Sabe o que é não se importar com o humor do cabelo? Então, é assim que sou – ou pelo menos deveria ser mais vezes. É que tem dias que nem o espelho parece querer me ver. Mas aí esse dia acaba, outro começa, meu cabelo acorda sorrindo e saio de casa para viver.

E eu sei que dizendo dessa maneira pareço ser a pessoa mais interessante do mundo; a mais segura, beiro até o exagero da confiança dando a entender que eu não preciso de outro alguém, mas é muito pelo contrário.

Eu preciso e você também, mas nós precisamos mais de nós mesmos.

É que eu não quero depender de alguém para a vida me fazer bem.

Quando lembro de coisas que gostei de viver, tipo aquela boca que eu não queria parar de beijar ou daquelas pernas que se enroscavam nas minhas, eu paro e penso: que bom que pude viver isso, que pena que não posso mais, que ótimo que continuo aqui para viver outras coisas ainda melhores. Eu sou a minha melhor companhia.

Eu que não vou me enfiar em dívidas para ter a roupa da moda, e assim chamar a atenção como alguém que se atualiza, fazendo chover selfies no instagram mendigando elogios previsíveis. Prefiro gastar alguns trocados com bobagens no supermercado antes do meu seriado preferido de todo o sábado.

A diferença é que eu não estou nem aí se vou transar no fim de semana ou não, não estou nem aí se vou naquele show bombado em que todo mundo vai só pra falar que foi. Eu não quero saber disso. Eu sou a minha melhor companhia. Sou eu quem lida com a minha relação com a balança. Sou eu quem lê os livros mais aleatórios. Sou eu quem toma iogurte, se suja e lambe o potinho.

Ninguém nunca vai ser melhor pra mim do que eu mesmo. E isso não me faz alguém mais cheio de razão, alguém que não erra a não sofre, de novo, muito pelo contrário, pois confesso: eu pago o preço de ser real e ele custa cada lágrima que me desce o rosto feito navalha. Aí passa. Faço um acordo com o calendário e quando me dou conta lá estou eu de novo seguindo como se não tivesse vivido nada antes.

Não trato a vida com desdém, só não trato alguém como o último alguém. Pois os beijos acabam, mas a dor também.

Eu sou a minha melhor companhia. Eu tenho certeza de todo o bem que posso fazer e qualquer hora o mundo se encaixa e eu encontro um alguém para atravessar a rua correndo. O negócio é que eu não me preocupo com isso. Não vivo esperando, vivo fazendo. Não vivo em função dessa condição para ser feliz, todo dia eu dou um jeito de ser feliz. Se você não aguenta ficar um fim de semana sem alguém, você provavelmente é alguém que ninguém conseguirá ficar um fim de semana com você.

Sabe o que é não se importar com o humor do cabelo? Eu tenho tanta dívida para pagar que seria uma tremenda injustiça me preocupar se leram a mensagem mas não me responderam. Eu não quero dedicar meu tempo para quem não me dedica pelo menos atenção.

Eu sou a minha melhor companhia.

Sou quem dá risada sem medir o som, sou quem canta em voz alta no metrô, sou que ignora o mundo ao redor quando estou lendo, sou quem passa batido por conhecidos nas ruas graças aos meus fones de ouvido, sou quem passa horas na loja provando uma outra ou outra peça de roupa – e muitas vezes nem levando, sou quem não se importa no vizinho de poltrona no cinema, sou quem chora ri sozinho quando vê o crédito do vale-refeição acabando no recibo. Eu sou a minha melhor companhia, uma companhia boa de ficar, uma companhia completa porém disposta a encontrar outra para acompanhar, afinal, ninguém é bom o bastante que outro alguém não possa melhorar.

(Autor: Márcio Rodrigues)
(Fonte: eoh.com.br)
*Texto publicado com a autorização do administrador do site

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A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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