A nova geração de homens com fraldas não é uma categoria de seres, mas um estado de carência e fragilidade no qual qualquer um pode cair.
É por isso que minha motivação não é ridicularizar tais homens, mas apontar os problemas que surgem quando nos posicionamos desse modo na vida. Escrevo, pois, do mesmo lado dos fracotes, não me opondo, não criticando por fora. Estamos todos no mesmo time e desejamos todos uma vida livre de mimos e carências, não é mesmo?
Destaco alguns comportamentos, que podem ser encontrados na nova geração de homens mimados. Comento cada um deles com o desejo de que todos nós possamos superar tais fixações e cultivar uma mente livre, um corpo potente, uma vida generosa.
Eles não comem mamão
Durante um almoço com a equipe de trabalho, descobri que o estagiário não gosta de suco de laranja com beterraba. Não gosta e não bebe. Em outro almoço, enquanto eu me enchia de mamão, me surpreendi com um: “Hum… Mamão eu nunca comi”. Sério, isto deveria ser diagnosticado e tratado como doença. Sou do tempo em que todos bebíamos o mesmo suco em família. Nada de “O que você quer?”, “Ah, eu quero Coca zero”, “E você?”, “Água de coco”, “E…”, “Ai, não, não quero nada”.
Não é necessário abandonar as preferências, claro, apenas não ser tão refém de “gosto” e “não gosto”. Eu não gosto muito de grão de bico na salada, por exemplo, mas como. Repito uma brincadeira que fiz em outro texto: “Toda mulher deveria desconfiar do desempenho sexual de um homem que não come de tudo”.
Eles não limpam o banheiro
Um homem só consegue parar de fazer cagada na vida depois que aprende a limpar sua privada. Ele suja, a mãe limpa. Ele dorme, a empregada arruma a cama. Que tipo de homem é esse? Enquanto tratarmos o mundo como um hotel, seremos hóspedes.
Para além da privada, o mundo. Aquele que joga lixo no chão deixa seu mundo menor, exclui a rua, exclui o banheiro público, se distancia de tudo o que poderia incorporar à sua moradia como um cidadão do planeta. É por isso que os homens mimados só olham para o próprio umbigo: ali reside seu mundo, a única coisa digna de limpeza.
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Eles não sabem o que querem da vida
Fato: se o homem não sabe o que fazer com sua vida, não saberá o que fazer com sua mulher. Além dos adolescentes que perdem tempo com distrações e jovens que patinam entre mil opções existenciais (alvos fáceis para essa crítica), há outros casos mais sutis, já que nem sempre ter dinheiro, poder, casa e família significa ter direcionamento na vida.
A nova geração de homens mimados pode ser representada pela imagem de moleques emos que não comem agrião ou por executivos dentro de uma Mercedes-Benz que nunca chegam a lugar algum. Ainda que eles consigam tirar muito da vida, pouco tem a oferecer. Como afirma Alan Wallace, nossa felicidade e a sensação de ter uma vida com sentido não é proporcional ao que extraímos do mundo e das pessoas, mas àquilo que trazemos ao mundo e às pessoas. Não é por acaso que encontramos muitos homens bem sucedidos completamente infelizes e impotentes, sem saber o que mais fazer com a vida (e com a mulher na cama).
Eles fazem o que têm vontade
O homem mimado se move com a certeza de que sempre há alguém olhando por ele, pronto para protegê-lo, socorrê-lo, salvá-lo, resgatá-lo e levá-lo ao hospital. A sensação de proteção divina e a confiança em um resgate paternal tiram sua responsabilidade: ele pode fazer qualquer coisa pois tudo acabará bem. E assim surgem os casos de colegiais estupradas, índios queimados, carros batidos, grávidas abandonadas, filhos abortados… O pai paga a faculdade para que o filho possa matar aula e beber.
O homem muda de vida quando deixa de fazer o que tem vontade e começa a fazer o que tem de ser feito. Não é à toa que a maioria dos caras que conheço só viraram homem quando tiveram um filho. Para fazê-los dormir, acabamos saindo do berço! Com outro ser à vista, vamos além de nossos impulsos e desejos de satisfação imediata. Desenvolvemos generosidade, talvez a maior qualidade de um homem guerreiro.
Eles não sabem o nome dos porteiros do prédio
O homem mimado perdeu a curiosidade que faz nossos olhos brilharem. Em seu prédio, seis porteiros se revezam e ele não sabe o nome de nenhum. A melhor amiga de sua irmã, o tema da pós-graduação do seu colega de trabalho, a viagem importantíssima que seu primo fará… Ele esqueceu dentro de sua apatia distraída. Quando você o encontra, ele sempre tem algo a falar e dificilmente oferece um espaço de autêntica escuta.
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Eles buscam conforto
Mesmo depois de começar a morar sozinho e não mais depender financeiramente de meus pais, percebi o quanto ainda eu mesmo me mimava. Comprava frutas na feira para a ex-namorada, pagava as contas, limpava o banheiro, mas ainda assim dormia até me atrasar e enrolava o máximo possível quando era preciso fazer tarefas chatas na empresa ou em casa.
