O pleno comprometimento com o parceiro é um dos pilares do relacionamento amoroso. Sem que esse pilar esteja sólido, o relacionamento fica instável, permanece superficial e tem alta chance de terminar.
Como podemos aprofundar e manter o relacionamento com uma pessoa quando não sabemos por quanto tempo ela estará conosco, quão extenso e profundo são os seus compromissos conosco e quanto ela vai cuidar para que esse relacionamento tenha boa qualidade?
Uma vez que nos comprometamos, as consequências desse compromisso nos motivam para que cuidemos do relacionamento: “Já que entramos na canoa, temos que fazer o possível para que ela não afunde e navegue bem”. A pessoa com quem nos comprometemos também fica mais segura e motivada para se comprometer conosco.
Dimensões do comprometimento
O comprometimento tem pelo menos duas dimensões importantes:
1- Comprometimento para permanecer no relacionamento e evitar situações que possam colocar em risco essa permanência. Por exemplo, evitar colocar-se em situações que aumentem a chance de traição.
2- Comprometimento para cuidar do relacionamento e do parceiro. Para que o relacionamento dure, é necessário que ele tenha boa qualidade: os parceiros devem cuidar dele no dia a dia. Essa dimensão é muito importante. Muitas pessoas acham, equivocadamente, que para se comprometer basta não trair e não tomar iniciativas de terminar o relacionamento.
Segundo Robert J. Sternberg, autor de a Teoria Triangular do Amor (veja o meu artigo, publicado neste blog em 23/10/2014, sobre essa teoria: “Quanto de intimidade, paixão e compromisso existe entre você e seu parceiro amoroso?”) a “decisão/comprometimento” pode ser identificada pelas seguintes questões:
1- Você espera que o compromisso com o parceiro dure pelo resto da vida?
2- Quão determinada você está em se esforçar para manter esse compromisso?
3- Quão certo você está do seu amor pelo parceiro?
4- Você não consegue se imaginar fora deste relacionamento?
5- Você evita situações que poderiam por em risco o compromisso com seu parceiro?
6- Você imagina que o seu compromisso com o seu parceiro é tão forte que resistiria a grandes provas?
Sinais de evitação do comprometimento
Você está evitando estabelecer ou aumentar o grau de compromisso com o parceiro quando:
1- Você evita apresentar o parceiro para seus colegas, conhecidos e parentes. Por exemplo, você não o convida para festas da sua escola ou para conhecer o seu local de trabalho.
2- Você evita fazer planos com ele sobre a evolução do relacionamento. Por exemplo, você evita fantasiar junto com o parceiro como será a vida quando morarem juntos, casarem ou tiverem filhos.
3- Você evita expandir o relacionamento. Por exemplo, você evita dormir na casa do parceiro ou vê-lo informalmente toda vez que surge uma oportunidade.
4- Frequentemente, você ameaça ou tenta terminar o relacionamento.
5- Você mantém o relacionamento restrito a certos setores. Por exemplo, evita compartilhar com o parceiro seus planos profissionais.
6- Nas redes sociais, você evita assumir o parceiro ou mostrar que está comprometido com ele. Por exemplo, não muda o seu status no Facebook e evita postar fotos onde vocês dois apareçam de forma comprometedora (de mãos dadas, abraçados ou beijando, por exemplo).
Motivos para não comprometer-se
Existem diversos tipos de motivos que dificultam o comprometimento com o parceiro amoroso. Os principais deles são os seguintes:
Parceiro não atraente na área amorosa. Quando a outra pessoa não atrai como parceira amorosa, geralmente não há motivos para comprometer-se com ela. Neste caso, o não comprometimento é esperado e saudável. Na nossa cultura, a atração mútua é um requisito para o comprometimento amoroso.
O parceiro é atraente na área amorosa, mas possui algum inconveniente sério que dificulta comprometer-se com ele. Por exemplo, o parceiro é fisicamente atraente, mas o seu nível econômico está muito aquém do outro parceiro.
Dificuldade psicológica para comprometer-se. Certas pessoas têm dificuldades para comprometerem-se amorosamente mesmo quando as condições são muito favoráveis. Muitas dessas pessoas têm facilidade para iniciarem relacionamentos amorosos, mas se apressam em termina-los assim que começa a “ficar sérios demais”. Essas pessoas ficam em conflito: sentem muita atração pelo parceiro, mas, por outro lado, veem motivos para não se comprometer muito profundamente com ele.
O filme “Noivas em Fuga”, dirigido por Garry Marshall, relata o caso de uma moça (interpretada por Julia Roberts) que tem um histórico de várias fugas do casamento e como isso é vencido pelo “mocinho” (interpretado por Richard Gere).
Causas psicológicas da dificuldade para comprometer-se. Algumas dessas causas são as seguintes:
1- Traumas provocados por decepções em relacionamentos amorosos anteriores. Medo de investir no relacionamento e sofrer quando ele não dá certo, tal como já ocorreu anteriormente.
2- Estilo de apego evitativo. Quem tomou conta na infância era frio e distante e atendia pouco as necessidades da criança. A pessoa que teve essa experiência na infância não espera coisas boas de outras pessoas e acha que provoca poucas coisas boas nos outros.
2- Medo de abrir mão de outras possibilidades: renunciar a outras opões já existentes ou perder opções futuras.
3- O parceiro tem características que impedem o comprometimento com ele. Apesar disso, ele tem outras características que produziram o envolvimento com ele. Por exemplo, ele ganha pouco demais. Por outro lado, ele sabe como produzir a intimidade, despertou o romantismo e é atraente sexualmente.
4- Perceber mais vantagens em permanecer descomprometido do que em comprometer-se. Os “solteirões convictos”.
(Autor: Ailton Amélio, psicólogo clínico, doutor em Psicologia e professor do Instituto de Psicologia da USP)
(Fonte: ailtonamelio.blog.uol.com.br)
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Concordo com quase todo o texto. Mas quanto a trocar status nas redes sociais, é besteira. Às vezes as pessoas evitam expor o relacionamento virtualmente pelo simples fato de quererem privacidade. Inclusive para preservar o relacionamento, até porque uma relação sólida e séria não precisa de exposição para os outros. Exigir e esperar que o parceiro demonstre nas redes que está em um relacionamento é muito infantil.