Gostaria de pedir um espaço na atenção do meu caro leitor para colocar algumas palavras sobre aquela que julgo ser a droga mais poderosa da atualidade. Chamo a assim, pois é diferente de drogas como a cocaína, da qual é necessário que o sujeito se arrisque e vá até o traficante para consegui-la.
É diferente também das drogas farmacológicas que dependem de uma receita médica, quando não, exige que se burle a lei para se obter e assim usar as de “tarja preta”.
Falo aqui de certa droga que é vendida indiscriminadamente (muitas vezes para menores de idade) em qualquer esquina (custando centavos a dose) e o pior, de enorme acessibilidade nas prateleiras dos super mercados. Escrevo aqui sobre a droga que sorrateira e silenciosamente ajuda a destruir as personalidades, as relações entre pessoas, famílias, sem contar na promoção de acidentes catastróficos e isso tudo com o aval da sociedade e da lei. Essa droga é a mesma que patrocina os principais programas de TV e enriquece os cofres públicos (assim como o cigarro) com arrecadação de impostos.
Contudo, minhas palavras vêm, sem duvida, acompanhadas da consciência de que o mal não se encontra no álcool, que por si só não tem vontade própria e existe na civilização há tanto tempo quanto o homem. Parece-me que o mal está no desequilíbrio daquele que faz uso compulsivo e assim abusivo dessa poderosa droga.
Estamos aqui cogitando sobre mais um dos instrumentos que vem sendo eleito para dar conta de certa compulsão, hoje muito comum.
A frase estampada nas propagandas: “se beber não dirija” (em minha opinião visivelmente ineficaz), não se enquadra só no ato de dirigir um carro, mas, dirigir-se ao outro, dirigir-se ao mundo, dirigir a própria vida. O mal não está na bebida, mas em sua acessibilidade e a forma como vem sendo utilizada. O problema está naquele que conduz sua vida sob o efeito do álcool e assim dificilmente produzirá algo bom.
Na realidade a proposta aqui está menos focada naquele sujeito do qual o uso do álcool é representado como uma patologia de dependência, mas ao sujeito comum que está longe de admitir o perigo existente na forma como faz uso da bebida alcoólica.
Falo aqui de algo que é prazeroso apenas para aquele que bebe e isso, muitas vezes, à custa do desprazer do outro. Na realidade, onde existe um sujeito usando o álcool de forma abusiva, sempre existirá “no mínimo” mais alguém sofrendo.
(Autor: Prof. Renato Dias Martino)
(Fonte: pensar-seasi-mesmo)
*Texto publicado com autorização do autor.