Por que nos dar ao trabalho de questionar tudo, compreender as coisas e reconhecer padrões, isto é, dar sentido ao que percebemos?

Não seria mais fácil simplesmente “viver”, curtir o aqui e o agora, sem perder tempo com “bobagens filosóficas de quem não tem o que fazer”?

Insisto nesse caminho — o das “bobagens” — já há algum tempo, sempre acompanhado pela sensação de que uma simples descoberta, ou melhor, a evolução entre percepção e compreensão acaba revelando uma infinidade de coisas novas, possibilidades e relações cada vez mais complexas entre si.

Ao adquirir “consciência” dessa infinitude recém descoberta, passamos a reconhecer um novo sabor desse mesmo universo que conhecemos. Assim, por experimentá-lo ainda de uma nova forma, aumentamos nosso contato com o “todo” e, finalmente, nos sentimos mais completos.

Uma vez transformados e mais completos, adquirimos a capacidade de contribuir com a complexidade e harmonia do universo — aquele presente em cada um de nós — de forma consciente.

Esse “caminho”, em direção à completude e compreensão, nos leva outra vez ao início de todo esse processo, seu destino natural, instigando a curiosidade e a imaginação dos que buscam questionar, compreender e sentir. Eis o ciclo primordial do meu universo particular.

Surge também a sensação de um efeito colateral, infelizmente. Quanto maior a expansão desse universo particular, maior o abismo entre o Eu e todo o resto. Quanto maior o turbilhão de ideias, pensamentos e devaneios, maior a solidão — mesmo no meio da multidão.

Quanto mais a exuberância interna se reflete no exterior, maior a vontade de se afastar das coisas banais, de pessoas superficiais, sorrisos forçados, abraços tímidos e beijos sem paixão.

Mas não se deixe levar por essas coisas, mesmo que tenha se identificado e também esteja sofrendo de tais “efeitos colaterais”. No fundo, são apenas vestígios de uma história que já não convence mais; no fundo, somos mais do que isso — nosso Eu é maior.

Leia mais: Sua vida vai mudar se passar um mês inteiro sem reclamar

Seja ponte, nunca destino nem partida. Ponte entre o universo exterior e interior, ponte entre os outros, o Eu e si mesmo — pois não há nada melhor para transpor aquele abismo, por menor que seja.

Ponte, não apenas pra aceitar as transições da vida, mas pra se tornar a própria transição. Ponte para ajudar os que precisam de travessia. Se reconheça como ponte, nada mais.

RECOMENDAMOS




Engenheiro Químico (UFSCar-SP) e graduando em Psicologia (FMU-SP). É colunista do site Fãs da Psicanálise.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui