Buscar algo que faça sentido é inerente ao ser humano. Nascemos através desse impulso de vida, que enche nossos pulmões, e que nos faz respirar pela primeira vez. Acredito que seja nesse momento que passamos a sentir nossa primeira grande dor. Não só uma aflição física quando sentimos o ar nos invadindo pela primeira vez, mas também um desamparo avassalador. Antes estávamos instalados na bolha acolhedora que protege e que oferece sustentação, mas depois do nascimento o mundo todo sem margens é apresentado. Imagino que as primeiras ansiedades começam a aparecer nesse momento.

Atualmente são inúmeras as pessoas que sofrem dessa desregulação psíquica: a ansiedade. Procuram os consultórios médicos por não saberem ou não entenderem os aspectos afetivos e emocionais desse segmento. Tratam como doença aquilo que deverás faz parte de um processo defensivo da mente, que precisa ser entendido e trabalhado pelo profissional psicólogo e de saúde mental.

Não estamos diferentes dessa posição do bebê que acaba de nascer. Atualmente não encontramos margens no mundo globalizado, tudo é muito amplo, desconhecido e gerador de uma ansiedade destruidora. Sentimos uma incerteza muito grande do viver, daquilo que podemos experimentar, daquilo que realmente podemos ser ou sentir. Tudo aquilo que ainda não podemos nomear ou tornar símbolo pode ser assustador.

A questão essencial é que possamos nos questionar em relação a busca, ou seja, a partir desse suspiro, encontrar aquilo que é passível de fazer sentido. Ora, se acordamos e vamos trabalhar sem questionamento, sem propósito interno e só com a pretensão do dinheiro, é inevitável que isso seja gerador de uma ansiedade e vazio aniquilador, pois se isso não é consciente, temos a grande chance de nos tornar opacos, uma vez que parece não haver um lugar para findar. Por consequência, como o recém-nascido em seus primeiros minutos de vida, que ainda não sabe sobre o amparo e sobre as limitações que os pais poderão lhe oferecer, assim estamos vivendo nesse contexto sócio histórico, cada vez mais perdidos, armados e ansiosos por negar que existe um outro que muitas vezes está ali para nos oferecer o contato, o amparo e um sentido.

Os smartphones são também grande intensificadores de ansiedade. Efetivamente, quando estamos conectados e dividimos nossas partes (pensamentos) a cada contato ou a cada pessoa ao mesmo tempo, também ficamos vazios, a mercê do nada ou do sentir. Em outras palavras, quando estamos com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, no fundo e internamente, não estamos com ninguém. Isso vale também para as baladas, as festas e as euforias dos jovens que estabelecem entre si o ritual do quem “beija mais” e assim por diante.

A cada dia estamos mais próximos da desconexão humana, estamos muito bem conectados virtualmente, mas não emocionalmente. São grandes os atrativos da internet, das redes sociais e dos aplicativos de relacionamento. Contudo, como já dizia Bauman, “estamos vivendo tempos líquidos, nada é para durar, tudo é realizado numa dinâmica desenfreada para disfarçar o medo da solidão”.

O que não percebemos é que a ansiedade permanece quando sentimos (ou não sentimos) que não há construção, que não há base e alcances e estamos sempre partindo para outra, seja um outro emprego, um outro relacionamento ou um outro amigo.

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Nascer tem suas consequências, o bebê que nasce também precisa conhecer sua mãe, os indivíduos que o cercam e todo o ambiente, isso como já foi dito, nunca é tão fácil, entretanto é preciso fazê-lo para sua própria sobrevivência. O impedimento é que estamos sempre repetindo essa posição regredida, há também uma negação em sair da bolha, consequentemente não nos doamos ao outro, ao conhecimento e ficamos incertos do próprio lugar que ocupamos, com a sensação de uma ansiedade e uma consternação sem nome.

São vários os aspectos causadores de ansiedade: psíquicos, emocionais ou sociais, mas independente disso, em primeiro lugar, precisamos nos dar a chance de um “start” de vida, como aquele bebezinho que enche os pulmões e que respira pela primeira vez aliviado. A dor pode ser imensa, mas apesar disso, a sensação de ter respirado é gratificadora e a ansiedade de nascer já não se estabelece, ele está ali. E você, onde está?

Cora Coralina, uma grande poetisa do Estado de Goiás, que se considerava mais doceira que escritora, sabiamente nos diz: “Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida”.

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Psicólogo. É colunista do Fãs da Psicanálise.

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