Fim.

A história da saudade começa assim, encerrando ciclos, fechando portas, encostando janelas, doando roupas, remendando o coração da forma que dá e torcer que o tempo passe depressa, pra afastar essa dor que parece não acabar.

A gente pode se preparar para uma possível perda. Receber o resultado de um exame de uma pessoa querida, que traz consigo a incerteza do amanhã e alguns bocados de choros. Traz também a vontade de fazer o que dá tempo, sem nem mesmo saber pra onde ir ou que fazer. Mas agir. Nos confortar com o fato de que, mesmo com os dias contados, ainda dá pra sorrir mais um pouco e ter mais lembranças boas pra serem guardadas.

Mesmo nos preparando, quando alguém se vai, dói. E não é pouco. Machuca. Dilacera. Corta. Devasta. Tira o chão.

E perder alguém quando menos se espera é como perder um aniversariante antes de cortar o bolo. A festa fica pela metade, a música, inaudível. Tudo começa a ficar meio cinza… e sem sentido.

Morreu atropelado. Bala perdida. Reagiu num assalto. Acidente. Infarto. Briga.

Que piada é essa da vida de nos tirar quem a gente ama, sem hora marcada? Sem notificação? Sem aviso prévio? Não tem graça. O sofrimento turvo não dá trégua à bonança.

A ficha não cai. Tem novidade, dá vontade de contar. Compartilhar. Pedir colo. A vida segue imperfeita. E não adianta culpar o Cara lá de cima, cobrar do Universo, choramingar pro tempo… a vida é sobre partir e ver partir.

Saudade é o sentimento que fica. Fica ausência com vontade de presença.

O que resta é se remendar em esparadrapos invisíveis, se entupir de frases feitas pra tentar enxergar o tabu da morte com outra percepção, continuar com a rotina e se esforçar pra não sufocar a si mesmo com tantos planos não realizados.

Me consolo com a certeza de que pessoas que partem estão num lugar melhor. E vou me convencendo agarrada na esperança de que a vida e a morte são passagens, que não exista mais adeus nem finais. Só saudade e um até breve.

Em breve começaremos mais uma história, com quem não pôde ficar até o nosso final.

*Título original: “Até Breve!”

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Ela ama comer. Tem medo de apontar para uma estrela no céu e acordar com uma verruga no dedo. E também ama comer. Acredita que troca de olhares, às vezes, são mais bem dados que beijos de cinema. Não confia em pessoas que não gostam de animais. E ama comer. Tem medo do escuro e acha normal falar sozinha. Vive no mundo da lua e adora comer por lá também. É sagitariana, paulista, teimosa, devoradora de filmes, gulosa por livros e por comida também. Mas acha tolice tudo acabar em pizza, porque com ela, acaba em texto. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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