiva fica comprometida. Por isso o cuidador deve estar muito bem nutrido de afeto que possa vir de outra via.

“É de extrema importância que, ao se arriscar nesse abismo chamado bebê, a mãe conte com um alguém (marido/pai) que mantenha a mão seguramente dada. De outra forma existirá sempre um grande risco de se perder nesse abismo. (Martino, 2012). Da mesma maneira, o cuidador de idosos, sobre tudo do paciente com Alzheimer deve contar com um vínculo saudavelmente nutridor. Para ser capaz de cuidar do outro é imprescindível que esteja cuidando de si.

É inegável que o cuidado com a saúde física é fundamental, mas, se concordarmos que a auto-estima só pode ser nutrida a partir da estima do outro, então a manutenção de vínculos saudáveis é fator preponderante. Um sujeito que descuide de sua saúde mental, coloca em risco todas as outras dimensões de sua vida.

(Autor: Prof. Renato Dias Martino)

(Fonte: pensar-seasi-mesmo)

*Texto publicado com autorização do autor.

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