Era inverno. Um lindo dia de sol. Céu infinitamente azul! Mas meu coração estava escuro, nublado. Chorei. Mais um dia insuportavelmente difícil!

Não queria dormir, para não sonhar com você, mas acordada, não saía dos meus pensamentos. Queria tanto não pensar em você. Esquecer que um dia fez parte da minha vida. Não conseguia. Todos os dias, era o meu primeiro e o meu último pensamento.

Sua companhia me fazia tão bem! Era divertida, alegre, cheia de agradáveis surpresas. Possuía um grande senso de humor, sempre procurando minimizar os contratempos do dia a dia, as contrariedades da vida. Era suave, não sufocava. Éramos embalados pelo laço da cumplicidade, respeito e compreensão.

Mas de repente tudo acabou, e eu me vi sem chão, sem rumo, sem direção, devastada. E por mais que eu escarafunchasse cada cantinho do meu coração não conseguia mapear, fazer o caminho inverso.

A sua partida deixou um vazio, um buraco, uma saudade. Você se foi sem avisar. Tudo ficou quieto, sem explicação. Não tranquei a porta, deixei-a aberta, à sua espera, mas você não voltou.

Não conseguia lidar com o vazio. Era como se não quisesse preencher um espaço que era seu. Não porque dei, mas porque você conquistou. Os dias eram longos e intermináveis, pareciam não ter fim.

As horas se arrastavam lentamente. Meu único desejo era ficar em silencio, em absoluto silencio, mergulhada em meus pensamentos, tentando encontrar uma razão, um motivo, mas em vão. Eram tantas perguntas e nenhuma resposta.

Mas um dia parei. Compreendi que o sofrimento não alcança somente os maus, os perversos. Alcança os bons também. Compreendi que a vida é escuro, é claro, é dia, é noite. É feita de chegadas, mas também de partidas, e que por mais que seu coração esteja quebrado em mil pedaços, a vida continua, sem pausas, pois o mundo não interrompe seu curso para que você o cure.

Compreendi que ainda que eu não quisesse deixar você partir, ainda que eu não quisesse dizer adeus, não tive como evitar. A escolha não foi minha. Compreendi que a estrada é longa e que os corações sobrevivem a dor.

Às vezes, as emoções embaçam a visão, então é preciso ceder à razão. Saber o momento de recuar, respeitar a vontade do outro de não atender suas chamadas, não ler suas mensagens, silenciar. Deixar que o tempo se encarregue do espetáculo.

Dessa forma, a única alternativa é seguir em frente, como na canção “I’ll Never Love This Way Again” de Dionne Warwick em que diz: “um tolo perderá o amanhã tentando alcançar o ontem. Não baixarei minha cabeça em lamento se você deveria ir embora.”

Apesar de longos e intermináveis, os dias passaram, pois o tempo é inexorável. Tem seus segredos, seus mistérios. Tem o poder de suavizar sentimentos, amenizar dores, mitigar saudades.

E assim a vida segue com seus ciclos. Outras primaveras, outros verões, outonos e invernos. Outros sonhos, outros amores, outras histórias.

Pois viver é uma arte. Somos artistas desenhando nossa própria história. E nesse enredo, ora somos apenas expectadores, ora coadjuvantes, mas quando tudo parece desabar assumimos o controle, e novamente, somos os protagonistas, contando e recontando narrativas não apenas com finais felizes, mas felizes apesar de, porque felicidade é escolha, não depende de acontecimentos ou circunstancias.

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Depois de um tempo, compreendi que tudo na vida é aprendizado. Às vezes a destruição, a ruína, é o único caminho ao novo, ao recomeço. Compreendi que até o céu tem seus dias de azul e de cinza, de luz e de escuridão e que cedo ou tarde, o tempo dissipa até a mais entranhada tristeza.

Não se entregue jamais a amargura. Não perca com ela, mais do que o tempo estritamente necessário. Invista sempre mais na esperança que na desilusão. Mais na confiança do que no temor. E, seja lá como for, persevere em seus caminhos.

*Texto publicado com autorização da autora: Eva Wolf

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