Tem momentos em que parece que algo emperra na vida. Pode ser a perda da presença de alguém ou a frustração de não estar conseguindo alguma coisa.

Enfim, algo que me desagrada ocorre e me sinto preso àquilo. Essa dor pode me indicar algo fundamental para o prosseguimento da existência: a necessidade de fazer novas escolhas.

O luto pelo falecimento de alguém, pelo fim de um relacionamento, a dificuldade de se conseguir o emprego almejado, a frustração constante por não receber colaboração de um determinado ente familiar, etc.

Poderíamos listar inúmeros motivos pelos quais acabamos por paralisar parcial ou integralmente o prosseguimento da vida. Chega a tristeza, a revolta… Porém, mais que isso, acontece o principal: não fazemos novas escolhas.

Somente novas escolhas permitem novos acontecimentos. Enquanto estiver eu focado em determinado relacionamento ou fato, mesmo que surjam possibilidades novas em minha vida, dificilmente poderei percebê-las.

Por exemplo, enquanto estou focado em um relacionamento terminado recentemente, mesmo que eu fique com outra pessoa, tudo vai “conspirar contra” esse novo relacionamento.

Tudo o que me desagradar nessa pessoa vai ser automaticamente comparado com a pessoa do relacionamento anterior, e tudo que ocorrer na vida da minha ex me despertará mais interesse do que os fatos da vida da minha parceira atual.

Em suma, eu ainda não escolhi superar meu relacionamento anterior. Acho que optei por viver um novo relacionamento, mas na verdade, apenas escolhi ter algo para me distrair da minha dor.

Fazer uma nova escolha não é simplesmente fazer uma nova opção. Acima de tudo, é compreender que a opção anterior não me serve mais. É importante chorar as perdas e frustrações, é importante se permitir se revoltar, levar para a psicoterapia e etc.

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Fundamental é entrar em contato com a dor e a sensação de fragilidade que advém de um momento de desilusão, frustração e perda. E quando essa necessidade de chorar e de se revoltar passa, chega a parte mais desafiadora: escolher, friamente, superar o objeto de frustração.

Voltando ao exemplo anterior, não vou mais escolher saber da vida da minha ex-namorada, e nem vou priorizá-la em detrimento de minhas vontades pessoais. A ideia é fazer escolhas que provem para mim mesmo que a vida seguiu, e que não há mais relacionamento com a pessoa e nem desejo para tal. A mesma coisa se aplica a outras frustrações e perdas.

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Evidente que esse texto não tem o objetivo de traçar uma postura ideal para o leitor. Cada um vai saber de si quanto ao tempo de luto necessário, ou se realmente quer superar o fato.

Pode ser que não queira, e tudo bem, que assuma isso e corra atrás. Mas a partir do momento que a dor já foi grande o suficiente para se buscar uma nova direção, que esta seja tomada com a sinceridade e a coragem que lhe são necessárias. A vida quando fica travada nessa contradição – de querer superar algo e não fazer por onde – perde muito de sua leveza e fluidez.

Muitas vezes um ponto mal resolvido desses interfere negativamente em todos os outros aspectos da existência. Quando vem o cansaço da dor, talvez seja a hora de fazer, verdadeiramente, uma nova escolha…

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Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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