Definição de psicoterapia existencial: psicoterapia existencial é uma abordagem terapêutica dinâmica que se concentra nas questões enraizadas na existência.
Para ampliar esta definição concisa, quero esclarecer a expressão “abordagem dinâmica”. “Dinâmica” tem uma definição leiga e outra técnica. O significado leigo de “dinâmica” (derivada do radical grego dynasthai, ter poder ou força), que implica vigor ou vitalidade (a saber, dínamo, um atacante dinâmico de futebol americano ou um orador político dinâmico), obviamente não é relevante aqui.
Porém, se fosse esse o significado aplicado à nossa profissão, onde estaria o terapeuta que se declararia ser outra coisa que não terapeuta dinâmico, em outras palavras, um terapeuta vagaroso ou inerte? Não, uso “dinâmico” em seu sentido técnico, que retém a idéia de força, mas tem sua raiz no modelo de funcionamento mental de Freud, que postula que forças em conflito no interior do indivíduo geram seu pensamento, sua emoção e seu comportamento.
Além do mais — e este é um ponto crucial —, estas forças conflitantes existem em diversos níveis de percepção; de fato, algumas são inteiramente inconscientes. Portanto, a psicoterapia existencial é uma terapia dinâmica que, assim como as várias terapias psicanalíticas, pressupõe que as forças inconscientes influenciam o funcionamento consciente.
Entretanto, ela se separa das várias ideologias psicanalíticas quando formulamos a seguinte pergunta: qual é a natureza das forças internas conflitantes? A abordagem da psicoterapia existencial postula que o conflito interno que nos atormenta brota não somente da nossa luta com os ímpetos instintivos reprimidos ou adultos significantes internalizados ou fragmentos de memórias traumáticas esquecidas, mas também de nosso confronto com os “dados conhecidos” da existência.
E quais são esses “dados conhecidos” da existência? Se nos permitirmos examinar e selecionar — ou “categorizar” — os assuntos cotidianos da vida e refletir profundamente sobre nossa situação no mundo, chegaremos inevitavelmente às estruturas profundas da existência (as “ultimate concerns” — preocupações últimas ou supremas —, para usar o termo do teólogo Paul Tillich).
Quatro preocupações últimas, em minha opinião, assumem grande destaque para a psicoterapia: morte, isolamento, significado na vida e liberdade. (Cada uma dessas preocupações será definida e discutida numa seção determinada.)
Os estudantes freqüentemente me perguntam por que não defendo os programas de capacitação em psicoterapia existencial. O motivo é que nunca considerei a psicoterapia existencial uma escola ideológica autônoma, bem-definida. Em vez de tentar desenvolver currículos de psicoterapia existencial, prefiro suplementar o ensino de todos os terapeutas dinâmicos bem-qualificados e capacitados, aumentando sua sensibilidade às questões existenciais.
Autor: Irvin D. Yalom
Fonte: livro “Os desafios da terapia” (página 14)
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