*Somos itinerantes da vida e eternos buscadores de nossa essência. Atribuímos significados à nossa existência, às nossas experiencias, sempre questionadores e ansiosos por respostas às nossas crises.

Viver significa experimentar todos os gostos, sabores e dissabores, e muitas vezes, a vida, no ponto de vista da aprendizagem, nos fecha as cortinas radiantes da luz que nos orientava em nosso percurso, deixando-nos apenas a penumbra de nossa busca de compreensão para a vicissitude daquele momento.

Em algumas fases da vida precisamos acender o candeeiro do nosso ser, alternativa única para aclarar a estrada possível na busca do discernimento. Em alguns momentos, nos sentimos perdidos, confusos e desorientados. Parece que tudo o que fazia sentido em nossas vidas perde o significado que atribuíamos, pois percebemos que precisamos deixar para trás certezas e valores que não respondem mais às nossas questões.

Deparamo-nos com um momento de transmutação, de purificação, de transição, onde somos tomados pela sensação de angústia, de desamparo, de reflexões sobre a morte, da falta de fé na vida, e mesmo crises de identidade. Há uma sensação de despertencimento. Visualizamos as ilusões do que eclipsa em nosso ser em busca da epifania iluminada de nossas estrelas internas; acontece uma espécie de morte anímica que nos proporciona um novo renascer.

A noite escura da alma é uma verdadeira “prova de fogo” para o “buscador de si”, onde daquele ponto não existe outra possibilidade que seguir adiante na factualidade do que a vida nos oferta naquele momento, sendo também uma pràtica libertadora, apresentando-se como verdadeiro desafio de crescimento para alicerce da expansão da consciência. Sentimos não somente solitude, mas solidão, e tal como o eremita, temos apenas nossa eterna companhia para atravessarmos o rio Estige de nossa morte simbólica, de nossos restos arcaicos.

Geralmente a vida traz desafios daquilo que precisamos aprimorar. Todos nós, em algum ponto, em algum momento da vida, em alguma circunstancia, por conta de alguma crise nos sentimos atordoados. Este momento é um convite da vida à reflexão, é um despertar critico para o buscador.

Fatores externos balançam nossas estruturas, temos vontade de desaparecer em meio aos escombros da angústia represada que nos desestabilizaram. O coração se fecha, viver parece uma carga insuportável e tudo o que mais queremos é encontrar uma saída, um remédio, qualquer coisa que nos tire do nosso mal estar, mas parece que nada funciona, nada traz alento.

Quando estes aspectos se reúnem, uma transformação está por acontecer; mudanças significativas se anunciam, acontecimentos nos surpreendem com novas propostas, nem tanto acolhedoras. Neste momento, estamos atravessando pelas águas arquetípicas que espelham nosso lado sombrio: estamos atravessando a noite escura da alma.

Esta noite sombria é um processo divisor de águas entre o que não deixamos totalmente de ser, e os prelúdios da essência que brota como parte nossa. Mas todas as noites escuras passam, uma nova aurora chegará, pois como diz o salmo 30, “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manha.”.

É preciso encontrar a harmonia e o equilíbrio para afrontarmos com serenidade as visitas das nossas noites escuras que são geradas normalmente por experiencias emocionais negativas, como um luto, separação, mudanças inadaptadas ou quaisquer acontecimentos que coloque em jogo a capacidade de elaboração do individuo diante das atribulações advindas de mudanças bruscas.

Estes eventos são catalizadores através dos quais apontam a necessidade de uma mudança especifica em nossas vidas. É necessário reconhecer estes sinais, mesmo em meio ao temporal. Não podemos nunca deixarmos questões que nos causam sofrimento para depois, na esperança que estes se resolvam sozinhos; é preciso afrontá-los, digeri-los, questioná-los e ressignificá-los para que possamos nos reconectar com nossa essência e seguirmos adiante, pois não existe dor pior que a emocional.

Reflexão transmutativa:

E você, tem transmutado seu sofrimento? As lágrimas são curativas, tirando as impurezas da alma, assim como a chuva lava toda a poluição do ar, para surgir o broto. O lavar a alma faz surgir o nosso lótus interior, a luz de nossas compreensões, sendo uma oportunidade única de transmutação. É momento de cura interior.

Tente reunir todas as suas forças caso esteja passando pela noite escura da alma, pacificando seu coração, pois uma coisa na vida é certa: toda experiencia é transitória! Porém, o aprendizado permanece. Depois deste processo você não será nunca mais o mesmo. E não esqueça que é no ápice da noite escura que podemos vislumbrar os primeiros raios da alvorada. Precisamos passar nossos desertos para vislumbrarmos o oásis do nosso entendimento.

*Parte integrante do livro Fechamento de ciclo e renascimento. Parte 2: Superação de vida. Pag. 114.

(Imagem: JC Bonassin)

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Psicóloga, escritora, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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