Interessante pensar sobre o lugar mítico que a maternidade tem na sociedade.

Para muitas pessoas, ainda parece um tabu pensar na “sombra” ou no ódio materno.

“A vida só ganha significado depois da maternidade. Que todas as mães são boas, amam incondicionalmente seus filhos, que se apaixonam depois do primeiro ultrassom. Que não sente saudade da vida de antes. Que não tem raiva do filho”. (Bernadi, “um manifesto pela maternidade real”)

A maioria das mulheres só se dá conta do atravessamento da sombra materna quando no exercício da maternidade.

Mulheres ao redor de todo o mundo vão as ruas, lutando ou comemorando pela legalização do aborto. Gritos, abraços e risos de euforia são dados.

Que sombra seria passível de ser observada, se a maternidade fosse uma realidade compulsória ou indesejada?

É interessante notar que, para algumas mulheres, o exercício da maternidade é tida como uma obrigação a ser exercida por elas mesmas, seja pela opinião da sociedade ou da própria família e acabam, por isso, a inocular não-ditos na cadeia psíquica familiar.

Suas crianças descendentes da cripta traumática, tem muitas vezes que, se constituir num lar rude, intolerante, cheio de raiva e culpa.

E, semelhantemente ao Édipo, herdam o dever de elaborar enigmas que nunca foram ditos, mas sempre foram sentidos, comunicando por meio de sintomas (Lacan, 1975), o que não pôde ser simbolizado por suas mães.

Mas, quando finalmente são capazes de obter a ampla compreensão das díspares localizações que um sujeito pode se pôr, dentro de uma cadeia psíquica familiar e, de forma amoral, obter um entendimento sincero, das diferentes deduções daí possíveis, viabilizam não só a cura da sombra materna, mas também a de todos seus ecos transgeracionais.

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Fernanda do Valle é Psicanalista do FV Instituto, formada pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo, atua como Psicanalista desde 2009, seguindo uma orientação Freudiana e Lacaniana, atende jovens e adultos em sessões presenciais e online. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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