A gente mira um espelho torto, esquisito, que distorce formas e belezas. A gente declara guerra ao nosso templo, trata com ódio nossa morada, desdenha com convicção do nosso corpo.
A gente faz do nosso reinado um campo de insatisfações, uma tela de projeções do irreal. A gente segue fulana, beltrana, cicrana, idolatra aquilo que é imposto, almeja aquilo que é projeção de uma sociedade doente, carente de amor-próprio.
A gente maltrata o que é nosso com abstinências, agressões. A gente metralha com injúrias diárias o nosso reflexo. A gente aprende que é normal, que é mesmo assim, que mulher é tudo igual, que não estar feliz com o que se vê é condição natural.
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A gente se fere, se machuca, se maltrata, se flagela, se lamenta, se encarrega de poções mágicas, de chás-solúveis e solucionadores, que secam gordura, secam a alma, secam o carinho.
A gente vê o “antes e depois”, mas não vê humanidade. A gente enumera 10 dicas para amanhecer bela, 7 benefícios da alcachofra contra a celulite, 13 exercícios infalíveis para os glúteos, mas não consegue enumerar uma qualidade a nós mesmas quando somos interrogadas.
A gente vira projeção de mulheres não existentes, hipersexualizadas, cruelmente idealizadas. Uma farsa, uma mentira, uma afronta ao que realmente é belo.
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Você não é feita de plástico: você é feita de carne, osso, sangue, fluidos, suor, doçura, sangue, fervor e lágrima.
Ame o quadril que você ganhou da sua mãe, desfile esse seu cabelo que é só seu, veja com seus próprios olhos como sua cor brilha. Olha para as suas marcas que são só suas e são lindas.
Não é poesia, nem falácia sobre autoestima, não é água com açúcar para você se sentir bem, é uma verdade secreta que você tem que saber.
Você é linda. Não se trata de capa de revista, de miss simpatia, de coloração certa para o verão ou do corte de cetim do Chico.
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Trata-se de você. Dessa energia que pulsa dentro dessa carcaça que chamamos de corpo, dessa vitalidade que se derrama e que se desabrocha em seus poros.
Se veste de flor, menina. Se enfeita com mel, mulher. Se coloque na presença de Afrodite. Vire Atena, vire a cabeça, vire do avesso. Dance com lobos, bruxas, o diabo que for. Dance com você e tire sua beleza dos padrões.
Para você, não declare guerra, declare amor.
*Texto publicado originalmente por Fernanda Lopes no Site Lado M e reeditado com autorização do administrador