O grande mistério da existência não é o desaparecimento das meias das nossas gavetas, nem mesmo o gravíssimo sumiço na memória dos nomes de ex-colegas de escola e de trabalho. A coisa mais inexplicável e perturbadora do mundo são pessoas que pareciam fascinadas pela gente, praticamente apaixonadas, e que, sem razão aparente, viram fumaça, se desfazem no ar, se extinguem para nós.
Você já passou por isso, claro.
Conhece alguém deliciosamente atraente, conversa com ele ou com ela por horas e sente, para sua surpresa, que se fez uma conexão instantânea entre vocês. Não são apenas os olhos bonitos ou as mãos que mexem no seu cabelo. Você não quer o momento acabe! Ao final, trocam beijos demorados e sensuais, ou fazem sexo feliz, com a maior naturalidade. Tudo perfeito. Tudo como costuma ser antes de um grande apaixonamento. Depois dessa experiência transcendente, claro, você passa uns dias em total encantamento, esperando o próximo encontro. Só que ele não acontece. Você manda mensagens, dá um telefonema envergonhado, espera impacientemente, mas só recebe de volta silêncio ou evasivas. A pessoa que colocou você nas nuvens sumiu.
Pouca coisa no mundo pode ser mais frustrante, e provavelmente não existe nada mais comum. Todo mundo já foi deixado na porta da igreja, tendo nas mãos um buquê de esperanças ridículas. Acho que até o Chico Buarque e a Scarlet Johansson já foram seduzidos e postos de lado, em algum momento da existência. E aposto que eles, assim como você e eu, gostariam de saber o que aconteceu. Por que as pessoas somem?
Se eu disser que a resposta a essa pergunta está dentro de nós, vocês vão achar que virei um guru picareta, mas é a pura verdade. Para entender por que as pessoas somem da vida da gente, só temos de entender por que sumimos da vida dos outros. As razões são as mesmas, por piores ou melhores que sejam.
Seres humanos são criaturas complicadas. Podem sentir uma coisa hoje e outra totalmente diferente, amanhã. Ontem, eu era a pessoa mais interessante e sensual do mundo, e estava no centro das suas atenções. Hoje, não sou mais e não estou mais. Não há nada que eu possa fazer a respeito, e tampouco há do que acusar. Os sentimentos mudam e as sensações desaparecem. O desejo turva e embeleza, ou a carência faz as pessoas abraçarem miragens. Depois, sozinhas, em outro estado de espírito, concluirão que não é o caso. Não há culpa e nem culpados, muito menos vítimas. Só existem desencontros.
Na maior parte das vezes, – eu acredito – sumir significa estar preso a algo anterior. Quem some tem dentro de si um outro sentimento, uma outra pessoa. Ela ocupa permanentemente o espaço que por uma noite ou por algumas horas alguém mais ocupou. Houve química entre os corpos e as mentes se tocaram – a gente sabe quando isso acontece -, mas, no dia seguinte, aquele espaço de sentimento amanheceu novamente indisponível, bloqueado, inacessível, ocupado. Num caso desses, não há o que fazer. É sair do caminho e, secretamente, esperar e torcer. Se houve um momento bonito, desses que abre uma porta para dentro do outro, melhor não o estragar com apelos inúteis. Às vezes, a delicadeza é premiada.
Acontece também, com alguma frequência, que os sumidos estejam apenas perdidos. Sua cabeça está ruim e não sabem o que fazer com eles mesmos. Numa hora dessas, o encontro romântico é como um brilho de luz que logo se apaga, um breve hiato na escuridão dos sentimentos. Quando a energia se dissipa, o perdido descende de novo ao caos de si mesmo, e foge correndo da possibilidade de uma relação que é incapaz de sustentar. Gostar de alguém, iniciar um romance, exige estabilidade e segurança. Quando se está imerso em angústia e confusão, o amor pode ser apenas outro problema, não solução para coisa nenhuma.
Se esses perfis não descrevem quem sumiu da sua vida – e nem explica o seu desaparecimento da vida dos outros – é porque eles talvez sejam bonitos demais. Na vida real, coisas mais feias acontecem.
Caímos, frequentemente, por gente que não está nem aí para nós, embora possam sinalizar o contrário. Gente que está na pior pode nos usar como escada, inconscientemente, para se sentir mais atraente. Nós mesmos, que são somos bonzinhos, rejeitamos gente legal, com quem tivemos momentos bacanas, pelo simples motivo de que elas não conseguiram nos emocionar, embora na hora parecesse o contrário. Todos nós podemos ser caprichosos e tratar os sentimentos dos outros de forma cruel, sem que por isso nos transformemos em monstros. Mais cruel do que qualquer atitude dos outros é nosso próprio desejo de sermos amados. É ele que nos faz fantasiar com o que não existe e enxergar envolvimento e carinho onde havia apenas desejo e curiosidade.
Quando eu era menino, muito tempo atrás, costumava imaginar que as pessoas sumiam por minha causa, por algo que eu tivesse feito ou dito, por algo que eu fosse ou deixasse de ser. Sentia culpa. Mais tarde, numa mudança que dura até hoje, comecei a ter uma sensação carregada de tristeza, pelo desperdício da oportunidade.Não é sempre que a gente se encanta vertiginosamente pelos outros. Não é todos os dias que a possibilidade concreta da paixão se apresenta inteira à nossa frente. Quando isso acontece, quando você percebe o outro se inclinando na sua direção, e depois sumindo, dá pena. Pena de mim, dela, de todos que estivemos tão perto de uma coisa inesquecível. Mas – repito – não há muito o que fazer. Isso também aprendi. Há que esperar o momento do outro, que pode vir ou não vir. A vida é feita das coisas que acontecem e das coisas que poderiam ter acontecido. As possibilidades não realizadas vagam por aí. Elas vibram no ar como alternativas que, a qualquer momento, podem virar realidade. Como uma pessoa que tivesse sumido e reaparecesse, com um sorriso no rosto.
(Autor: Ivan Martins)
(Fonte: epoca.globo.com)
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Excelente!
Ai que lindo, um olhar poetizado e lucido para esse conflito que nem sempre sabemos como lidar, rsrs. Gracias ao autor!
Texto maravilhoso, parabéns ao autor!!
sábio, amei!
Eu precisava mesmo ter lido isso. Confirmou a conclusão na qual eu tinha chegado após várias noites mal dormidas.
Eu também
Acompanho os Fãs da Psicanalise ha um bom tempo. Este é um dos melhores textos que já li. Lindo, emocionante, consistente e profundamente verdadeiro.
Que texto doce e verdadeiro!! Uma reflexão dessas teria me ajudado há alguns meses, hj leio com olhos de quem teve que sofrer uns meses até entender um pouco sobre as relações humanas
Texto incrível, pensamento organizado e bem esculpido. Parabéns!!muito bom.
Isso quando essa pessoa que sumiu , loucamente não encontrou outro alguém a quem passou a enxergar nela o que via em você. Aí percebe a instabilidade psicológica e emocional desse pessoa,pois suas expectativas em relação a você não foram correspondidas.
Pode ser um pessoa que na Psicologia chama-se de 'Perverso' que vem de PERVERSÃO. Passa meses falando e mandando mensagens para você e pior dizendo que te ama. E quando você diz que não vive mais sem ela , imediatamente essa pessoa muda e começa a te tratar mal. E parece gostar de ver seu desespero e se afasta abruptamente. Sim, quem se iludiu demonstra uma carência muito grande , mas o perverso é de uma crueldade
atroz. Adoro poesia, mas transito muito bem na prosa. Este meu relato é real.
Perfeito, concordo com vc!