Aquela criança adorável ä quem você dedica tanto amor “sentou” a mão na cara daquela outra criança adorável. Socos, pontapés, mordidas e por vezes até um novo repertório de palavras nem sempre adequadas para o tratamento dos pares. E se você é pai ou mãe de uma criança que está apresentando comportamento agressivo, já deve ter sido chamado várias vezes para conversar sobre o assunto. A situação é desconfortável para todos os lados: escola, pais, crianças e o próprio “agressor”. Mas o que fazer diante da situação quando você sente que já tentou de tudo?
Bom, em primeiro lugar é preciso assumir que você está enfrentando uma dificuldade. Fingir que está tudo certo pelo “bem da aparência”, para manter o status da família irreal da propaganda da margarina, não vai te ajudar. Temos o hábito de associar a dificuldade com o fracasso e eles não tem relação, nem são primos próximos.
Há uma série de fatores sobre os quais precisamos pensar e conversar quando falamos sobre agressividade. Nesse papo pretendo explorar um pouco de alguns dos fatores envolvidos na equação para então linká-los com estratégias possíveis para passarmos pelo desconforto e encontrarmos amparo. O foco não é encontrar culpados, o foco é buscar solução.
Em primeiro lugar, como vão as coisas em casa? O primeiro e mais importante lugar de convívio e socialização da criança é sua própria família. Se o período que estão vivendo está estressante, a comunicação entre a família encontra dificuldades e agressividade está presente de forma física ou subjetiva nos diálogos, é natural que a criança introjete aquela vivência e leve para dentro do espaço educativo.
Criança não separa o “pessoal” do “profissional”, não há ainda esse filtro “ético” de convivência em outros espaços. Para que serve eu saber se o problema está em casa? Porque então o seu olhar se amplia diante da situação e você pode procurar ajuda para administrar o momento que estão vivendo. O que está afetando seu ambiente? Dificuldade de comunicação entre os cônjuges? Situação financeira? Lembre-se: estressores desse tipo, dentro da família, na primeira infância (0 aos 6 anos) podem trazer consequências negativas para toda a vida do indivíduo. É preciso um olhar cuidadoso com essa fase.
“Eu bato, bato e não resolve”. Bater é um ato de violência por si só. Você bate no seu marido ou na sua esposa quando ele/ela te tira a paciência? Você não bate no seu/sua chefe porque ele está abusando e passando dos limites, bate? Bater é quase como uma não linguagem. Eu sei que às vezes é tão frustrante que a gente sente aquela raiva subindo, aquela impaciência borbulhando, mas não será assim que a criança se sente quando opta por bater no colega? O comportamento aprendido aqui é: não gosto do jeito como o outro se expressa comigo então uso da violência física para puni-lo. Acho difícil que resolva a longo prazo. Você só conseguirá que seu filho/filha tente repetir o comportamento inadequado quando “ninguém está vendo”.
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Qual linguagem essa criança tem para usar? Se ela não fala, é provável que comunique seu desagrado corporalmente ou através do choro. Se ela já sabe falar, é possível que ainda lhe falte vocabulário e entendimento dos próprios sentimentos. Por isso é tão importante ajudá-la a identificar o que está sentindo: “Eu sei, você está com raiva. Tudo bem, nós sentimos isso as vezes. Que tal respirar fundo agora? Precisa de um abraço?”. Medo, frustração, raiva e outros sentimentos precisam ser nomeados para as crianças. Junto com o nomear é preciso ainda ensiná-los o que fazer para ajudar o corpo a se reajustar biologicamente. Lembre que há descarga de hormônios estressores em todas essas situações.
Os adultos referências (cuidadores ou educadores) são os moduladores do que as crianças estão sentindo e de suas reações. Se você “surta” junto com a criança ela não entenderá o que está acontecendo, seus hormônios estressores continuarão em alta, ela não aprenderá a linguagem adequada para lidar com a situação e os dois sairão cansados e piores do que quando o surto começou.
Há uma administração do convívio entre as crianças que os educadores fazem todo dia. Faz parte do trabalho deles participar do aprendizado das negociações entre pares, dos filtros éticos de convívio, do respeito mútuo e de um ambiente seguro de expressão. Mas o educador não dará conta de atender as demandas citadas acima (exceto a de não surtar junto), porque seu trabalho não pode dar conta disso. Há outras crianças que precisam ser cuidadas no mesmo momento e o ensino dos conteúdos técnicos e culturais lhe é a função principal.
Amor, convívio e diálogo ainda são o caminho mais longo, difícil e mais eficaz.
Se nenhuma estratégia der certo, procure o apoio de um psicólogo. Acho ótimo que estejamos atentos com a medicalização desenfreada e que não nos deixemos cair em falsos diagnósticos, mas está tudo bem procurar ajuda profissional quando estamos enfrentando problemas. Não é assim quando procuramos um médico? Ao persistir os sintomas, procure seu psicólogo.
(Autora: Pamela Greco)
(Fonte: paisqueeducam)
*Via nosso site parceiro.
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