Em uma viagem de família, numa dessas conversas de almoço bem descontraída, vi uma parente planejar a vida inteira da minha irmã: “Então, você vai terminar a faculdade mais ou menos no mesmo tempo que ele, aí vocês casam. Depois, viajam bastante, aproveitam a vida. Vocês vão ganhar bem né… aí vem os filhos”. Tirando eu, ninguém naquele cômodo percebeu o sorriso amarelo da minha irmã. Próximas como somos, eu praticamente li o que se passava na cabeça dela naquele momento: “E o que acontece se eu não quiser isso?”.
Ela não queria mesmo e eu sempre soube disso. Mas, por algum motivo, alguns parentes do mundo acreditam que planejar sua vida inteira por você é normal. Para eles, parece justo projetar em outra pessoa planos frustrados, relacionamentos que acabaram mal e carreiras que não foram um sucesso.
Por conta desses parentes, almoços de domingo, a páscoa, o natal e o ano novo são momentos de tensão. Eles vão perguntar como vai a faculdade (naquele curso que eles disseram que você não devia fazer), os namorados (se for namorada, não precisa falar) e a conta bancária, mesmo sem você ter dado nenhum espaço pra isso.
É difícil se desvencilhar dessas cobranças e, às vezes, percebemos que estamos fazendo exatamente o que eles planejaram. Seguimos infelizes, mas, pelo menos aos finais de semana, na mesa do almoço, seu primo vai ter que ouvir que deveria “seguir o seu exemplo”. Pelo bem da nossa sanidade mental, deixemos de ser exemplo.
Não existe um único meio de ser feliz, queridos parentes. Eu sei que parece injusto quando alguém não casa, não tem filhos, seguiu uma carreira inusitada e mesmo assim é feliz. Afinal, você não teve coragem de fazer isso, né? Seguiu exatamente o que lhe foi dito e não deu muito certo. Normalmente, os parentes que nos aconselham não são muito felizes em suas próprias vidas. Os felizes seguem dizendo “faça o que quiser”.