“A Chegada” (Arrival, 2016) é uma produção de ficção científica roteirizada por Eric Heisserer e dirigida por Denis Villeneuve, que além do objetivo ficcional, carrega a mensagem da importância dos símbolos, significados além do puramente racional.

Neste texto não me atentarei ao roteiro referente à visita de alienígenas na terra, mas sim a essa mensagem simbólica expressa no filme, na qual relacionarei com o princípio básico da psicanálise: o inconsciente.

No mundo imaginado pelo autor de “A Chegada”, a humanidade relutou para compreender a existência de linguagens além do rigor lógico da fala ou escrita, mas com interação direta aos sentimentos, memórias, sensações e simbolismos. No mundo real, a psicanálise luta dia após dia pela mesma causa, vendo no inconsciente uma estrutura irracional e a fonte inesgotável da vida e dos símbolos.

Símbolo significa a concentração semântica dos sentidos, é o organizador e a matéria prima do inconsciente. Símbolo é o significado do sentido, do sentir, ou mais precisamente dos sentidos, em que o plural sinaliza a dimensão semântica que alarga os horizontes, abre os olhos para se enxergar além do observável, uma unicidade que desconsidera passado ou futuro e representa o mais ancestral registro humano.

Deste modo, muito além de seres racionais movidos por mecanismos bioquímicos, os seres humanos são também feitos por vivências, processos simbólicos que lhes tornam sujeitos únicos, com únicas potencialidades. Este é o homem humano que foi intimado a emergir pelos alienígenas no filme “Arrival”. Um sujeito do inconsciente, o homem trágico que é convidado na clínica, pela psicanálise, a entrar em contato com seu lado humano e simbólico.

O ser humano não se caracteriza enquanto mercadoria, não pode ser configurado tal como um robô, não pode ser reduzido ao lucro, consumo, ou poder. De modo contrário, deve ser potencializado enquanto organismo simbólico criativo. O que a psicanálise defende, assim como compreende Roudinesco, é o investimento subjetivo, sendo contrária a “abolição da subjetividade”.

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É nesse sentido que, nos dizeres de “A chegada” (2016), “A linguagem (ou o simbólico) é o alicerce da civilização. É a cola que une as pessoas. É a primeira arma (ou instrumento) sacada em um conflito”. A linguagem simbólica é o que há de mais valoroso para a humanidade, e não pode ser esquecida. O inconsciente é uma pedra preciosa que ao ser lapidado, se torna um libertador instrumento inesgotável de vida e desejo.

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Psicólogo clínico de orientação psicanalítica, atendendo em Itápolis-SP e Ribeirão Preto-SP. Graduado pela PUC (2014). Mestre pela UNESP (2017). Pesquisador membro do grupo de pesquisa SexualidadeVida USP\CNPq. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

8 COMENTÁRIOS

  1. “No mundo imaginado pelo autor de “A Chegada”, a humanidade relutou para compreender a existência de linguagens além do rigor lógico da fala ou escrita, mas com interação direta aos sentimentos, memórias, sensações e simbolismos.”

    Não sei de onde você tirou isso, seja do filme, seja de nossa realidade. Gostaria ou mesmo de saber alguns exemplos.

  2. Olá, Alberto. A citação na qual você se refere foi pensada a partir do contexto do filme. A linguagem utilizada pelos alienígenas era uma linguagem simbólica, não seguindo a mesma lógica da linguagem humana, e demandava a integração dos sentidos subjetivos, memórias, sensações…
    Ainda no filme, os personagens foram resistentes ao acolhimento de tais aspectos, até mesmo a Dra. Louise, personagem principal. Com o passar do tempo, ao começar compreender o nível simbólico da nova língua que estava tendo contado, aí sim, ela se permitiu mergulhar fundo nessa experiência.
    No texto, eu correlacionei essa linguagem especial e diferente com o inconsciente por ter na complexa teia de símbolos um significado muito presente e com possibilidade para ser compreendido a partir de sua análise. Neste aspecto de correlação é que trago para a nossa realidade, a partir da psicanálise.
    Espero que eu tenha compreendido e respondido adequadamente sua pergunta.
    Abraços.

  3. Quando vi o titulo do texto, fui ver o filme e gostei muito, o texto enfatiza pontos essências do filme, e de nossa realidade em relação ao inconsciente. Obrigado pela dica e pela reflexão! ^^

  4. Adorei o texto. Zerbanati está de parabéns, pois relata um dos segredos do humano. Não somos um mero emaranhado de átomos com códigos palpáveis, mas sim, algo transcendental (esses simbolos) que se mescla a realidade, dando algum sentido a existencia mão palpável, mas eterna. Abraços.

  5. Com incontestável propriedade, Zerbinati expõe ao leigo na matéria específica da Psicanálise os conteúdos científicos inerentes ao estudo e profissão da disciplina. Assim é que “Arrival”, o filme propriamente dito, não deve mesmo mostrar-se em primeiro plano, até porque a película em si não é a protagonista do assunto apresentado pelo psicanalista. Tenho 68 anos, sou formado em Letras (há muito!) e não sou assíduo visitante aos interessantíssimos meandros da Psiquê disseminados pelo “pai da Psicanálise”, muito embora o texto de João Paulo Zerbinati tenha-me, agora, despertado para contatos mais próximos dessa instrutiva matéria.

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