Nos exigem cada vez mais eficiência, disponibilidade e não nos dão nada em troca. Nos perdemos do real. Já não sabemos mais quem são as pessoas diante de tanta distorção no perfil social. A bem da verdade, não sabemos mais nem quem somos, então, padecemos no isolamento da alma, no rebaixamento do coração, buscando um sucesso que interessa mais às aparências e àquilo que pensam sobre nós do à nossa própria felicidade. Queremos ser para os outros e é nesse ponto que nos perdemos e os remédios nos acham. Nessa defasagem, entre aquilo que esperam da gente e os sonhos que carregamos no coração, está a origem de toda a nossa angústia e estresse.
Ambições supérfluas e vontades reais se confundem. Nesse desajuste começa o desespero. Perdemos o sono porque nos parece impossível alcançar uma glória forjada. Viramos de um lado para o outro do travesseiro ansiando pela vida perfeita e diante de tanta imperfeição, cedemos à tentação de tomar um remédio para dormir e acordar no dia seguinte repleto de compromissos que nos estressam mais do que nos fazem felizes.
Saímos às ruas cruzando com uma sociedade que vive o mesmo dilema imaginário de um êxito vazio. Tropeçamos uns nos outros, esbarramos cegos pelo celular. A ponto de explodir, nos debatemos, insultamos, brigamos carregados pelo estresse de metas pessoais e profissionais incutidas com a finalidade de nos adequarmos aos padrões. Então, os nervos inflamam, o coração entra em taquicardia e um calmante, já na segunda feira, cai bem para segurar todo esse estresse de nunca alcançar os objetivos que jamais irão nos preencher de verdade.
E nossos sonhos ficam cada vez mais caros, porque os preços sobem e o salário desvaloriza, aumentando um lucro que nos confunde quando vemos tragédias deslizando aos nossos pés, queimando o fogo da dor em nossos corações, inundando a nossa alma de ansiedade por pura negligência humana. Em meio a desastres cotidianos, entregamo-nos a essa necessidade tosca de aprovação. Queremos o sucesso a todo custo. Buscamos aplausos, admiração. Desejamos ser os mais desejados.
Almejamos ser aceitos, ansiamos um afeto que anda escasso nesse mundo. Então, entramos em colapso, temos ataques de pânico, que são, na verdade, pedidos de socorro, de amor, de proteção. Entretanto, o que eles nos dão? Mais remédios. Ansiolíticos, que queimam nosso cérebro, mas nos fazem respirar novamente nesse mar de calmaria superficial.
Chega um ponto que entendemos que somos engrenagens de um sistema do qual também somos as próprias vítimas. Assim, um dia a gente acorda e não consegue levantar da cama. Cansados dessa batalha inacabável que nos consome em demasia. E tudo que queremos é a receita do antidepressivo. Porque ninguém mais se olha. Estão todos tão mergulhados em suas próprias frustrações que ninguém escuta, só fala e fala e quer ser ouvido sem ouvir. Nos desconectamos dos outros. Nossa autoestima se estilhaça pela eterna sensação de fracasso que depois de sugar toda nossa energia, nos joga no chão aos pedaços, enquanto a sociedade continua com aqueles que sabem administrar e tolerar melhor os seus remédios tarja preta.
E, em vez de criarem um mundo mais humano, nos dizem que somos esquizofrênicos, histéricos, bipolares, neuróticos, mas não aceitam nossa depressão porque ela é improdutiva. Corremos para casa em busca de compreensão, de colo, mas ninguém nos vê, pois estão todos escravizados pelas suas próprias dependências, implorando por socorro.
E quando decidimos largar toda ambição por uma cabana perto do mar para viver de verdade em vez de meramente sobreviver, nos chamam de loucos. Mas não devemos escutá-los. Precisamos priorizar a satisfação dos nossos sentidos, para depois pensar no resto. Porque é só assim que a gente deita na cama sorrindo porque entende que loucos, mesmo, são eles. E, então, dormimos cedo com o melhor tranquilizante que pode haver nessa vida: a alma em paz.