Dias atrás corríamos atrás de nossos amigos na hora do recreio. O intenso vai-e-vem de crianças de lá para cá, a euforia de cada passo e o grito “PEGUEI!” marcavam o pega-pega que deixava as tias loucas, repetindo que uma brincadeira como aquela poderia nos machucar, ou até mesmo quebrar um de nossos ossos, conforme o exagero da frase.
Hoje, já não há mais amigos; foram tornados em colegas quando percebemos que amigos são os que estão sempre ao nosso lado, mesmo quando não merecemos, e assim, por tanta importância, “amigo” é titulo para poucos. A euforia dos passos desalinhados e divertidos foi substituída pela pressa do pequeno intervalo entre emprego e universidade que agora comprometem boa parte de nossos dias e nos faz lembrar de quando ficávamos cansados de estar em casa.
Como é injusta a vida: hoje, o que mais se quer, é estar lá. E as brincadeiras… Bem, as brincadeiras não existem mais. Após os 20, com uma rotina pra lá de cheia e meio quilo de estresse, já não queremos mais balas, nem balões, e nem horas e horas em pé. Só se quer um café ou uma outra bebida qualquer, um Dorflex para aliviar a dor nas costas e uma cadeira pra sentar.
Bons tempos aqueles em que éramos crianças. A despreocupação que trazíamos no olhar era suficiente para nos dar tempo de imaginar a vida adulta, pensando que seríamos os donos de nossos próprios narizes, iríamos viajar os quatro cantos do mundo sem pedir autorização a ninguém, e comprar todas as novidades em bolacha que as marcas lançassem no mercado. E hoje sabemos que na verdade a vida adulta não é nada disso. Sim, há suas partes legais, divertidas e prazerosas, mas para aproveitar as felicidades, primeiro precisamos viver as dores do mundo.
E é aqui, nesse ponto da vida que se parar pra pensar, crescemos tanto. Como diziam nossos pais “saímos das fraldas”, e do engatinhar fomos ao correr do dia pra noite. As pressões da vida adulta são capazes de nos transformar naquilo que nunca imaginamos um dia ser. A enxurrada de dificuldades, críticas, decepções, finais e tropeços nos ensinam que a estrada é curva, íngreme e cheia de buracos. E quando caminhamos em meio à chuva, descobrimos que é necessário sempre ter uma troca de roupas à mão.
O escuro das decepções nos obrigada a aprender como caminhar onde não há luz, e a dor da saudade é a melhor professora quando o assunto é valorização. Quando sentimos fome aprendemos a repartir o pão, e a falta de dinheiro no dia 12 nos faz perceber que economizar é necessário, é até bonito na verdade.
Quando saímos sem a chave de casa e ao retornar é preciso ficar sentado no portão aguardando a chegada de mais alguém, notamos como o muro é alto, e como é bom ter alguém para nos receber na hora da chegada. E quando comem o pudim de padaria que foi deixado na porta da geladeira, nos damos de conta de como é chato repartir o que não seria repartido.
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Ser criança é bom, mas crescer nos fortalece. O dia-a-dia da vida nos leva a um novo patamar a cada ciclo. Os amores fracos nos preparam para a chegada de um amor forte; as notas baixas nos impulsionam a buscar notas altas; os atrasos por conta do ônibus mostram que precisamos de um novo meio de transporte; e a ressaca em plena quarta-feira nos lembra que terça não é um bom dia para bebedeira. Tudo o que acontece ao nosso redor reflete no interior de cada um de nós, e é esse reflexo que mais tarde nós chamamos de experiência e utilizamos como sabedoria popular.
É ralando os joelhos que se sente o ardor do sangue quente; é partindo o coração que se descobre o que acontece quando põe-se o dedo na ferida. É “ficando de mal” que percebemos a falta que os coleguinhas fazem; é participando de um sepultamento que compreendemos que algumas percas são imensuráveis. Algumas coisas precisam calar dentro de nós por um tempo, para que do lado de fora nós possamos nos calar também.
E não há nada mais bonito que o florescer de uma pessoa de dentro para fora. De repente, aquela garotinha birrenta torna-se a aconselhadora da turma. Do dia para a noite o garotinho medroso e tímido, aparece para todos com conquistas e histórias para contar. Então, floresça. Desfrute das muitas situações a que a vida lhe submete e perceba que já está na hora de soltar as mãos que sempre lhe seguram e seguir sozinho, tropeçando, caindo, levantando e voltando a caminhar.
Quando os ossos do corpo estão expandindo em tamanho, é comum sentir dores e incômodos. Por vezes, pensamos até que temos algum problema, mas na verdade, apenas estamos crescendo. É tempo de crescer! Por isso constantemente você enfrenta tantas coisas difíceis de suportar. Então, cresça! Ilumine o mundo com sua presença. Apareça e permita-se ser moldado pela vida. As crianças que me perdoem, mas a verdade deve ser dita: crescer é fundamental.