Categories: Terapia

A nova paixão de Cecília Dassi

Cecília Dassi tem 26 anos e é atriz há 22. Cresceu trabalhando em TV, Teatro e Cinema, além de realizar cursos para aperfeiçoar seu oficio. Aos 16 anos, quando formou-se no ensino médio, decidiu cursar Psicologia.

A escolha foi motivada pelo encantamento pela complexidade do ser humano e pela percepção de que, através da psicologia, poderia enriquecer seu trabalho como atriz. Com o processo de assimilação dos conteúdos durante a faculdade, Cecília foi tendo inspirações que uniam sua experiência pessoal e profissional como atriz com os potenciais terapêuticos aprendidos. Com intenção de maturar tais reflexões e ideias, Cecília decidiu formar-se arteterapeuta, para aprofundar seus conhecimentos nesse potencial terapêutico existente nas expressões artísticas. A partir disso, surgiram duas linhas de trabalho:

– O trabalho com atores infantis e suas famílias, focado no desenvolvimento psíquico-emocional saudável do pequeno profissional e na manutenção do equilíbrio da dinâmica familiar diante das demandas geradas por esse contexto;
– O trabalho terapêutico com atores que tem como objetivo tornar o indivíduo mais disponível para a entrega ao ofício, reduzindo suas resistências, bloqueios e vícios emocionais.

Entrevistei a Cecília e ela fala um pouco da carreira, do seu trabalho como arteterapeuta e suas experiências! Confira!

Cecilia, você começou sua carreira de atriz muito cedo. Você tinha apoio de terapeutas desde o começo da sua carreira?

Não, nunca tive nenhum acompanhamento psicológico. Essa prática só está começando a surgir recentemente.

Como é lidar com a fama repentina? É necessário o auxílio da família e dos amigos?

Eu honestamente não lembro como foi para mim lidar com isso. Eu era pequena e não tenho muitas memórias da época. Mas definitivamente o apoio da minha família me ajudou muito. Há alguns riscos neste contexto: o indivíduo pode ficar assustado com a fama, se sentir muito pressionado, exposto, tendo muitas pessoas criando expectativas sobre ele… isso pode acabar gerando ansiedade. Por outro lado, se a pessoa “comprar” os infinitos feedbacks positivos que passa a receber, se começar a acreditar que realmente é aquilo tudo que vêem nele, se vestir essa máscara e se identificar com ela, pode acabar havendo uma inflação do ego, uma autoimagem distorcida. Certamente a família e os amigos cumprem uma função importante de manter os pés do sujeito no chão, de lembrá-lo quem ele é, de onde veio, suas raízes.

Associando a ideia de pós-modernidade que nos possibilita interagircom várias pessoas ao mesmo tempo, como você acredita que as pessoas possam construir uma espécie de “eu interior” que as possibilite estar em paz consigo?

Acho que as pessoas precisam manter o contato consigo mesmas. Precisam se ouvir. Sentir e ouvir o próprio corpo, as próprias necessidades, os próprios sentimentos e pensamentos. Descobrir quem são e quem não são, o que querem e o que não querem e criar seu próprio caminho. Aprender com os erros e acertos alheios pode, sim, ser positivo, mas trilhar os caminhos alheios não. Introjetar sonhos alheios, construir sua autoimagem com informações de outras pessoas não. Precisamos ouvir mais a nós mesmos. Nos permitirmos sofrer e ser feio algumas vezes. Somos humanos, imperfeitos. Fingir que somos máquinas não trará serenidade.

Você se especializou em arteterapia por experiência própria, certo? Em qual momento você decidiu ir para o lado da psicologia? Tem alguma história específica que possa nos contar?

Eu sempre amei o ser humano. Sempre tive muito interesse por pessoas, por ouvi-las, conhecê-las a fundo. Quando pensei na opção da psicologia percebi que poderia ser útil como uma carreira alternativa, o que me traria mais segurança, mas que também seria algo que poderia dialogar com meus conhecimentos como atriz.

Como é separar a atriz Cecilia Dassi da psicóloga Cecilia Dassi? Como os seus pacientes lidam com isso?

Isso não tem sido um problema. No caso do meu trabalho com atores a minha experiência profissional ajuda. Não que eu fique falando sobre mim, claro, mas o conhecimento que adquiri ao longo da vida, as vivências que tive e o fato de o paciente saber disso fazem toda a diferença. Com relação aos pacientes não-atores acho que minha postura tem deixado clara essa distinção. O fato de eu ser atriz não é um tabu, mas não é algo que deve estar presente no setting terapêutico. Nunca tive nenhum problema para administrar isso.

Quais os principais problemas psicológicos que assolam o Mundo na sua opinião, e qual dica para amenizá-los?

Creio que a base de todos os problemas é a mesma: o distanciamento de si mesmo. A negação de aspectos considerados “inapropriados” pelo seu contexto sociocultural. Essa dissociação tende a gerar um medo do novo, um medo do que vem de fora e é diferente, porque passa a ser visto como um perigo iminente de “romper” essas barreiras de auto-proteção e de manutenção do equilíbrio (mesmo que tal equilíbrio seja patológico, ainda assim é um equilíbrio e tende a trazer segurança). Essa falta de abertura para ouvir novas ideias e conceitos, refletir, ter plasticidade e flexibilidade psíquicas para elaborar novas informações e se adaptar a elas, têm como consequencias a intolerância religiosa, sexual, racial, as dicotomias bom-mau, certo-errado, esquerda-direita, etc… pessoas impondo suas verdades e se achando capazes de determinar o que é melhor para o outro. É preciso antes de tudo se abrir para si mesmo e se respeitar, negociar consigo mesmo. Só assim haverá a possibilidade de se

Daniel Velloso

É escritor, estudante de Psicologia e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Daniel Velloso

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