Nossos ancestrais caçavam animais, passavam frio, viviam à beira da morte. Nós pedimos pizza, usamos edredons e andamos de elevador com ar condicionado. Concordo que não dá mais para sair com um porrete para caçar antílopes, mas é preciso resgatar alguns comportamentos que ativam a energia masculina do destemor. Podemos começar com pequenas coisas como às vezes não fugir tanto do frio com mil roupas ou suportar o calor sem ficar tão dependente de ventiladores e ar condicionado.
O conforto nos entorpece. Viver embaixo do edredom nos deixa sonolentos em vez de disponíveis, anestesiados em vez de atentos. É por isso que admiro mestres de meditação que, mesmo com toda a possibilidade de viver uma vida confortável, escolhem condições desafiantes como dormir no chão numa esteira de meditação em uma casa sem energia elétrica ou ficar imóvel com água congelante batendo na cabeça durante a meditação takigyo.
Enfim, como salvar essa geração?
Basta que cada homem mimado comece a se observar para perceber traços de irritabilidade, ansiedade, impulsividade, reclamação e autocentramento. Em vez de trazer o conforto e o prazer que esperamos, os mimos causam aflições mentais e corporais. Sofremos mais, adoecemos mais. Assim que percebemos o problema, começamos a mudar por puro instinto de sobrevivência.
Se você namora um homem que manifesta algum dos comportamentos acima, não ceda aos seus mimos, dificulte um pouco as coisas. Se você é amigo de um cara mimado, desafie-o, convide-o para algo que ele não domina: mergulho, rafting, montanhismo, poker, meditação ou uma noite de salsa.
Você pode tentar terapia cognitivo-comportamental, mas há meios mais simples e baratos de deixar de ser moleque de prédio. Como o mimo não é uma patologia biológica ou um distúrbio psicológico por excelência, mas um comportamento negativo (sintoma ou não de um problema maior), vou propor um método simples de cura. Nada muito sério ou científico: para quem não lava a privada, compre água sanitária e coloque AC/DC. Simples assim. Contemple sua própria vida, invoque desafios e elimine os seus mimos.
No próximo almoço, encha o prato com tudo o que normalmente não escolheria e coma com gosto. Supere a aversão a cheiros ruins, evite ejacular quando não tiver uma mulher na sua frente, pergunte o nome do porteiro, olhe o caixa nos olhos quando desejar “Um bom fim de semana pra você”, beba menos, faça alguma prática que lhe prive de todo conforto por algum tempo (seja uma vision quest ou um retiro de meditação), seja curioso em relação à vida de outras pessoas, tome banho gelado e aceite mais o que a vida tiver pra hoje.
Marque aquele seu amigo mimado.
(Autor: Gustavo Gitti)
(Fonte: papodehomem)
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Fantástico!
Amei
Confesso, que no início da leitura eu achei que o autor fosse uma mulher. E fiquei surpresa ao olhar o rodapé e ver que foi um Homem.
Caro Gustavo, na sociedade que estamos hj, encontrar um homem com esse nível de maturidade, está tão difícil quanto ganhar na loteria. Surpreendentemente, depois de um tempo de relacionamento, você percebe que a pessoa ainda precisa amadurecer, muitas vezes é tarde demais para sair fora antes de se machucar.
É um excelente artigo, preciso parabenizá-lo por isso.
Me desculpe a sinceridade Gustavo ( estranho esse texto sair da cabeça de um homem). Mas isso parece um discurso bem feminista. esse até pode ser um mal geral, mas não só dos homens. Um saco essa atitude de cobrança onde o que mais existe é o feminismo conveniente. Liberdade, direitos iguais ( mas nem tanto) os homens continuam com todas as obrigações que são convenientes... Espera-se que pague a conta ( mesmo que ela ganhe mais do que ele), seja cavalheiro, abra a porta ,puxe a cadeira...Feminazi, sagrado feminino, empoderamento...quando as mulheres mencionam essas palavras, liberam um feromônio que afugenta o macho...rs
Reparem que estas geralmente tem dificuldade pra encontrar um companheiro...
ô mundo chato!
Só queria entender onde o Marcelo viu discurso feminista...
Parabéns pelo texto, Gustavo, que fala de amadurecimento, de se tornar plenamente adulto e responsável por si mesmo, pelo que entendi.
Esse texto fala sobre a condição humana contemporânea. Item por item descritos acima falam sobre ambos os sexos, no meu circulo próximo tenho exemplos por qualquer perspectiva que se olhe, tenho amigos e amigas muito bem sucedidos e com problemas seríssimos no percurso da vida.
Por fim, passaram-se os tempos bárbaros, a medicina e a tecnologia estão extremamente avançadas e melhoram exponencialmente, homens e mulheres vivem além dos 80 anos ativamente, o molde de familia tradicional caiu por terra e isso deixa as pessoas livres para fazerem o que quiserem sim. O difícil é respeitar a liberdade do outro, parem de julgar como se cada um fosse incapaz de trilhar o rumo que bem entende.