“Seja rápido em perdoar, porque todos estamos feridos” Anônimo.

Há momentos na vida em que nos sentimentos afetados por palavras mal ditas, atitudes grosseiras que vem daqueles que muitas vezes temos mais intimidade. Nessas horas a decepção é grande e ficamos ofendidos, magoados, sem entender o que aconteceu para que aquela pessoa tivesse uma atitude tão cruel.

Acontece que essa pessoa se comportou de modo diferente daquele que julgamos como correto, os valores que pareciam tão semelhantes aos nossos, de uma hora para outra se revelam maldosos, irritantes até.

O impacto das palavras, as críticas severas aos nossos erros, a má vontade quando precisamos de ajuda, o desprezo pelo nosso modo de agir, são pequenas ações que somadas nos levam a uma somatória de ofensas e ficamos severamente feridos. As cicatrizes dessa relação ficam dentro de nós por anos ou até décadas. Quanto mais próximos os ofensores são de nós, maior o impacto.

Gostaríamos que essas pessoas realmente nos entendessem, agissem com segurança e fossem acessíveis quando as coisas dão errado conosco. Nós gostaríamos que fossem gentis ao lidar com nossos erros. Gostaríamos que eles entendessem que não estamos fadados a ser apenas a soma total de nossos erros.

Claro que merecemos uma chance de recuperar esse relacionamento e mostrar que há chances e motivos para melhorá-lo. Gostaríamos que eles fossem mais compreensivos e avaliassem a forma como agiram que detonou o nosso modo de estar.

No entanto, a realidade pode se mostrar diferente do que idealizamos. O tempo e a energia para reconquistar essa pessoa ajudaram ainda mais a tornar as mentiras, os desapontamentos, os mau tratos, o desrespeito, evidentes. Assim nasce o rancor. Quanto mais nós insistimos em pensar sobre esse relacionamento, mais feridos ficamos.

Essa ferida pode piorar?

Quando eu estava no ensino médio, algumas das crianças mais legais da turma formaram uma banda. Todo mundo queria estar nessa banda. Eu tocava piano, então eu também queria estar na banda. Um dos meus melhores amigos também tocava piano, mas não tão bem. Eu fui o escolhido para tocar na banda, para o meu deleite, mas o meu amigo não e a situação ficou meio chata entre nós.

Quando começamos a tocar em shows, um piano nem sempre estava disponível. Então eu carregava para as apresentações um pequeno instrumento de sopro com teclado.

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Começamos a fazer shows, com uma boa resposta do público. Tudo estava indo bem, até que fomos convidados para tocar em um local perto da minha casa. Esse instrumento de sopro estava na casa do líder da banda, porque nós ensaiamos lá e eu pedi para ele levar até o show.

Na noite do show, meus colegas de banda apareceram. Infelizmente, o instrumento não foi encontrado. Aparentemente, ele foi levado ao local pelo líder da banda, mas desapareceu. Este foi um golpe amargo. Eu estava tão ansioso para mostrar minhas habilidades para todos que esperavam pela apresentação, inclusive minha família, que me abalei. Recorri à várias pessoas, mas não consegui encontrar o instrumento. O show aconteceu sem mim e fiquei extremamente abatido.

Com o tempo, a verdadeira história apareceu. O instrumento foi trazido para o local do show. Aquele meu melhor amigo que eu mencionei, que também tocava piano, simplesmente o havia pego e escondido. Eu fiquei indignado. Senti-me traído, violado e zangado. Eu me senti pronto para passar por cima do meu amigo como um trator e acabar com ele.

Ficamos sem conversar durante vários anos. Então eu recebi um pedido de desculpas. De alguma forma, as coisas nunca foram as mesmas entre nós. Fui para a faculdade de medicina e nossos caminhos nunca se cruzaram desde então.

O que acontece com o nosso cérebro quando guardamos rancor?

As partes do seu cérebro que se especializam em críticas se tornam mais ativas. Elas se alimentam de seus pensamentos  rancorosos. Os neurônios envolvidos estabelecem mais conexões, fortalecendo essa resposta negativa. A próxima vez em que alguém se comportar de uma maneira que você desaprova, seu cérebro mais prontamente vai para a região de críticas e julgamentos, fortalecendo o negativo.

Acontece que essas mesmas partes do seu cérebro que criticam os outros também criticam você. Você tende a ficar mais implacável com seus próprios erros. A autoaceitação recua. Torna-se mais difícil para você gostar de si mesmo. Além disso, pode acontecer um ciclo de críticas mútuas entre você e as pessoas que são importantes para você, que tende a enfraquecer as relações de apoio de que todos precisamos.

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O que você pode fazer para começar a mudar esse ciclo de crítica e autocrítica?

Primeiro, pergunte que tensões ou problemas podem ter levado a um comportamento indesejável. Tente encontrar explicações que enfraqueçam o impacto do comportamento “ruim” em sua mente. Isso é tão verdadeiro para a autocrítica quanto para criticar os outros.

Talvez as circunstâncias levaram você a agir de maneira lamentável. Encontre explicações para entender porque você fez o que fez. Depois que você se arrepende, não se importe com o que aconteceu. Dê a si mesmo o dom do perdão, fortaleça sua decisão de fazer o que é bom e importante daqui para frente e siga em frente. Esse mesmo dom do perdão pode ser dado aos outros, reconhecendo que todos os seres humanos são vulneráveis a erros ou mesmo a comportamentos terríveis.

Perdão não é o mesmo que reconciliação com o ofensor. Reconciliação é o restabelecimento da confiança mútua. Isso requer mais um passo como parte da negociação em prol do seu bem estar. Mas o perdão pode acontecer independentemente da reconciliação e do restabelecimento da confiança mútua.

Quanto mais você pratica a compreensão e o perdão, a partir de si mesmo, mais você fortalece as partes autoconfiantes do seu cérebro. Estas são as mesmas partes que mostram empatia e compaixão pelos outros. Elas fazem você aceitar mais a si mesmo, com todas as suas falhas e imperfeições. Todos nós temos falhas e imperfeições. Faz parte de ser humano.

Se eu pudesse voltar à minha juventude e ouvir novamente o pedido de desculpas do meu amigo, gostaria de ter agido com maior compreensão. Afinal de contas, se nossas posições tivessem sido invertidas e eu estivesse cego pela inveja, quem sabe o que eu poderia ter feito.

Para uma melhor qualidade de vida, com mais autoaceitação, tente amenizar os seus ressentimentos e seja gentil consigo mesmo. Algumas vezes isso requer um pouco de tempo e paciência…

(Fonte: tinybuddha)
*Tradução e adaptação: Equipe Fãs da Psicanálise

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