“Eu estava literalmente passando fome há dias, doente, perdido em Salvador.

Tinha fugido de um sanatório psiquiátrico onde fora internado por meus pais – não porque me queriam fazer mal, mas porque estavam desesperados para controlar o filho ‘rebelde’.

Vaguei sem rumo pelas ruas da cidade, que me era completamente estranha, sem um centavo no bolso, até que alguém me disse que havia uma freira que poderia me ajudar – eu já corria o risco de ser preso por vagabundagem. Fui a pé até a casa da freira.

Juntei-me às muitas pessoas que estavam ali em busca de socorro, chegou minha vez, e de repente estava frente a frente com ela. Perguntou o que eu queria – e a resposta foi simples: ‘Não aguento mais, quero voltar para casa e não tenho como’. Ela não fez mais perguntas (O que está fazendo aqui? Onde estão seus pais? Etc.).

Eu não comentei que tinha fugido do hospício e que corria o risco de voltar pra lá. Ela pegou um papel em sua mesa, escreveu ‘Vale um bilhete de ônibus até o Rio’, assinou, e pediu que fosse à rodoviária com ele e mostrasse a qualquer motorista.

Achei uma loucura, mas resolvi arriscar. O primeiro motorista que leu o que estava escrito no papel mandou que eu embarcasse. Isso era o poder daquela freira: uma autoridade moral que ninguém ousava desafiar.”

É com lágrimas nos olhos que escrevo essas linhas. Obrigado, Irmã Dulce, por seus dois milagres: matar a fome de alguém e permitir a volta do filho pródigo.

Paulo Coelho

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A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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