Talvez não saibamos com clareza a capacidade daquilo que podemos chamar de amor. Em histórias românticas vemos pessoas mudando radicalmente de vida para poder estar com o cônjuge.

Ao longo da história da humanidade, os grandes ícones da ciência, da filosofia e da arte abriam mão de muitas coisas para poder descobrir algo, para concluir uma obra, ou para prosseguir em pesquisas sobre as quais faziam grandes apostas.

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Vimos também grandes heróis de nações, que faziam coisas que, evidentemente, poucos da humanidade seriam capazes de fazer. Essa é a proeza do amor.

Mas, afinal, o que é esse tal de amor? Bom, nesse presente texto, poderíamos dizer que é a capacidade da pessoa estar atenta e de se entregar a algo. Incluindo a consequente capacidade de abrir mão de outras coisas em nome disso. Logo, amor aqui não é um desejo de reter, mas um bem-querer que podemos chamar de heroico. Isso é algo transformador?

Quando um casal está apaixonado, ou seja, quando os dois ainda estão encantados um com o outro e tem dificuldades de enxergar seus defeitos, ainda há muita projeção de si mesmo, e ainda por cima seletiva. Veem um no outro o que há em comum – ou seja, veem a si mesmos ou o que desejam para si – e não enxergam as diferenças.

Nesse caso, ainda é pouca a atenção e a capacidade de se entregar. Toda mudança de hábitos que ocorrer pode ser facilmente revertida com o primeiro grande desentendimento.

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Mas quando já é um relacionamento mais maduro (isso não necessariamente tem ligação com sua duração) pode ser que haja amor, e ele transforma.

Se os parceiros tem a capacidade de abrir mão de coisas que gostam ou de hábitos, sem perder a autonomia diante do que há de diferente entre ambos, existe amor. Se ela gosta de ir a estádio de futebol e eu não gosto muito, não há problema nenhum em ir com ela para acompanhá-la, para vê-la feliz ao meu lado. Inclusive eu posso me abrir para a possibilidade de curtir esse tipo de evento.

O amor transforma, pois me faz mais aberto para novas possibilidades. Da mesma forma, se eu me desentendi e fui agressivo com minha companheira e entendo que poderia ter uma postura diferente, por amor a ela posso rever os valores que me fizeram agir dessa forma.

Pode ser que naturalmente em uma próxima vez tudo seja bastante diferente. Sim, o amor pode nos libertar de valores que nos aprisionavam.

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Quando um gênio da filosofia abre mão de sono, de estar com amigos, de constituir uma família, ele está agindo em nome do amor. O amor pelo conhecimento filosófico o faz adquirir novos hábitos. A capacidade de estar atento às ideias o faz pensar e agir de maneira distinta.

Da mesma forma, um líder popular transforma ao se entregar a uma causa. Ele abre mão de diversas coisas para trabalhar pelos seus ideais, assim como aprende a cada momento com eles, revendo os próprios conceitos e hábitos. Transforma também na medida em que consegue arrastar muitos outros com ele, fazendo com que a vida de muitas pessoas também seja diferente.

Só com amor uma obra de arte bela é concluída. Só com amor uma família é constituída de maneira saudável para todos os seus membros.

Esse amor é vivenciado nos pequenos momentos da vida, em que apenas queremos abraçar determinada pessoa, ou até mesmo parar tudo para saborear uma fruta.

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Amor é o que faz o ser humano criar possibilidades, e por isso transforma e estimula no outro a transformação.

Existir é ter a capacidade constante de se entregar a algo e de abrir mão de outras coisas que não nos servem mais. Existir com amor é prosseguir sempre, se entregando sempre, modificando o mundo e a nós mesmos.

Só o amor transforma.

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Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

1 COMENTÁRIO

  1. REALMENTE EM MINHA VIVÊNCIA DE 50 ANOS. TIVE TRES CASOS, QUE CONFUNDI COM AMOR, MAS HOJE VEJO QUE FORAM VÁRIAS ESPÉCIES DE DEPENDÊNCIA,PSICOLÓGICA, INSEGURANÇA, NECESSIDADE DE COMPANHIA, EGOÍSMO. ATÉ QUE CHEGUEI A CONCLUSÃO SE AMOR EXISTE, NÃO CONHECI ESTE TIPO DE SENTIMENTO, OS RELACIONAMENTOS, SE ESVAZIARAM NATURALMENTE, TALVEZ POR ME SENTIR BEM SOZINHO SEJA UM SOLITÁRIO, UM SER INDEPENDENTE, OU UM CASO RARO DE FALTA DE NECESSIDADE DE UM PAR PARA SOBREVIVER TENHO 72 ANOS.

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