Faz semanas, talvez meses, que qualquer coisa te altera. Quando você não estoura por bobagem, começa a chorar sem motivo. Os amigos tentam te animar, mas você sabe que precisa de outra ajuda, então põe mãos à obra para marcar uma consulta com um psicólogo ou terapeuta. Você intui que essa é a solução, mas como saber se está escolhendo a pessoa adequada? A melhor maneira de descobrir é não deixar que o profissional seja o único a fazer as perguntas.
Como faço para que me escutem?
Antes de lhe contar sua vida, pergunte sobre sua carreira
Entre os psicólogos, como em todas as carreiras, há profissionais e profissionais. Alguns são adequados para realizar certos projetos e outros se encaixam à perfeição no manejo de situações completamente diferentes. Saber qual lhe convém fica mais fácil se você conseguir que respondam às seguintes perguntas:
Qual é sua especialidade?
No Brasil, essa pergunta é importante porque a psicoterapia não é uma atividade privativa de psicólogos, podendo ser praticada por outros profissionais, como psicanalistas —desde que não utilizem o título de psicólogo.
Que tipo de terapia faremos?
É importante saber em que consiste o percurso planejado pelo profissional, já que eles podem ser muito diferentes, e é importante estar disposto a se submeter a esse plano. Cada terapeuta tem suas preferências. “A cognitiva-comportamental trata a forma como o indivíduo interpreta as situações, como reage a elas e as emoções que lhe geram; a psicanálise procura a origem de nossos problemas em vivências passadas (geralmente na infância); o enfoque sistêmico trabalha da posição que determinadas posições ocupam na sua vida…”, diz a doutora em psicologia Silvia Álava. A abordagem escolhida pelo especialista dependerá da escola de que provenha e do tipo de problema que lhe apresentarmos. “Embora ele não tenha completamente claro o que acontece, depois de uma primeira sessão o profissional desenvolverá uma hipótese de trabalho em que escolherá o tipo de terapia”, continua a especialista.
Como sei se dará certo?
Pedir que tenha resultados garantidos é demais, mas com esta pergunta é possível obter informações relevantes. “É preciso perguntar e pesquisar se a metodologia do especialista é respaldada por evidências empíricas e se ficou demonstrada sua eficácia em casos como o que lhe apresentamos”, esclarece Álava. Para descobrir isso, podemos nos dirigir diretamente ao terapeuta ou a qualquer conselho de psicologia. Se uma metodologia tiver aval científico em casos como o nosso, é provável que funcione, mas isso não é garantido: também é importante nos sentirmos à vontade com o método. “A química entre o psicólogo e o paciente é fundamental. Quando não existe, podemos nos sentir pouco à vontade numa terceira ou quarta sessão, e largar sem ter conseguido nada”, aponta Dapra. Álava concorda: “É preciso criar um vínculo e uma aliança terapêutica. A pessoa que temos diante de nós deve nos passar credibilidade, e devemos confiar nas emoções que nos transmite”.
É hora do que interessa
Você recebeu a recomendação de um profissional que parece competente, e se dependesse de você começaria a terapia hoje mesmo. Mas tenha paciência. Há mais coisas que convém ter claras antes de contratar seus serviços:
Quanto vai custar?
Perguntar sobre o preço é de mau gosto? Nada disso. Na verdade, você faria mal em evitar esta questão. Para Dapra, porém, pagar menos nem sempre é um bom sinal: “Quem cobra pouco é porque não tem pacientes e usa o preço como chamariz ou porque se valoriza pouco profissionalmente”. Também há profissionais que oferecem a primeira sessão gratuita, mas “é uma forma de atrair clientes”, acrescenta. E se você não puder pagar? “Há centros que trabalham com fundações ou estão integrados a mestrados, que são mais baratos”, diz Álava.
Quanto tempo durará o tratamento?
Não hesite em fazer esta pergunta, mas leve em conta que respondê-la é difícil até para o profissional mais preparado. “Depende de muitas variáveis”, diz Álava. A principal é que estejamos envolvidos na terapia. O psicólogo dará as ferramentas, técnicas e estratégias com as quais resolver o problema, mas é o paciente que deve fazer o trabalho. “Também depende do tipo de diagnóstico, não é o mesmo um transtorno de ansiedade, que tem um tratamento mais curto [entre três e seis meses, em média, segundo Dapra], que um da personalidade, que exige ferramentas para toda a vida”, esclarece Álava. Mais clara está a duração das sessões: “Entre 40 minutos e uma hora”, diz Dapra.
E se eu precisar de medicação?
“O habitual é que a psicoterapia baste”, diz a especialista, mas certas pessoas que podem precisar de fármacos. Nesses casos, o especialista recomendará a visita a um psiquiatra. “O psicólogo não pode receitar remédios, e nunca deve fazê-lo”, observa a especialista. Não pode nem sequer nos propor remédios próprios da homeopatia. “Se fizer isso, desconfie”, afirma Álava.
Melhor perguntar agora do que lamentar mais tarde
Uma vez começado o tratamento, é normal que continuem surgindo perguntas. Qualquer fase da terapia é oportuna para fazê-las, mas o melhor é se antecipar. Estas são as perguntas que podem aparecer durante o tratamento:
Como saberei se o tratamento está funcionando?
“O melhor indicador é como você se sente, mas há registros e medidas tomadas durante a terapia”, esclarece Álava. O profissional pode mencioná-los de antemão. A especialista se refere, por exemplo, a questionários que o psicólogo aplica ou a diários em que o processo vai sendo anotado. Assim poderemos comparar se continuamos tendo a mesma quantidade de crises do que quando começamos a terapia, se nos sentimos tão mal quanto… Também permitem medir nossa melhora com as capacidades de linguagem emocional que vamos adquirindo ao longo das sessões: “No princípio, você se sente ‘médio’, ‘mal’ ou ‘bem’, mas essas não são emoções. Passadas umas três ou quatro sessões, você é capaz de se expressar mais”, esclarece Dapra.
O que devo fazer se não notar uma melhora?
Aqui entra em jogo a confiança entre terapeuta e paciente. “Se você travar, deve ser sincero e claro com o psicólogo”, afirma Álava. Só assim ele poderá avaliar se é preciso mudar o enfoque, procurar outras variáveis que não estejam sendo tratadas, ou saber se você está pondo o foco unicamente no negativo. “Há pessoas que vão ao psicólogo com expectativas de estarem sempre bem, mas isso é impossível na vida. Não se trata de estar todo o dia em cima de uma nuvem cor de rosa, e sim de saber gerir as situações ruins, e o psicólogo é quem nos dará as ferramentas para isso”, esclarece a especialista.
E se recair ao terminar a terapia?
“Uma parte muito importante das sessões é trabalhar a prevenção para que isto não ocorra, mas se acontecer não é preciso se preocupar. Podemos voltar a repassar as ferramentas e técnicas que aprendemos”, continua Álava. Nesse caso, é muito provável que o processo seja muito mais curto: “O habitual é que em poucas sessões se volte a conseguir”, conclui.
(Fonte: brasil.elpais.com)
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