O perdão é um tema muito debatido, seja no aspecto religioso, ético, moral e psicológico. Estar disponível para perdoar os erros dos outros parece clichê, embora muitas vezes não estejamos preparados para este movimento em nossas vidas.

A nossa autoconsciência ainda não abrangeu a capacidade de adotarmos uma postura de não retaliação, pois caminhamos ainda a passos lentos nesta trajetória do verdadeiro sentido do perdão, aquele que não permite a reverberação do que ocasionou a dor física e emocional.

Tantas vezes, relutamos em permanecer paralisados no que nos feriu, e dependendo da gravidade e intensidade do ocorrido, conseqüências danosas podem parecer irreversíveis seja no campo material que emocional, tornando-se difíceis de serem administradas.

É exatamente neste ponto que precisamos assumir a responsabilidade para com nosso bem estar. Então, você deve estar se questionando: “Como assim, o outro me fez mal e eu ainda tenho que me responsabilizar e perdoar por tudo que aconteceu? Eu sou vítima disto tudo! Falar da dor do outro é muito fácil, mas somente eu sei as conseqüências do mal que até agora sinto na pele e que você sentiria o mesmo se estivesse no meu lugar!”

Não estou desmerecendo em momento algum que você foi vítima de um abuso, de uma agressão, de algo que a lesionou, que a subtraiu, a feriu ou a machucou enquanto pessoa. Muito pelo contrário, é legítimo. O que quero dizer é que você precisa trabalhar esta dor, permitindo-se sair da situação de “vitima” para elaborar o ocorrido e encerrar uma etapa dolorosa em prol de uma caminhada mais leve em sua vida.

Assumir responsabilidade para consigo não significa menosprezar sua experiencia, tampouco esquecer as agressões de qualquer natureza. Perdoar não é esquecer ou ter amizade com a pessoa que te prejudicou ou te feriu, mas sim uma decisão consciente de libertar-se de um peso que você não tem obrigação de carregar e a você foi destinado sem sua permissão.

Transforme a sua dor em algo benéfico para você e para a sociedade

De acordo com a Psicanálise, em linhas gerais, a sublimação é um mecanismo de defesa do ego e uma de suas “utilidades” seria transformar a angústia represada, o que não foi elaborado, o que nos prejudicou, em algo útil para nós e para a sociedade, sendo, por exemplo, o desejo de vingança e os sentimentos de mágoa, ódio e rancor experienciados em algo benéfico.

Por exemplo: pessoas que foram abusadas sexualmente, poderiam ajudar outras que sofreram deste mesmo abuso. Pessoas que chegaram ao fundo do poço, que desenvolveram uma Depressão profunda ou tentaram o suicídio, poderiam acolher com mais compreensão e empatia a dor do outro, compreendendo os seus processos. Do mesmo modo, perdoar poderia ter este sentido de reciclar o lixo emocional em uma obra de arte de grande valor pessoal e social.

Para refletir:

A dor emocional, o sofrimento, a raiva, o pesar e a angústia, se sublimados constroem belas obras de artes, edificam abrigos humanos, enxugam lágrimas e transformam tristeza e pesar em satisfação e gosto de viver. Obras de arte, trabalhos sociais e intelectuais são desenvolvidos através do processo de sublimação.

Infelizmente, nem todos os acontecimentos são sublimados, sendo alguns represados e outros canalizados em sintomas, que é uma forma de linguagem importante a ser considerada e trabalhada. Contudo, o mais importante quando o assunto é elaborar o processo do perdão, é saber que o maior beneficiado nesta dinâmica de auto libertação, será você mesmo, pois estará se limpando de um entulho que não é seu e ao mesmo tempo (e porque não?!), sendo um agente de transformação do mundo em que vivemos.

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Psicóloga, escritora, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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